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Há quem viva – escreve Truman Capote – de «esfolar mulheres de todas as idades e apetites – vaginas ricas com maridos que se estão nas tintas para quem as come desde que não tenham de ser eles próprios». Mas, atenção – adverte o autor –, isto «é mais duro do que vinte pretos a trabalhar durante um mês numa penitenciária.» Obviamente, fico com pena de Aces Nelson.
Truman Capote (1924-1984) estará sempre associado – e bem – ao jornalismo-ficção e ao romance de não ficção, apesar de outros escritores, como Ernest Hemingway (1898-1961) praticarem, à sua maneira, e em momento anterior, o «estilo Capote»: viver para contar. («De que é que eles estavam à espera? Sou escritor. Utilizo tudo. Será que essa gente julgava que eu estava lá só para os divertir?»). Súplicas atendidas (D. Quixote, 2008), a última obra de ficção de Truman Capote, é uma prova acabada do romance de não ficção, apesar de ser uma amostra do que o autor prometeu durante quase vinte anos. Chamo Capote à baila a propósito de uma interrogação de Pedro Almodôvar, no seu blogue: ao vertermos as nossas experiências nos blogues não estaremos a ser «exaustivos cronistas de nós mesmos»? E acrescenta: «Passando por cima que nenhum de nós possui um grama do talento de Capote, não sei se me parece boa ideia que, com excesso de entusiasmo, nos tenhamos convertido em nossos próprios Capotes». Mas – acrescento eu –, se alguma blogosfera se converteu em«cronistas de nós próprios» - o que cada vez é mais frequente - é o triunfo do estilo de Truman Capote virado para «dentro», o que, mesmo amortalhado, lhe dará muito gozo. No fundo, todos os que vivemos temos muito para contar.