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Antigamente convidava-se para os congressos partidários os partidos e personalidades estrangeiras com afinidade ideológicas. Hoje, parece, os convites correm ao sabor das oportunidades. Eu sei que, por exemplo, o BE gostaria de ter a presença de Hugo Chávez no seu congresso na esperança de que os coelhos se reproduzissem muito mais. Mas Chávez não se deu a essa incómodo. Também sei que no PS há quem pense que a presença de Hugo Chávez no congresso dos socialistas é um «trunfo» contra o crescimento eleitoral do BE. Por isso, convidaram-no. É um erro. Um erro crasso. O Governo português pode e deve ter as melhores relações com o Governo venezuelano e com o seu presidente. Seja por causa do petróleo, do Magalhães ou da comunidade portuguesa naquelas paragens. O PS ao convidar Hugo Chavéz vai, em primeiro lugar, transformar o congresso numa feira; em segundo lugar, confundir os porugueses sobre o que é que o PS quer para Portugal. É que Chávez não é o modesto quadro intermédio do Partido Comunista Chinês que, despercebido, esteve presente no último congresso do PS. Chávez é um espalhafatoso militar golpista, presidente da Venezuela, que vê em Cuba o modelo de «socialismo» para toda a América Latina. A ser verdade que Chávez foi convidado para assistir ao congresso do PS, desde o aeroporto até ao aeroporto, o congresso do PS vai ser o congresso de Hugo Chávez.
As posições do grupo parlamentar do PS, quanto à proposta do BE e do PCP-PEV sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo, é o exemplo mais ilustrativo que conheço da expressão «meter os pés pelas mãos». Começou com a disciplina de voto (quando o «embaraço» de agenda se resolvia à nascença exactamente pela liberdade de voto), obrigando os deputados a votar contra uma proposta sobre a qual, finda a votação, o grupo parlamentar vai apresentar uma declaração de voto a favor do «conteúdo programático» da proposta rejeitada. Não é possível contentar deus e o diabo: fica-se mal com os dois. É elementar.
Não vi (nem ouvi) nada sobre o debate de hoje, na Assembleia da República, sobre a «crise financeira». Mas o João Villalobos deu-me a notícia.
Com a proposta de revisão do Código do Trabalho, o PS «assume uma posição destacada na galeria dos retrógados e reaccionários de todas as épocas».
In Avante, 25.09.08.
O PCP, todos sabemos, regressou aos «clássicos», o que corresponde a dizer que, depois de dois momentos «defensivos» – o que se seguiu ao 25 de Novembro de 1975 e, depois, à Perestroika e à queda do muro de Berlim – voltou à ditadura do proletariado. A sua posição contra o Código do Trabalho, em discussão na Assembleia da República, é coerente: eles não querem aperfeiçoar o capitalismo; querem a sua destruição e, sobre as suas cinzas, erguer uma «sociedade nova», onde um código do trabalho não faz sentido porque quem trabalha é a classe dominante e só os «reaccionários» e os «agentes do imperialismo» falam sobre os direitos dos trabalhadores. O Bloco de Esquerda não sabe bem o que quer: se aperfeiçoar o capitalismo, se o destruir; se deve participar em «governos burgueses» ou não. A pequena burguesia urbana é assim: hesitante. É, ideologicamente falando, um caldo entre «guevarismo» «chavismo», «trotskismo» e outras coisas no género. Não sabe para onde quer ir. Entretanto, o «instinto de sobrevivência» diz-lhe que o melhor é estar contra tudo o que facilite a sobrevivência do capitalismo. Também é, no fundo, uma posição coerente. O PSD (o CDS não conta para nada) não vota a favor, nem contra a proposta do PS de revisão do Código do Trabalho. É uma posição incoerente, semelhante à posição do PS sobre esta matéria há 5 anos. Contudo, a posição do PSD ajuda o PS: a presente proposta de Código do Trabalho não está feito à medida da «direita»; e tanto assim é que o PSD (e o CDS, também) não a vota favoravelmente. Este não é um argumento formal; é substancial. Se não é um argumento substancial, o PSD está de rastos e a pesca em águas turvas vai, mais cedo ou mais tarde, reduzi-lo à expressão eleitoral do PCP e do BE.
João Cravinho não é tido por um leviano, apesar de ter trocado o cargo de deputado (onde podia travar a batalha contra a corrupção) por um lugar na direcção do Banco Europeu para a Reconstrução e Desenvolvimento. Hoje, numa entrevista ao Público e Rádio Renascença, Cravinho informou-nos que a «grande corrupção» está a aumentar. Espero que tenha dados concretos que sustentem as suas declarações e que os comunique ao Ministério Público. Se são só palpites, intuições ou por «ouvir dizer» retira-lhe credibilidade. Há outras maneiras de se manter «vivo» politicamente.
«A previsão mais fácil de fazer» – escreve o Pedro Correia. Estou de acordo. Mas, afinal, a quem é que o Zé faz falta?
Manuel Alegre e a «Corrente de Opinião Socialista em Lisboa» lançam dia 14, segunda-feira, no Hotel Altis, às 18h30, a ops! – Revista de Opinião Socialista–, com o primeiro número dedicado ao tema Trabalho e Sindicalismo.
PS: Desolez nous n’avons pas les mêmes valeurs é uma frase estampada numa t-shirt, verde azeitona, já debotada, que comprei, em Paris, há quase vinte anos, e que sempre me acompanhou nas minhas viagens a Cuba. Mas luto para que todas as vozes se oiçam!
Na mesma semana em que o deputado socialista Manuel Alegre animou uma festa-comício do Bloco de Esquerda, no Teatro da Trindade, o Expresso dá conta da participação de Sá Fernandes, vereador eleito pelo Bloco de Esquerda, em Lisboa, numa reunião da Concelhia do PS, no Largo do Rato, convocada por Miguel Coelho. A distância entre o Teatro da Trindade e o Largo do Rato é mais difícil de percorrer porque é sempre a subir; do Largo do Rato até à Trindade é mais fácil porque é sempre a descer.
Qualquer governo do PS é como um lençol curto: quando se cobre o nariz, os pés ficam frios; quando se cobrem os pés, o nariz fica gelado.