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Um relatório da OCDE elogia a política educativa deste governo para o 1º ciclo. Escreve, preto no branco, que deve ser um caso a estudar por outros países. Sobre isto, o pessoal do costume fez orelhas moucas. Mas, segundo a TSF, ouvido Mário Nogueira: «A Fenprof considera «prematuros» os elogios feitos por um estudo internacional à reforma do ensino escolar, afirmando que a educação estava tão mal, que qualquer medida tomada teria visibilidade». Pois…Pois….
(ADENDA: onde se lê, neste post: «um relatório da OCDE», conforme as primeiras notícias indicavam, deve ler-se: um estudo sobre política educativa para o primeiro ciclo (2005-2008), realizado por peritos internacionais independentes encomendado pelo Governo», como se veio a demonstrar.)
O Governo apresentou um modelo para a avaliação dos professores. Depois de milhentas reuniões com os Sindicatos, das quais resultaram várias alterações ao modelo inicialmente proposto, o Governo legislou. O Presidente da República promulgou. A Assembleia da República rejeitou 5 projectos de lei visando a suspensão da avaliação em vigor. Mário Nogueira, o «patrão» do Sindicatos dos professores, não aceita e declarou ontem: «O que vai acontecer é simples: os professores vão continuar nas escolas a suspender este modelo de avaliação.» É este confronto de ideias, posições e vontades, este conflito de interesses que evidencia a superioridade moral da democracia em relação às ditaduras. Aqui, aos Sindicatos só lhes é permitido defender o que o Governo defende. Veja-se o exemplo de Cuba.
Os professores têm demonstrado ser uma casta (uma «classe» não cabe nos conceitos marxistas do seu dirigente sindical) aguerrida e combativa. Aparentemente atomizados na sala de aulas, evidenciam um espírito corporativo invejável. Hoje realizaram mais uma greve e já nos prometem outra para um dia destes. Até às férias escolares vai ser um regabofe, independentemente dos interesses do ensino e dos alunos. Não aceitam esta avaliação; não aceitam este estatuto dos professores; não aceitam nada. Vão à luta. Não me admiro que, daqui a uma ou duas décadas, sejam referenciados como os obreiros da substituição do ensino público pelo ensino privado. O que, sem ironia, deve ser considerado um bom contributo para a causa da Educação.
Nestes dias, vésperas e dias de Natal, percebe-se melhor do que em qualquer outra altura o significado da luta dos professores. Os hospitais estão cheios de médicos, enfermeiros e outros trabalhadores que não podem passar a consoada com os filhos, com os pais, com quem vivem; os hotéis estão cheios de recepcionistas, bagageiros, empregados de mesas; como os hospitais e os hotéis, as estações de serviço; restaurantes, transportes públicos, táxis; e por aí fora. Ganhar acima da média, sair cedo e ser promovido em função do decurso do tempo e não do mérito são privilégios a que os professores se habituaram. É pela manutenção desses privilégios que os professores lutam, se mobilizam, se manifestam. O resto é conversa fiada.
Hoje voltei a ouvir a voz do senhor Nogueira, na rádio, a propósito da entrega de um
abaixo-assinado de professores. Aquela voz inconfundível de delegado sindical da
construção naval dos anos 70 obrigou-me a reconhecer um erro de apreciação.
Escrevi, aqui, a propósito da última manifestação de professores, que «o PCP cavalga a
onda de descontentamento dos professores». Não é verdade. Quem cavalga quem só
se pode medir pelos resultados. Se o PCP não alterar significativamente o resultado
eleitoral nas eleições do próximo ano, depois desta tenaz luta dos professores,
significa que a frase ajustada à realidade deve ser «Professores cavalgam onda de
descontentamento do PCP».
«A Grécia é nestes dias uma vitrina dramática da crise mundial. O seu povo, assumindo-se como sujeito, confirma com o seu exemplo, que é pelos caminhos da luta de massas e não através dos parlamentos controlados pelos partidos das classes dominantes que o capitalismo estremece, recua e pode ser derrotado».
José Paulo Gascão, Miguel Urbano Rodrigues, Rui Namorado Rosa, in Diário.info
O que Odete Santos fez na SIC Notícias, ainda com o balanço da faena dada aos delegados comunas dias antes, foi expressar o quadro mental de grande parte dos professores, activistas e demais simpatizantes deste puro salazarismo. Os cartazes, frases e gestos ofensivos para a pessoa de Maria de Lurdes Rodrigues espelham a condição a-política de quem se reduz a uma subjectividade que constrói um delírio de perseguição. A violência que salta desta juliana de pessoas de todas as idades e currículos partidários, ou cívicos, é uma esplendorosa celebração da democracia. Porque se a democracia não resistisse aos que ainda não a compreendem, ela nunca teria nascido e chegado até nós.
Valupi, Aspirina B
Ei-los de novo. Em frente, marche, pois marcha que se farta Mário Nogueira, a mão cheia de nada e a outra de coisa alguma. Repete-se, não se enxerga e vai de mal a pior aos olhos de quem desconfia deste perigoso unanimismo. Os sinais estão todos à vista: Nogueira não quer isto, não quer aquilo, não quer este modelo, não se sabe que modelo quer, torce o nariz a tudo o que lhe põem no prato como adolescente enfastiado, a esticar a corda. Não, não se pode respeitar este indivíduo, ar de faia, um pintas todo pintas e esta é, talvez, a única característica digna de registo, a graça que ele tem. Porque quanto ao que sobra, estamos conversados: é o vazio. Convenhamos que a luta dos professores não é outra coisa que resistência natural, desastrosa resistência feita de nada, uma lástima. Basta-me passar os olhos pelo blog do professor Guinote para perceber o que anda no ar. Apoucado, o simbólico professor Guinote escreve que se desunha, posta que posta e torna a postar, passa a vida naquilo, às voltas com a não existência, panfletos, a tomada da Bastilha em forma de histórias de vida, lamentosas, chorosas, «prenhes» de amor pelo ensino, pelos alunos, novelas que mostram o que interessa mostrar.
Na 5 de Outubro, a inépcia política começou no dia em que se imaginou ser possível entregar aos professores, entre pares, um regime de avaliação de desempenho, observado como deve ser observado, avaliado, tal e qual e qual é o problema? É isto e mais aquilo, os titulares, os pares e a palavrinha mágica: colega. Todos colegas, todos iguais a subir na carreira sem mais nem menos, sem distinção ou «castas» como ouvi a uma professora que aqueles professores aplaudiram. A isto se resume a «luta», a resistência, o ovo da pobre serpente. Fui clara?
Tudo deveria ter sido oferecido com outro papel de embrulho menos austero e em certa medida, passe o trocadilho, menos embrulhado. Mais tempo, mais tento, menos pressa. Que pena! Por mim, estes professores «humilhados» mereciam, mereciam? Estão a pedir um Ofsted que lhes endireite a coluna, que os faça perceber que se deve ter cuidado com o que se deseja, que os obrigue a sair dessa cozinha provinciana onde toda a estupidez se concentra e coze em fogo lento.
E agora volto a mim de onde saio quando me apetece para voltar quando preciso, no tempo que preciso.
Parece que o bom senso não é coisa que abunde na cabeça da directora da DREN. Nesta altura do campeonato, ameaçar com processos disciplinares os «professores que pressionem colegas a boicotar o processo de avaliação.» (defina-se «pressionar») é o mesmo que atirar petróleo para a fogueira. A luta é política, não é administrativa-disciplinar.
Mário Nogueira é candidato ao Prémio Stakhanov 2008. Já que o Prémio Nacional do Professor só pode ser entregue a professores.
«A ministra da educação está para o actual sistema público de ensino como Marcello Caetano para o Estado Novo. Se falhar, perante os ultras do sindicalismo e da movimentação, vamos ver quase de certeza, nos próximos tempos, o 25 de Abril educativo que alguns andam a reclamar há anos: autonomia e governo próprio das escolas (já quase toda a gente aprendeu a falar disso), novas formas de financiamento (dirigido às famílias e não aos estabelecimentos de ensino), integração de escolas estatais e privadas num mesmo sistema público concorrencial, avaliação de escolas e professores baseada nos resultados dos exames, e por aí fora. É o que falta experimentar, e há-de provavelmente ser experimentado. Mais não seja, por simples falta de alternativa, depois do colapso das actuais reformas.
Os sindicatos e movimentos de professores, se vencerem o ministério, estão condenados a cair com ele, como aconteceu aos sindicatos e aos movimentos que em Inglaterra, em 1979, destruíram o governo de James Callaghan. Sem a obstinada e turbulenta resistência sindical às reformas do gabinete trabalhista, num país então estagnado como está agora Portugal, não teria sido possível a revolução thatcheriana da década de 1980. As grandes mudanças começam sempre assim, por linhas tortas.»
A última aula deste sistema de ensino, Rui Ramos, Público, 19.11.08.
- Menino Joãozinho porque chegou atrasado à aula?
- Professora, estive ali na rua a atirar uns ovos aquela gaja, a ministra.
- Menino Joãozinho, menino Joãozinho!
- Senhora professora, senhora professora!
Nunca estive numa daquelas manifestações que enchem o Terreiro do Paço, como esta de sábado passado, onde se reuniram os professores. Dizem-me quando se juntam tantas vontades é porque lhes assiste a razão. Mas, se a memória não me prega alguma partida, Oliveira Salazar e Marcelo Caetano também encheram o Terreiro do Paço de manifestantes que os apoiavam. Outros tempos, talvez. Outras vontades, também. Além disso, não valorizo manifestações a favor de governos, mas contra os governos. Estas, para mim, são as manifestações a sério. Por isso, sempre estranhei o facto de, no Malecón de Havana, só se realizarem manifestações de apoio ao governo cubano. E na Praça Vermelha, em Moscovo, no outro tempo, também. E todos sabemos o que aconteceu na Praça Tianamen, em Pequim, quando uns jovens chineses se manifestaram contra o governo. É, por isso, que é muito importante que se realizem manifestações contra os governos. No Terreiro do Paço, em Lisboa; no Malecón de Havana ou na Praça Tianamen, em Pequim. É a democracia a funcionar. Manifestações de apoio a governos só quando a democracia está em causa: foi o caso da manifestação que encheu o Terreiro do Paço, em Agosto de 1975. Aquela em que Pinheiro de Azevedo, da varanda, disse: - é só fumaça. Mas, no fundo, não se tratou de uma manifestação de apoio ao governo, mas contra o gonçalvismo que, estrebuchante, ainda tentava que no Terreiro do Paço nunca mais se realizassem manifestações contra os governos. Mas o gonçalvismo foi derrotado e hoje, passados mais de trinta anos, temos a sorte de se realizarem manifestações contra os governos. Há quem só olhe para o umbigo e esqueça coisas elementares.
Os professores estiveram ontem na rua. Vieram de todo o país para manifestarem o seu descontentamento. Independentemente das razões, a realização de uma grande manifestação de protesto é sempre um sinal de saúde de uma democracia e da liberdade. Quanto ao fundo da questão, a não ser que haja reserva mental, não há uma única voz, nos professores e nos dirigentes sindicais, contra a avaliação dos professores. Esta unanimidade à volta da necessidade de avaliar o trabalho dos professores é meio caminho andado. O protesto generalizado é, apenas, o que não é pouco, contra a avaliação proposta pelo Governo. É, pois, contra este modelo de avaliação. Os professores querem ser avaliados, não desta maneira, mas de outra. O problema é saber qual é a outra maneira. Pelo andar da carruagem, e porque nunca se encontrará a outra – a que agrade a gregos e troianos –, o que me parece que está em causa é a própria avaliação dos professores. O Governo, esse, vai ser avaliado por todos no próximo ano.
«Uma das razões, porventura a mais forte, que contribui para a imagem que se tem hoje dos professores, o desrespeito de que são alvo por parte de alguns alunos e encarregados de educação, sobretudo de gente menos avisada, deve-se às políticas sindicais protagonizadas pelo sindicalista Nogueira, que transformaram uma classe digna em carne para canhão de políticas reivindicativas antigovernamentais. Hoje olha-se para um professor e vemo-lo colocado ao nível de um administrativo ou um auxiliar de educação. É a tendência para o basismo total.»