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Militante do PCP denuncia o terrorismo das FARC. O Comité Central dos comunistas ainda não decidiu a sua expulsão. Será este o ponto de partida para a institucionalização do direito de tendência dentro do Partido?
O PCP pensa que quem elegeu Manuel Coelho para a presidência da Câmara de Sines foram os militantes comunistas, em votação de célula, e não os eleitores de Sines. Por isso, «exigem» que o autarca alentejano coloque o «lugar que não lhe pertence à disposição». Sabemos que em Cuba e na Coreia do Norte é assim: os «lugares» pertencem ao «partido». Aqui, em Portugal, não é assim, como não é assim em qualquer democracia. Por cá, são os eleitores e não o «partido» que elegem os seus representantes políticos. Nas próximas eleições são os eleitores que dirão de sua justiça.
Na semana passada, 4 dirigentes do Sindicato dos Professores do Norte demitiram-se do PCP. Entre eles, Júlia Vale, membro do secretariado nacional e do conselho nacional da Federação Nacional dos Professores (Fenprof), acusou o «partido» de se imiscuir na vida do Sindicato. Como se isso fosse novidade. Sabemos que estas demissões do PCP são sempre dolorosas para quem sai e resultam de um processo mais ou menos longo de divergências «ideológicas» ou devido ao excesso de intromissão e de «centralismo» do «partido» na vida e na actividade profissional, sindical e pessoal dos seus militantes. O que hoje denunciam não novo, mas há um momento em que lhes «salta a tampa». Com Júlia Vale abandonou também o «partido» Manuel Macedo, coordenador do mesmo Sindicato, e dois outros dirigentes sindicais: Adriano Teixeira de Sousa e Carlos Midões. Todos eles estavam em ruptura com o PCP há quase dois anos, mas só agora consumaram a demissão. Hoje, foi anunciada a demissão de Manuel Coelho, presidente da Câmara de Sines e militante comunista há 35 anos. Os motivos evocados são os mesmos: intromissão do «partido» nos assuntos da autarquia que dirige. E desabafou: «Concluo que este partido está impregnado de um conjunto de características típicas de organizações dogmáticas, com disciplina de caserna, que o tornam uma organização estalinizada, com práticas reaccionárias, envolvidas de um discurso pretensamente progressista, mas, de facto, retrógrado». Manuel Coelho só agora teve coragem de dizer o que todos sabemos, mas é sempre bom ouvir da boca de quem lá esteve 35 anos.
Dizem-me que o Benfica pode passar à fase seguinte da Taça UEFA se ganhar, no próximo jogo, a uma equipa ucraniana, pelo menos, por 8-0; também me dizem que Jerónimo de Sousa, no congresso do seu partido, disse que o PCP chegaria ao poder quando o povo quiser. Para mim, naturalmente crédulo, tudo é possível!
Encafuaram-se por uns tempos, na ressaca da implosão do muro, a choramingar a queda do império – do seu império. Passado o luto, pensam que pastorear os professores é suficiente para reerguer o império no estertor do capitalismo. Subiu-lhes a arrogância, tal com há trinta e tal anos, e babam-se de raiva só de saber que existe mais do que uma opinião. Educados numa organização de tipo militar, agindo em nome de quem não lhes dá representação, onde acham natural não lhes ser conferido o direito de opinião, aliviam a opressão de que são vitimas ofendendo e difamando quem não aceita ser reprimido por ter opinião e a expressar livremente. Os exemplos multiplicam:
Pedro Rolo Duarte.
Jerónimo de Sousa, no seu discurso de encerramento do congresso, nos vivas finais, não se referiu à classe operária, mas aos trabalhadores e ao povo. Apesar de se compreender a nuance, destinada a não hostilizar os segmentos mais mobilizáveis pelo PCP – professores e funcionários públicos –, não deixa de ser uma cedência ideológica à pureza marxista-leninista do partido.
Realizou-se este fim-de-semana, em Lisboa, mais um congresso – o XVIII – do Partido Comunista Português, onde estiveram presentes 1 500 delegados. Discutiram. Elegeram os órgãos dirigentes. Definiram as políticas e as estratégias. A democracia é assim: a realização de congressos partidários é um acto político normal. Mesmo para os partidos que sonham e lutam por regimes em que os partidos políticos não têm existência e onde só se permite o congresso do partido que detém o poder. Esta é a superioridade moral da democracia.
Rui Bebiano homenageou o XVIII Congresso com a piada nº 2376. Eu rendo a minha homenagem com a piada nº3479.
Quando, em meados de 1975, Amália Rodrigues actuou em Moscovo, Leonid Brejnev, que assistiu ao concerto na primeira fila, no final fez questão de cumprimentar a fadista. Ao entrar no camarim, quis agradecer a Amália com um beijo na boca, como é hábito entre os russos. Ao que esta lhe terá dito: só me beijas na boca se me prometeres que deixas sair da União Soviética todos os cidadão que o desejarem. Brejnev ter-lhe-á respondido: marota, já percebi que queres ficar cá sozinha comigo.
Há encontros e encontros que, mais dia, menos dia, numa qualquer esquina do caminho, se encontrarão.
Em 14 de Janeiro de 1975, o PCP convocou uma manifestação em defesa da unicidade sindical. Nesse dia, em comunicado, a Comissão Política do CC do PCP, escrevia:
«A unicidade sindical foi amplamente discutida pelas massas trabalhadoras. Ninguém de boa fé pode contestar a esmagadora aprovação que lhe foi dada. Esta aprovação e as novas adesões que a todo o momento se vão registando da parte do movimento popular fazem da consagração da unicidade sindical a expressão de uma vontade do povo democraticamente manifestada. A manifestação que hoje tem lugar em Lisboa deve ser olhada corno uma inequívoca afirmação da vontade dos trabalhadores de que a unicidade sindical seja inscrita na lei.»
A manifestação convocada pelo PCP encheu as ruas de Lisboa. Em resposta, a 16 de Janeiro, num comício do PS, Salgado Zenha, não se atemorizou e enfrentou a «rua», afrontando a unicidade sindical, a qual não foi consagrada na lei, como «a vontade do povo democraticamente manifestada» exigia. Naqueles dias, dizer, como Manuel Alegre diz hoje, «não se pode tapar os ouvidos aos protestos» tinha sido fatal para a democracia. E o ontem e o hoje podem não ser muito diferentes. Sejamos claros, se alguém mudou não foi o PCP.
Vítor Dias pensa que me impressiona com manifestações de 100 000 professores, como se eu não conhecesse as manifestações de um milhão de pessoas convocadas, em Madrid, pelo PP do senhor Rajoy. A razão – e, sobretudo, quando se trata de uma luta corporativa – não se mede em número de manifestantes. Foi pena o 7 de Novembro não ter calhado a um sábado. Os professores teriam comemorado o 91º aniversário da revolução de Outubro…
Ou como escreve o meu amigo Lauro António:
«Eu sei que não é politicamente correcto concordar com esta conclusão, por demais óbvia, mas custa-me ver uma classe que tem dentro de si tanto e tão bom material humano, ser amesquinhada diariamente mercê de uma política sindical de todo em todo mal conduzida.
Os professores – classe a que desde sempre me orgulhei de pertencer! - eram uma das classes mais prestigiadas em Portugal, antes desta inglória polémica, onde ninguém tem a razão absoluta pelo seu lado, mas onde a actividade oratória do sindicalista Nogueira coloca a maioria do lado oposto aos professores. O Ministério da Educação não poderia ter melhor aliado. É que já se sabe sempre, com dias de antecedência, o que a "cassete" vem dizer. O desprestígio da política é total em casos como este.»
Estou deliciado com a leitura de O socialismo traído, de de Roger Keeran e Thomas Kenny (Edições Avante, Setembro de 2008). O PCP vai aí beber muito da sua «visão» sobre a hecatombe da URSS. E por isso não consegue ver para além da ponta do nariz. Os autores, num esforço acrítico, escrevem que Gorbatchov reduziu o «PCUS à impotência, transformando-o numa espécie de departamento consultivo de planeamento estratégico da sociedade soviética» (pág. 176). Com mais algum esforço teriam percebido que não foi Gorbatchov que «reduziu» o PCUS a um «departamento consultivo». Foi o «centralismo democrático» – concebido, inicialmente, para resistir nas condições difíceis do czarismo, permaneceu intocável. De Lenine até Gorbatchov. A democracia interna nos partidos comunistas é, pois, uma treta. Ou melhor, é uma rolha. Qualquer voz discordante é decapitada. O último líder do PCUS no poder apenas usou a rolha para, num ápice, fazer cair o castelo de cartas. Nada mais simples.
O partido comunista da Venezuela está entre a espada e a parede: apoia a «revolução anti-imperialista» de Chávez, mas este classifica os comunistas como contra-revolucionários. Óscar Figuera, secretário-geral dos comunistas venezuelanos, reagiu e «explicou que nenhuma revolução se pode considerar como tal se se revestir de traços anticomunistas» (Avante, 16.10.09). Ora, se Chávez quer acabar com o partido comunista da Venezuela (ameaçou fazer desaparecer o PCV do mapa político), logo não há «revolução anti-imperialista» na Venezuela. Não tarda muito, o PCP vai começar a chamar ao amigo de Fidel Castro um contra-revolucionário que confunde Lisboa com Havana... São as teias que as «frentes populares» tecem.
«Esta crise, como todas elas – para quem as veja com a objectividade marxista-leninista – encerra lições.»
Editorial do Avante, 09.09.08.
Jerónimo de Sousa, ontem no Porto, pediu o controlo do Estado, «por aquisição ou nacionalização, dos sectores estratégicos, para que possa defender-se de crises como a actual». O secretário-geral do PCP ainda não percebeu o que se está a passar, neste momento, no «mundo capitalista», como ainda não percebeu o que levou à derrocada do «mundo socialista». Quando perceber o que aconteceu na antiga União Soviética pode ser que compreenda as «nacionalizações» em curso na actual «crise financeira».