Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
José Pacheco Pereira é uma das mais interessantes personagens da cinematografia política portuguesa. Deambulou, empenhado, pela mediocridade do aparelho partidário e defendeu com unhas e dentes a «imaculada» maioria absoluta cavaquista. Desde aí, está na oposição. Na oposição propriamente dita e, também, na oposição no partido que escolheu como seu. Atira-se ao presidente do seu partido (o anterior, naturalmente) com a mesma agressividade felina com que se atira aos opositores externos, ao Governo, a jornalistas e outros «infiéis». É um propagandista, no bom estilo marxista, quando usa a comunicação social e um exímio agitador leninista quando usa o blogue. E quando lhe desaparecem os opositores, ele inventa-os. Vê o mundo a preto a branco, cada vez mais. Mas é um bom historiador. Do comunismo, principalmente. Leio com agrado e concordância tudo o que escreve: sobre Cunhal e o PCP ou o maoísmo. Ainda no último domingo, no Público, escreveu um excelente texto sobre Stella Piteira Santos. Contudo, penso que é nesta sua faceta histórica, é nos seus estudos sobre o comunismo, que reside o mal dos seus pecados políticos. É aqui que ele alicerça a sua visão do mundo a preto e branco. Para ser mais rigoroso, Pacheco Pereira já tinha feito a primeira comunhão na adolescência, no maoísmo. E prosseguiu, quase inconscientemente, tomando repetidamente a hóstia, através da história do comunismo. No fundo, Pacheco Pereira é um comunista (na análise, na metodologia e na luta política) estilo vintage. Escolheu o PSD para travar os seus combates. Outros escolheram o PCP, e outros optaram pelo Bloco de Esquerda. Mas, em democracia, cada um escolhe o partido que lhe dá na gana.
Vai para aí uma ladainha, sobretudo dentro do PSD, por causa da escolha de Santana Lopes para candidato à Câmara de Lisboa que até parece que o homem não é do PSD. Apenas, porque Manuela Ferreira Leite resolveu a tempo um problema, antes que o «problema» lhe caísse em cima: se convidasse as pessoas sugeridas por Pacheco Pereira ia de recusa em recusa, conforme declarações dos próprios (e como aconteceu a Marques Mendes), até que, enfraquecida, enquanto líder e enquanto oposição, agarrava o primeiro Negrão que passasse num corredor do Palácio de São Caetano à Lapa.
«Pacheco Pereira faz essas declarações na sua qualidade de comentador para a qual é pago. Já nos habituou que, para continuar a ter valor de mercado, tem de dizer mal das pessoas»
Carlos Carreiras, presidente da distrital de Lisboa do PSD.
«Cravinho tem razão em tudo o que diz e na urgência com que o diz. Já não tem razão em muitas das suas propostas que reforçariam o já hiper-reforçado estado judicial e diminuiriam direitos, liberdades e garantias que nem a luta contra a corrupção justifica. Tomadas à letra, inverteriam o bom princípio da presunção da inocência que obriga o estado a provar o crime e não o individuo a provar a inocência. Num país como Portugal levariam, a breve prazo, ao seu uso para perseguições políticas ad hominem, mesmo sem qualquer substância num crime.»
José Pacheco Pereira, na Sábado.
«Um dividiu-se em dois» (Aletheia, 2008) é um título bem encontrado para enquadrar as origens dos movimentos pró-chineses, entre 1960 e1965, de José Pacheco Pereira. Lê-se num ápice. Escrita enxuta, equilibrado nas citações, depurado do acessório. É quanto basta para ser lido fora dos círculos de «especialistas» e «interessados». Aguarda-se a continuação: a segunda vaga de movimentos pró-chineses. Na primeira vaga, os comunistas (militantes com créditos firmados nos PCs pró-soviéticos), que estiveram na origem da cisão, desacreditaram-se (Grippa pelo seu apoio a grupos resultantes de provocações policiais) ou foram presos (Francisco Martins Rodrigues). A segunda vaga nasce da revolução cultural chinesa e do Maio de 68. Os «velhos comunistas» dissidentes cederam o seu lugar a dirigentes do movimento estudantil, na maioria dos casos sem qualquer ligação «de classe», ideológica ou de cultura política aos comunistas pró-soviéticos. Mil flores desabrocharam. Esperemos, então, o próximo volume.