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Barack Obama assinou, ontem, ordens consagrando o fecho de Guantánamo no prazo de um ano e o fim das prisões secretas da CIA no exterior; proibiu a tortura e levantou as restrições ao financiamento governamental de organizações que forneçam serviços de aborto,
A minha dúvida, neste momento, é a seguinte: Barack Obama vai mudar a América ou a América vai mudar Barack Obama?.
Barack Obama é um supositório envolto em areia grossa para a esquerda radical que hoje se babou com a tomada de posse do presidente norte-americano.
A tomada de posse de Barack Obama arrumou, em termos mediáticos, com o funeral de Lady Di. Uma coisa é Elton John; outra é Arehta Franklin. E 2 milhões de almas a assistir ajudam muito. Obama é um «animal político». Demonstrou-o durante a campanha eleitoral, nas escolhas do governo e no discurso de tomada de posse. E, hoje (depois do descalabro da «liderança» financeira, sem rei, nem roque), é necessário que a política volte ao posto de comando. Depois da tomada de posse de Obama, a América nunca mais voltará a ser o que foi. E muito menos o que foi nos últimos 8 anos. Quanto ao resto ficamos à espera.
El País dá conta de uma gravação áudio da Al Qaeda a dar as «boas-vindas» a Obama, como presidente dos Estados Unidos: «Um escravo negro que serve os brancos» é o «elogio» mais ligeiro. Por cá, sei que já li qualquer coisa do género, mas não me recordo onde?
Barack Obama é presidente dos Estados Unidos da América. Este facto é, só por si, uma mudança. Mudança da «percepção» que os americanos tem de si, enquanto povo. A dimensão da participação eleitoral e a dimensão da vitória reforçam esta mudança. A mudança exteriorizou-se com Obama. Resta saber se está para além de Obama.
Reynolds Price, escritor e professor universitário, autor da Introdução aos Contos Completos, de Truman Capot (Sextante Editora, 2008), escreve: «a América nunca foi um país de leitores» de ficção literária. Quem não soubesse isso de fonte limpa, pelo menos adivinhava. E acrescenta que, no século XX, «apenas dois notáveis ficcionistas lograram penetrar na maior parte dos lares americanos – Ernest Hemingway e Truman Capot». Ambos chegavam através das revistas Life, Look ou Esquire. Ora, quer Hemingway, quer Capot, não eram exactamente a respeitável Corín Tellado. Nenhum dos dois, cada um à sua maneira, «encarnava» o «espírito» e a «ambição» da classe média norte-americana. Aliás, cada um deles se suicidou, também, à sua maneira: um com uma bala na cabeça; outro com álcool e drogas. No entanto, a acreditar em Reynolds Price, foram os únicos ficcionista que «penetraram na maior parte dos lares norte-americanos». Será que Obama está a beneficiar de um efeito ao retardador?
Esta fotografia é de hoje, 29.10.08 (El País): quando um candidato às presidenciais norte-americanas se apresenta, numa acção de campanha, a 6 dias das eleições, de ténis, jeans e blusão; quando esse candidato é negro; e quando esse candidato é o melhor colocado nas sondagens para ocupar o cargo de Presidente dos Estados Unidos, é caso para dizer que os «costumes» do povo norte-americano estão em acelerada mudança. Será que o extremista George Bush enterrou definitivamente a «América» conservadora que o sustentou durante dois mandatos?
No quadro – interno e externo – em que vive, neste momento, os EUA, Obama (mais do que ele próprio, pelo que representa) está em melhores condições do que McCain para ajudar o EUA a tirarem o pezinho da lama. Mas, Obama, nos debates não tem o fôlego dos maratonistas. É muito melhor a falar sozinho.
«Enfim, afigura-se que McCain vai ganhar. Felizmente.»
Vasco Graça Moura, DN, 17.09.08.
Um estudo demasiado conveniente, de Pedro Sales (Zero de Conduta).