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Amanhã, 3 de Junho, às 18h30, na Bertrand do Chiado, será apresentado o livro Portugal dos Pequeninos, de João Gonçalves. Como escreve no prefácio Medeiros Ferreira: o autor deixa nestas crónicas uma marca de água de autenticidade e desassombro. Para quem conhece o João Gonçalves e para quem lê o Portugal dos Pequeninos sabe que é verdade. E, o mais importante, é que o seu estilo «mata-mouros» e o seu espírito livre e sem teias de aranha são um bom contributo para pôr as algumas «coisas» no devido lugar. Voltarei ao livro depois da sua leitura.
Gasolina (Teorema), de Quim Monzó (Barcelona, 1952);
Cabeça a Prémio (Quetzal), de Marçal Aquilino (Amparo, S. Paulo, 1958).
De Cada Amor tu Herdarás Só o Cinismo (Quetzal), de Artur Dapieve (Rio de Janeiro, 1963);
A Ofensa (Porto Editora), de Ricardo Menéndez Salmón (Gijón, 1971);
Blues de Um Gato Velho (Teorema, 2009), de Óscar Málaga Gallegos, é uma história de amor, mágica e triste, como devem ser todas as histórias de amor. O autor, um escritor peruano (Lima, 1946), viveu na China, onde leccionou Cultura Latino-Americana e Língua Espanhola. Aí partilhou o destino com uma rapariga do sul da China, Sha Li Pi, que lia Charles Bukowski na versão original e lhe entrou pela vida dentro, em Pequim, na carreira de autocarro 302: «antes que a minha erecção a surpreendesse, pedi-lhe desculpa». A partir daí, numa narrativa poética, o amor, a traição, a magia e o gato esmagado contra a parede (que depois de morto empreendeu uma longa viagem até ao Egipto) desenvolvem-se ao veloz ritmo latino-americano, mas com a serenidade oriental. Numa sensualidade em permanente reflexão. «E escrevi este livro. Para vencer o destino que calha aos homens que estão sempre a olhar para o mar».
Teoria da Viagem – Uma Poética da Geografia (Quetzal, 2009), de Michel Onfray (1959), é uma reflexão sobre o «desejo da viagem». O autor, doutorado em filosofia, parte de Abel e Caim, o pastor e o camponês, o nómada e o sedentário, para conduzir uma explicação filosófica, histórica, religiosa e ideológica sobre a partida e o viajante. Este desafia o poder de quem o quer amarrar à imobilidade: «A arte da viagem exorta a uma ética lúdica, a uma declaração de guerra ao controlo e à cronometragem da existência». Pelo caminho, o autor contraria as teses da prevalência da imagem sobre a palavra na escolha do destino: «o desejo de viagem alimenta-se mais de fantasmas literários ou poéticos do que de propostas indigentes devido à sua excessiva semelhança com um a realidade sumária. Uma mera linha de um autor mesmo que mediano desperta mais o desejo pelo lugar descrito do que fotografias ou mesmo filmes, vídeos ou reportagens». Michel Onfray, que defende que não há filosofia sem psicanálise, num texto muito sintético e bem estruturado, vai ao ponto de definir o momento da partida: dar a volta à chave de casa – já não estamos no lugar abandonado e ainda não estamos no lugar desejado. Em síntese: «a viagem deriva mais do convite socrático a conhecer-se a si próprio do que da escalada do Gólgota».
Há livros com muita memória. Sei que o meu amigo Ricardo Paula ainda lê às filhas Os Contos de António Botto, usando uma edição de 1935. Esta edição foi «aprovada por sua Eminência o Senhor Cardeal Patriarca D. Manuel Gonçalves Cerejeira». Como escreveu Pessoa: «Nos seus versos há o infinito da alma. Nos Contos, a necessária disciplina condicionada à política do que é preciso lisonjear... Você é um grande artista.»
Os livros são todos iguais, mas há uns mais iguais que outros. Há livros nas minhas estantes que nunca li ou, pelos menos, não os li até ao fim; há outros que folheio página a página, demoradamente, vezes sem conta, como quem fala com um amigo. Tenho entre mãos Canções, de António Botto, edição de 1921. (Já não sei se o encontrei num alfarrabista, se foi Mário Viegas que me ofereceu. Ou foi o Juvenal Garcês?). As referências à obra dizem que esta edição é de 1922, mas o meu exemplar, rubricado pelo autor, diz que foi impresso em Fevereiro de 1921. Dizem, também, as ditas referências, que foi publicado pela fugaz editora de Fernando Pessoa – Olisipo. Não sei. Não encontro no livro nada que me dê essa indicação. Mas, da releitura, neste momento, anoto: «Se me deixares, eu digo /O contrário a toda a gente; / E, neste mundo de enganos/ Falla verdade quem mente.»
António Barreto, em entrevista à Ler, produziu uma daquelas frases lapidares que cativam todos os amantes do livro e da leitura: «O “Magalhães” é o maior assassino da leitura em Portugal». Não estou tão certo disso, apesar de alguns dos meus amigos, sobretudo aqueles que mais estimo e considero, aceitarem o slogan sem pestanejar. António Barreto está limitado ao seu pequeno mundo elitista, universitário – uma minoria; e, no pequeno mundo em que habita, a frase faz sentido e pode, até, fazer escola. Mas, há mais mundo para além do seu pequeno mundo. Sobretudo há o mundo das empresas e do trabalho – o maioritário. E se há coisa que eu detesto é ver um jovem licenciado em Estudos Portugueses ler todas as novidades literárias, escrever à mão em imaculadas folhas de A4 brancas, sem conseguir distinguir o Word do Adobe, mas a viver atrás de um balcão da Zara. Nos dias que correm, pode dizer-se, com propriedade, que o Governo – este ou qualquer outro – deve investir tanto no livro e na leitura como na formação tecnológica; pode dizer-se, também com propriedade, que este Governo – talvez mais do que qualquer outro que o antecedeu – varre a cultura (onde se integra o livro e a leitura) para debaixo do tapete. Mas, a partir daqui encetar uma cruzada contra o que o «Magalhães» representa, enquanto iniciação à informática, às tecnologias, ao quotidiano, é um apelo às «trevas»: um trágico apelo à desqualificação profissional e ao desemprego. A frase de António Barreto é «bonita», é «universitária» mas, interpretada à letra, apenas conduz à desqualificação e ao empobrecimento de Portugal e dos portugueses.
«Quando conheci Haruki, ele me falou de um poema que dizia: mesmo em Kyoto sinto saudades de Kyoto.»
Pastoral Portuguesa, agora publicado pela Quetzal, de Rogério Casanova, reúne os textos publicados no blogue com o mesmo nome entre Agosto de 2006 e Novembro de 2008. «Todos eles foram escritos a partir do acesso a quantidades inacreditáveis de tempo livre.»
Uma Noite com o Fogo (Quetzal, Fev. 2009, 144 pp.), de António Manuel Venda, decorre apenas durante algumas horas, no Verão de 2004, quando o fogo andou à solta na serra de Monchique.
Na próxima terça-feira, dia 24, na Fnac do Chiado, pelas 18h.30, será apresentado o livro de Tony Bellotto, Um Caso com o Demónio (Quetzal Editores).
A Oficina do tempo, de Álvaro Uribe (Cidade do México, 1953), agora traduzido para português, pela Quetzal Editores, é um daqueles romances que atiça o prazer da leitura. Uribe maneja o tempo e a narrativa no conflito e nos «pecados» de três gerações. «Os homens crêem que uma mulher primeiro deixa de amá-los e depois faz amor com outro. É ao contrário» – diz Amélia.
Por Amor e outros Poemas (Papiro Editora), de Torquato da Luz (Alcantarilha, Silves, 1943) será apresentado na Livraria Barata, na Av. de Roma, no próximo dia 28, às 17:30 horas.
A Quetzal acabou de editar Breviário Mediterrâneo, de Predrag Matvejevitch. A tradução é de Pedro Támen. O Autor nasceu na Bósnia-Herzegovina, filho de pai russo e mãe croata, abandonou a Jugoslávia após a queda do muro de Berlim. Dele dizem que «repensou a fundo e renovou com grande originalidade a concepção sartriana sobre o compromisso e a liberdade da literatura.» O Breviário Mediterrâneo é uma narrativa literária, ao mesmo tempo poética, geográfica e histórica. Uma narrativa de viagens onde Matvejevitch nos transmite a sua vasta cultura e vivências sobre o Mar Mediterrâneo, procurando a relação entre «a Europa, o Magrebe e o Levante; judaísmo, cristianismo e Islão; o Talmude, a Bíblia e o Corão; Atenas e Roma; Jerusalém, Alexandria e Constantinopla.»