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Como era previsível, a «revolução grega» está a evoluir para formas «superiores» de luta. A esquerda eclética pós-moderna também.
Nuno Ramos de Almeida, no seu erudito saber, cita Mike Davis, um historiador «marxista» com muito «interesse», para nos explicar como a «fagulha grega» pode incendiar a pradaria. Mas, com todo o respeito, nem um nem outro têm razão. «A revolução grega» e o «regresso a Marx», ultimamente tão propalados, estão intimamente ligados. Ou seja, não há nenhuma «situação revolucionária» na Grécia (mas tão só desacatos politicamente inconsequentes, os quais não resolvem um único dos problemas que os sustentam, antes pelo contrário – é como meter areia na vaselina); como não há nenhum «regresso a Marx», porque Marx morreu (25 anos depois da 1ª edição do Manifesto do Partido Comunista já Marx o considerava envelhecido, ultrapassado pelos acontecimentos. Então hoje, passados 150 anos, o que ele diria de toda a sua obra e, sobretudo, da sua «aplicação»?) O único marxista que resistiu à morte de Marx foi Engels. O resto tem pouco ou nada a ver com Marx. É leninismo, trotskismo, estalinismo, maoismo, castrismo. É só ver como a defunta URSS se desenvolveu e acabou ou olhar para Cuba, Coreia ou China para perceber que o marxismo morreu com Engels. A ressurreição do passado não é exactamente uma «teoria» marxista (18 de Brumário?). O que se passa hoje, na Grécia, em Portugal ou em qualquer outro país é uma situação típica, mil vezes repetida no último século e meio, em situações como a que vivemos: representantes da classe média – a pequena burguesia –, radicalizados pelas dificuldades que as crises do capitalismo lhes provocam, excitam-se facilmente ao menor sinal de contestação. São impacientes, desorganizados. Têm orgasmos múltiplos. Onde está Marx nestas alucinações? Onde está a revolução? Na Grécia? Ou no Afeganistão: não esquecer que os talibans combatem o imperialismo norte-americano. E quem vai tomar o poder na Grécia? O «proletariado» ou a minha prima Hermenegilda que em tempos foi do MRPP? Uma farsa – diria Marx.
Estive «fora» dois ou tês dias. Há novidades dos putos que encabeçaram a «revolução
grega» ou aquilo acabou tudo em águas de bacalhau?
Há por aí uma malta que tem orgasmos múltiplos mal vê uma imagem de uma centena
de estudantes concentrados numa rua de Atenas. Se essa malta voltar a ler Platão
percebe que a vaselina tem areia.
A minha prima Hermenegilda é uma mulher desapaixonada, ao ponto de se lhe azedar os dias e se lhe avinagrar cada uma das palavras. Apesar de estar a roçar os cinquenta anos – diz ela, mas pelas minhas contas deve estar muito perto dos sessenta –, ainda é uma mulher vistosa: as mamas generosas, apesar de descaídas, as pernas esguias, o rabo arrebitado, sobretudo quando enverga jeans, e o ar blasé conferem-lhe um charme entre o balzaquiano tardio e uma «mulher da esquerda radical» à antiga (digo à antiga para não se confundir com o estereotipo Joana Amaral Dias). A vida dela está feita num fanico – a sua infelicidade interiorizada como destino é projectada nos demais cidadãos deste país. O resultado é que odeia tudo o que dá felicidades aos outros: futebol, férias, centros comerciais e por aí fora. A minha prima tem um percurso de vida à medida do azedume que lhe ferve na boca. Frequentou a faculdade de letras, mas não acabou o curso – dedicou-se ao teatro. Foi sol de pouca dura, apenas serviu de desculpa para os insucessos universitários. Naqueles anos, de
*post readaptado.
É impressão minha ou o radicalismo pequeno-burguês luso está a ficar grego?
«A Grécia é nestes dias uma vitrina dramática da crise mundial. O seu povo, assumindo-se como sujeito, confirma com o seu exemplo, que é pelos caminhos da luta de massas e não através dos parlamentos controlados pelos partidos das classes dominantes que o capitalismo estremece, recua e pode ser derrotado».
José Paulo Gascão, Miguel Urbano Rodrigues, Rui Namorado Rosa, in Diário.info