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Faz por estes dias 40 anos que 200 000 soldados e 5 mil tanques soviéticos, sob a capa do «Pacto de Varsóvia», invadiram a Checoslováquia. O processo de democratização do regime foi interrompido à força. Dubcek, secretário-geral do PC foi levado para Moscovo e destituído das suas funções. Bastaram apenas duas décadas para os ares de mudança de Praga chegarem até Moscovo.
Em Outubro desse ano, o Avante transcrevia uma Declaração dos comunistas portugueses, onde se lia:
«O PC Português entende que os marxistas-leninistas não podem contestar em princípio a legitimidade revolucionária de uma intervenção de países socialistas noutros países socialistas a fim de defenderem as conquistas do socialismo, impedirem a contra-revolução, assegurando ao mesmo tempo a defesa do campo socialista no seu conjunto»
Ismaïl Kadaré é um romancista albanês nascido em 1936. Estudou em Tirana e em Moscovo. O seu primeiro romance, O general do exército morto, publicado em 1963, narra as peripécias e as adversidades de um general italiano em busca dos soldados italianos mortos e enterrados, em terras albanesas, durante a «II Grande Guerra». É, de certo modo, um romance de culto entre os maoístas no final dos anos sessenta, princípios dos anos setenta, sobretudo pela caracterização do «indomável» povo albanês, numa altura em que o regime de Enver Hodja afrontava o todo poderoso partido comunista da URSS. Mas, Ismaïl Kadaré, apesar de ter sido deputado da Assembleia Popular de Tirana durante doze anos (1970-1982), assumiu a crítica, muitas vezes mordaz, ao regime comunista, na versão do país das águias. A filha de Agamémnon e o Sucessor – este escrito 20 anos depois do primeiro – publicado este ano em português (Dom Quixote) constitui um retrato literário da paranóia das ditaduras comunistas: da redução da dignidade humana e da liberdade individual a esterco, em nome dos «supremos interesses do partido» que, no fundo, mais não são que os interesses de um ditador e da nomenclatura que, diariamente, se humilha ao seu serviço para não descer à «profundezas do abismo». Estes dois curtos romances de Ismaïl Kadaré continuam actuais. Em Cuba ou na Coreia do Norte, por exemplo. Mas, também, porque há, entre nós, quem nos quer vender este «produto».
PS – Na leitura do Sucessor, lembrei-me, em várias passagens, de Carlos Carvalhas.
As duas primeiras notícias do Púbico online, neste momento, são as declarações de Jerónimo de Sousa sobre o projecto do Código do Trabalho, em Portugal, e as declarações de Mugabe sobre a sua vitória «eleitoral», no Zimbabwe. Sabendo que o dirigente comunista é um amigo político – envergonhado, mas amigo – do ditador Mugabe, relacionar as declarações de um e outro confere-lhes um irónico enquadramento.
A convite do Pedro Correia dei conta, no Corta-fitas, a propósito do blogue Generación Y, do meu cepticismo em relação à «abertura» do regime castrista. Acrescento uma nota de rodapé: se o meu pessimismo se revelar injustificado, a história contará, um dia, como a primeira ditadura caiu a partir da blogosfera.