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Em França, hoje é dia de greve geral, sobretudo nos transportes públicos, na saúde e no ensino. Ainda se lembram dos que, por cá, diziam que Sarkozy representava a salvação da França contra a «mediocridade» socialista? Veio a crise e comeu-o.
Na Grécia, onde há poucos meses alguns iluminados confundiram uns distúrbios de rua, que se esfumaram em duas semanas, com a «revolução proletária», o governo decidiu congelar os salários dos funcionários públicos que ganham mais de 1. 700 Euros. E ainda há quem diga que a «nossa» crise é «pior» do que a dos outros.
No outro lado do atlântico, nos EUA, a Reserva Federal, injectou hoje 1, 15 biliões de dólares na economia. A parte mais substancial desta astronómica verba destina-se à compra de activos financeiros hipotecários e à compra de dívidas da Fannie Mae e da Freddie Mac, instituições de refinanciamento hipotecário. Informam ainda as agências noticiosas que estas medidas têm por objectivo estimular a economia. Por cá, muitos do que apoiaram Obama devem estar com espasmos «ideológicos».
«Desemprego: apesar de tudo, Portugal continua a resistir».
Muito boa gente, seduzida por cantos de sereia, continua a insistir que a «nossa» crise é independente da «crise» dos outros. Enleada em comezinhas disputas ou perdida em demonstrações ficcionais, como aquela que compara Portugal à Albânia de Henver Hodja ou citam Soljenitsine para se convenceram que o PS de Sócrates – como dizem – é igual ao PC da URSS, não se dá conta do que se passa por esse mundo fora. Na Alemanha, por exemplo, a previsão, para 2009, aponta para uma contracção do PIB superior a 5%. O Reino Unido ou os EUA para lá caminham. Enquanto, aqui, na vizinha Espanha, ontem em Sevilha, Paul Krugman disse que é necessário uma deflação de 15% para os nos hermanos iniciarem a saída da «crise». E isto não vai lá com sermões aos peixinhos.
A crise que os socialistas portugueses provocaram com as medidas do Governo nos últimos 4 anos continua a provocar efeitos devastadores em todo o mundo. A Islândia, país que normalmente circulava no topo de todas as estatísticas de «bem-estar e qualidade de vida» abriu falência; nas longínquas paragens do sol nascente parece que lhe passou um cilindro por cima, ao ponto do ministro da Economia ter sido demitido por se «meter nos copos»; os países do leste europeu – os que deixaram a «segurança» da economia planificada para se dedicarem ao «sonho capitalista» – estão à beira do colapso; não tarda nada, 1 em cada 5 espanhóis estão a roçar os fundilhos das calças pelos bancos de jardim, enquanto na China aumenta o êxodo de regresso aos campos e à fome. Nos Estados Unidos, só no mês de Fevereiro, a General Motors teve uma quebra de vendas de 53%. Ora, se Manuela Ferreira Leite insiste que esta crise é «nossa» não percebo porque se admira do Congresso do PS ter sido uma manifestação de culto da personalidade de José Sócrates.
Muitos daqueles que, há dois ou três anos, evocavam diariamente o crescimento económico em Espanha para realçar a «incapacidade» do governo luso, mantêm-se em profundo silêncio perante os números devastadores do desemprego entre os nossos hermanos. Só no mês de Fevereiro o desemprego subiu quase 5%.
A crise que os «desmandos» do actual Governo provocou – como pretende a Oposição – está a expandir-se pelo mundo inteiro a grande velocidade. Nas últimas 24 horas, já foram noticiadas, pelo menos, as seguintes consequências:
«Farmacêuticas Pfizer e Wyeth vão despedir 19 mil trabalhadores».
«Crise financeira internacional está a revelar-se mais grave do que o esperado».
«Governo francês socorre transportadoras aéreas para salvar a Airbus».
«Caterpillar dispensa 20 mil trabalhadores "em ano muito duro"».
«Home Depot despede sete mil trabalhadores e fecha lojas EXPO».
«Corus despede 3500 trabalhadores com maior impacto no Reino Unido».
«Philips vai despedir seis mil trabalhadores e encerrar fábrica em Portugal»
O mundo do século XX já não existe. Primeiro foi o império soviético que se desfez: Gorbachev, o último secretário-geral do Partido Comunista da URSS e presidente do Soviete Supremo, sucessor de Lenine e Estaline, acabou a vender malas Vuitton; depois, o império americano deixou de ser o que era: Bush, o todo-poderoso presidente dos Estados Unidos da América em exercício foi corrido à sapatada de uma conferência de imprensa no Iraque, exactamente no Iraque. O ano de 2008 foi um ano síntese, onde se cruzaram Bernard Madoff – símbolo da pirâmide em que o velho mundo financeiro se deixou atolar – e Barack Obama – símbolo da necessidade de mudar de vida. Em 2009 iremos conhecer melhor a dimensão e as consequências da «crise financeira», como iremos, também, conhecer melhor a dimensão e as consequências das mudanças. Em 2009 tudo é possível.
O muro de Berlim não caiu com o vento, nem a implosão das torres de Nova Iorque foi obra de furacão. Aos poucos, passo a passo, as peças ajustam-se, como nos puzzles. Ou como diria um velho mestre electricista, sem positivo e negativo não existia corrente eléctrica. Por ora, os EUA e a Europa nacionalizam bancos, enquanto na China se permite, a partir deste mês, aos camponeses vender, arrendar ou hipotecar o uso da terra.
O Eduardo Pitta e o Francisco José Viegas, cada um com a sua máquina fotográfica, tiraram o retrato à crise. À «nossa» crise. Não precisa de retoques.