
O Avante de ontem, pela pena de Anabela Fino, queixa-se amargamente da «manipulação histórica» do Ministério da Educação. Então não é que na Prova de História A, do 12º ano, «os infantes eram solicitados a identificar, a partir de textos escolhidos a preceito, «três das práticas políticas do estalinismo», podendo para o efeito escolher entre «controlo do aparelho partidário», «campanhas de depuração/purgas», «trabalhos forçados», «repressão policial» e «deportações». Afinal de que se queixa o Avante? A resposta era demasiado fácil: qualquer que fosse a escolha feita pelos alunos, acertavam sempre. Será que o Avante teme que os jovens pioneiros errem a resposta a este tipo de perguntas porque lhes contaram que o estalinismo foi a «democracia mais avançada do mundo»? «Isto» está pior que no tempo do fascismo: «é que nem o fascismo se atreveu a ir tão longe na manipulação da História como o faz este Governo dito socialista». É lindo! Que saudades que os comunistas têm desse tempo. Até Anabela Fino ainda sabe o hino da Mocidade Portuguesa de cor.
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Esta noite, no Teatro da Trindade, há comício das «esquerdas». Manuel Alegre é cabeça de cartaz. Atrás do deputado socialista, à babuja, caminha o BE. Depois, segue a procissão de deserdados. O andor ficou recolhido na Igreja: o PCP tem o mérito de não alinhar em «caldeiradas» pequeno-burguesas.
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«
De facto, o que a bancada do PS propõe não é que se decida pela despenalização mas, sim, que se decida convocar um referendo, e o Sr. Deputado sabe que temos tido, coerentemente, uma posição contrária a essa via.»
Bernardino Soares (deputado do PCP,
I Série – DAR, Número 014 20 de Outubro de 2006:)
(via
Miguel Abrantes)
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A primeira e única experiência de coligação de esquerda em Portugal com significado político concretizou-se a nível autárquico, e ganhou a Câmara de Lisboa, em Dezembro de 1989. Esta coligação assentou no entendimento entre o PS e o PCP, apesar de «arrastar» outros pequenos partidos (sobretudo aqueles que vieram a constituir o BE). Na altura, também se escreveu, e muito, o mesmo que André Freire agora repete a propósito do entendimento PS-BE na Câmara de Lisboa: «Mas podemos também olhar para esta coligação como um ensaio que, se correr bem, poderá eventualmente ser replicado ao nível do país.» A experiência da primeira coligação de esquerda, em Lisboa, não vai neste sentido. Aliás, a meu ver, o entendimento entre o PS e o PCP só foi possível, em primeiro lugar, por ser a nível autárquico; em segundo lugar, por ter apanhado o PCP num momento de completa desorientação estratégica e ideológica: Gorbachev tinha lançado, desde 1985, a «Glasnost» e a «Perestroika» minando os alicerces do modelo soviético e dos países de Leste, a que se juntavam as críticas e dissidências internas. O PCP, em silêncio, pagava a fidelidade canina ao PC da União Soviética e viu cair o muro de Berlim ainda antes das eleições autárquicas de 1989. Retomada a orientação estratégica nos finais dos anos 90, o que podemos constatar hoje é que o PCP não esteve politicamente disponível para se coligar, em Lisboa, com o PS e o BE. O que é significativo. E não é pelo alegado facto do PS estar no governo a executar uma política de «direita». Em 1997, a coligação de esquerda concorreu à câmara de Lisboa, numa altura em que o PS também executava uma política de «direita». O «grau de inovação nas fórmulas governativas» em Portugal, a que alude André Freire, provavelmente, não passa pelo PS, mas sim pelos partidos à sua «esquerda». Será o BE diferente do PCP?
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Vítor Dias (o tempo das cerejas) exige um pouco mais de rigor a Mega Ferreira, porque este, em artigo publicado na
Visão, se interroga «
por que razão a CDU perdeu quase metade dos votos e dois pontos percentuais em relação às autárquicas de 2005». Vítor Dias explica, em resposta, que «
não se pode considerar «perda de votos» aquela que resulta de um significativo aumento da abstenção». É verdade. Mas por ser verdade, seria honesto da parte de Vítor Dias criticar da mesma forma o comunicado da
Comissão Política do CC do PCP, onde se lê: «
a votação do PS e de António Costa constitui, sem dúvida, quando comparada com o resultado obtido pelo PS nas legislativas de 2005 (42,5 por cento), uma significativa redução da base de apoio do PS e uma condenação da política de direita do actual Governo.» Aqui, Vítor Dias já não tem problemas em que se compare duas eleições diferentes – legislativas e autárquicas – com níveis de abstenção diferentes e, nas legislativas, sem candidaturas «independentes». Portanto, comparar tudo o que não é comparável. Porque se trata da posição do PCP, Vítor Dias admite todas as comparações sem exigir rigor. (Em nota de rodapé, uma pergunta relacionada com rigor: Jerónimo de Sousa disse que «
O resultado do PS confirma uma reduzida credibilidade política.» Ora, se 30% corresponde a uma reduzida credibilidade política, 10 % corresponde a quê?). A telhados de vidro?
(Imagem: acrílico sobre tela de Ricardo Paula. O gesto é apenas uma expressão, não uma ofensa.)
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