Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]
A política do deita-fora., Manuel Carvalho, editorial do Público, 31 de Agosto de 2009:
Durante quatro anos, o Governo encomendou estudos, pediu pareceres, envolveu juristas e especialistas, fez decretos-lei e resoluções, decretos regulamentares e despachos, teve de suportar a pressão de greves gigantescas, demissões, reformas antecipadas em sinal de protesto, foi obrigado a recuos e a cedência, mas, no final, conseguiu manter o esqueleto da sua polémica avaliação dos professores. Durante quase uma década, vários Governos solicitaram trajectos a equipas de sábios, pareceres sobre soluções tecnológicas, estudos de análise de custo-benefício, negociaram financiamentos nacionais e europeus e quando se chega a hora de celebrar os primeiros concursos para o comboio de alta velocidade tudo pode entrar em compasso de espera porque um dos partidos que disputam a vitória nas próximas eleições quer suspender o processo.
Algumas propostas do programa do PSD mostram como a falta de consensos em questões básicas como as infra-estruturas ou as políticas de educação se transformaram numa fonte de desperdício. O reviralho, velho emblema de conflito e de turbulência política, está vivo e recomenda-se. (…) Não se trata sequer de discutir a legitimidade de um partido, neste caso o PSD, se apresentar aos eleitores com as propostas que considera fundamentais ou com as renúncias que considera imperiosas para a solução dos problemas do país. Infelizmente, o que acontece nestas eleições limita-se a repetir dramas antigos. O que nos revela a impossibilidade de o país conceber e aplicar uma visão estratégica a longo prazo; e o que nos prova como os principais partidos do arco do poder têm dificuldades em separar o interesse nacional do sectarismo grupal.
Não se trata, portanto, de dizer que a avaliação dos professores do actual Governo é um modelo de virtudes e a proposta do PSD que a suspenderá em favor de um ainda vago modelo de avaliação externo um desastre. Ou vice-versa. O que temos de reconhecer é que, bem ou mal, ganhando ou perdendo a educação pública, se o PSD ganhar as eleições, o trabalho de centenas ou milhares de técnicos, o destino de milhões de euros serão pura e simplesmente varridos para o saco do lixo. O que temos de considerar é que, eleições após eleições, os partidos vencedores se preocupam mais em refundar do que em aproveitar trabalho feito. (…)
O que se recomenda é que, se for eleita, o faça sem cair no erro de anteriores Governos que se acharam imbuídos da missão de refazer o mundo. Podem melhorar-se os projectos e acertar-se prioridades, mas um Estado que não garante a permanência das suas opções só pode ser um Estado falhado.