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Dezembro consome-se monótono, como uma pausa para as compras de Natal. Suspenderam-se as greves dos professores, mas os machados de guerra continuam a amolar. Não se trata de mais avaliação, menos avaliação, mais burocracia, menos burocracia. É uma luta política a que os professores deram o seu aval. A crise, essa, germina debaixo da mansa aparência que nos dão. Falta saber se os seus efeitos mais devastadores ainda se produzem no ano que se avizinha. Mas já há gaivotas em terra. As «esquerdas da esquerda» fervilham de emoção. Pressentem no ar o cheiro a pólvora. Viajam já por dentro de uma nova revolução. A «coisa» está aqui tão perto: partir o PS ao meio e juntar uma das metades ao PC, ao BE e aos «movimentos independentes». Depois, formar governo e nacionalizar o sistema bancário, já que está a jeito. Tudo o resto vem por acréscimo: o controlo da economia e a repressão sobre os «inimigos do povo» e das «amplas liberdades». Levar, então, Alegre à presidência da República seria um passeio, sobretudo porque o actual inquilino de Belém também se anda a pôr a jeito. Francisco Louçã desfaz-se em declarações de amor aos «independentes», a Helena Roseta e a Manuel Alegre. Jerónimo de Sousa, mais matreiro, com muitas décadas de história do partido em cima do lombo, vai acompanhando à distância, avisando que nada se fará sem o PCP. O que é verdade. Do outro lado, à «direita», nem uma agulha bule. Caminham de olhos vendados para o altar da irrelevância, onde desejam ser sacrificados. Será que o próximo ano dará razão a Marx: «Hegel escreveu algures que todos os grandes factos e personalidades da história universal aparecem como que duas vezes, mas esqueceu-se acrescentar que uma vez como tragédia e outra como farsa».