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||| A «esquerda» em Portugal. Breves notas.

por Tomás Vasques, em 18.11.08

 

 

Carlos Vidal (5 Dias) escreve com clareza, preto no branco, aquilo que a «esquerda» – do BE ao PCP – pensa e diz à boca pequena, mas não escreve E aí se contém todo um programa político de conquista de poder pela «esquerda» totalitária por via «parlamentar». Ou seja:

1. Não morrem de amores pelo regime democrático parlamentar.

Em primeiro lugar a questão do regime. Este não serve. Assim, uma vez alcançado o poder, utilizando esta coisa da «democracia parlamentar», teria início, de imediato, a constituição de sovietes de fábrica, de bairro, de professores, e por aí fora, sob a direcção política dos «partidos de esquerda». A curto prazo, os sovietes substituiriam a «democracia parlamentar». Esta «história» já é conhecida, sobretudo desde 1917. Sabemos no que deu e como acabou. Para disfarçar, até lhe podem chamar «socialismo do século XXI», como os «teóricos» de Hugo Chávez. Mas acaba da mesma maneira: a ditadura de uma nomenclatura partidária, auto-intitulada de «vanguarda», que sabe o que o povo quer e, por isso, lhe impõe a «construção do socialismo». Para quem não estiver de acordo (e só não estão de acordo os inimigos do povo) há as prisões, os gulags e a tortura.

2. O maior inimigo da esquerda é o Partido Socialista.

Esta «esquerda», a «esquerda» totalitária, para alcançar o poder e iniciar a construção do «socialismo do século XXI» – uma sociedade sovietizada  – tem pela frente um sério inimigo: o Partido Socialista. Na verdade, o maior inimigo da «esquerda» totalitária é o Partido Socialista. Aliás, sempre foi assim. O PS está hoje onde sempre esteve, desde a sua fundação, pela mão de Mário Soares. Foi assim, nos idos de 74/75, cujo símbolo é a Fonte Luminosa, onde teve de enfrentar a «esquerda» totalitária e a extrema-esquerda, quer de inspiração albanesa, quer de inspiração trotskista. Foi assim com a consolidação do regime democrático, com a integração na CEE e por aí fora. O PS optou, desde a sua fundação, por construir uma «sociedade mais justa» no quadro dos regimes democráticos e de economia de mercado. O PS nunca andou nem pela III, nem pela IV Internacional. Estou convicto que os portugueses têm mais liberdade, mais democracia, mais bem-estar, mais direitos sociais e culturais nesta «sociedade capitalistas» do que teriam se a «esquerda» totalitária tivesse destruído o PS e tivesse conduzido Portugal para as «amplas liberdades» das «democracias populares».

 

3. Que este PS, debaixo da pressão de Manuel Alegre, e se este o quiser encetar, se fragmente irremediavelmente numa ala verdadeiramente de esquerda (e não anticomunista primária) e noutra ala centrista-liberal: o PS necessitaria de se fragmentar em dois partidos para que a esquerda em Portugal tivesse futuro.

O PS é o principal inimigo da «esquerda» totalitária. Por isso, é necessário dividi-lo, fragmentá-lo, destruí-lo. Desde sempre, foi esse o objectivo da «esquerda» totalitária, do PCP à extrema-esquerda. No passado houve várias tentativas de fragmentação. Foi assim com Manuel Serra ou com Lopes Cardoso, por exemplo, a partir de dentro; ou com o «eanismo», a partir de fora. Todas as tentativas foram mal sucedidas. Tão mal sucedidas que o PS veio a alcançar a maioria absoluta. A «esperança» de destruir o PS vira-se agora para Manuel Alegre. Dividir o PS ao meio é um objectivo claro da «esquerda» totalitária, da caviar à da faca na liga, como meio de destruir a «democracia parlamentar» e substitui-la pela única alternativa possível - a «república dos sovietes».

4. Que o Bloco de Esquerda e o Partido Comunista Português somem votações na casa dos 20 a 25% (não é impossível).

Com o PS fragmentado, por via interna, com o BE e o PCP a somarem 20 a 25º nas eleições, a que se somava os votos «do PS de Manuel Alegre» (um PS de «esquerda», despejado de «anti-comunismo primário», ou seja, aberto à sovietização do país) poderiam, finalmente, através de eleições, usando a «democracia parlamentar» com trampolim, tomar o poder e instaurar o «seu» regime. De outro modo, só lhes resta a via insurreccional, a tomada do poder pela força. E o «Zé povinho», mesmo com a crise que por aí anda, não está para aí virado.  

 

3. Por fim, para ser ainda mais claro, prefiro um PSD no poder e esta reconfiguração em movimento, do que este PS no governo e esta reconfiguração definitivamente sem hipóteses de andamento.

A fim de criar condições mais favoráveis à «revolução bolchevique», e enquanto o PS se mantiver forte, mais vale estar a «direita» no poder – dizem. Era melhor uma ditadura de direita, desenterrar outro Salazar, mas como isso não se mostra viável, a «esquerda» totalitária já se contenta com o PSD no Governo. Mais claro do que isto não é possível.

 

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publicado às 13:01




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