Há coisas para as quais ainda não estou preparado. Provavelmente, o mal está na falta de leitura. Ando a ler pouco ultimamente, o que deve diminuir a minha capacidade de entendimento. Passo a explicar as minhas perplexidades. Tenho alguns amigos de direita ou de centro direita, para o caso tanto faz. O que é natural. E o que é para mim um «amigo de direita»? Primeiro é um amigo, o que é mais importante que ser de direita ou de esquerda. Depois, é um amigo que, nos últimos vinte anos, sem hesitações, votou sempre no PSD (nas legislativas, nas autárquicas ou nas presidenciais) ou que, sem desfalecimento, nem mal estar difuso, defendeu com unhas e dentes, a maioria absoluta de Cavaco Silva durante 8 anos (mesmo quando Cavaco dizia que não lia jornais ou pedia que o deixassem trabalhar). Ora, acontece que estes meus amigos, pelo menos os que contactei nos últimos dias, dizem-me que vão estar presentes nas manifestações de Março. Perguntei, incrédulo: - mesmo à do PCP? A essa não, é muito partidária. – Responderam-me. – Só vamos às outras, à dos professores e à da Função Pública. Eles – os meus amigos – que, ainda há pouco tempo, me diziam que os sindicatos eram apenas uma «correia de transmissão» do PCP. Só posso tirar uma conclusão: estes meus amigos estão órfãos. E o transtorno «psicológico» é tão grave que uns se viram para Salazar, outros para a «revolução». A direita já não é o que era. Perdeu a identidade.
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