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- Então, Albertina como é que vai?
- Mal, muito mal. O meu marido foi despedido e a minha filha não arranja emprego.
- Já ouvi dizer. Mas a vizinha dizia que pagava para ver o Sócrates fora do Governo.
- Pois…Mas nunca pensei que tinha que pagar tanto.
Paira no ar um tempo amaldiçoado, de revanche. Uma crise do sistema, provocada pela ganância do mundo financeiro e do sistema bancário, está a servir de trampolim, sobretudo na Europa, para a destruição dos equilíbrios e dos progressos sociais até então alcançados. Os que provocaram esta crise estão, agora, a “resolvê-la” como lhes apetece, apoiados por um exército de peões de brega. Até parece que tudo foi estudado ao milímetro, ao pormenor, para alcançar estes resultados. Como vendedores de mantas em feiras, lá vão gritando, quando se lhe pergunta: de quem é a culpa de tudo isto? De quem é? Eles respondem: é “deles” – desses quase 5 milhões de portugueses que ganham, em média, 700 ou 800 euros mês. E, então, agem em conformidade. Baixem-lhes os salários – dizem uns; despeçam-nos sem indemnização, dizem outros; aumentem-lhes os impostos – gritam todos; acabem com o código do trabalho, diz a menina lá do fundo; aumentem-lhes os dias de trabalho, vocifera aquele senhor da terceira fila que já tinha pedido penas de prisão pesadas para grevistas e outros malandros; reduzam as férias e não se esqueçam dos feriados, essa malandragem quer é ganhar sem trabalhar, diz uma louca desgrenhada que escreve em jornais; funcionários públicos, os funcionários públicos, a esses tirem-lhes o que puderem – diz o engravatado da primeira fila; acabem com isso da Saúde e da Educação à borla, “eles” que paguem, “eles” que paguem – repete, com voz esganiçada, aquele rapaz de 24 anos, assessor de um ministro, a ganhar 4 227 euros mês. E disseram mais, mas o governo ainda não teve tempo para aplicar. É esta revanche contra a maioria dos portugueses que estamos a viver, em nome da “luta contra” crise e da “reforma” do sistema. A Comuna de Paris ou o Soviete de São Petersburgo nasceram num movimento de Contra-Reforma. E depois não digam que eu não vos avisei!