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Boaventura Sousa Santos, numa frase feliz, o que não é hábito, disse: “Vítor Gaspar tem passaporte português mas é alemão”. Dois dias depois, o ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, afirmou que Vítor Gaspar seria uma excelente escolha para assumir o cargo de Presidente do Eurogrupo.
Hollande não pode ceder um milímetro no que disse, em campanha eleitoral, sobre o Tratado Orçamental, pelo menos nos próximos tempos. Tem eleições legislativas em Junho e os eleitores não gostam de ser enganados. Merkel não vai querer «perder a face», e também tem eleições para o ano. Estou curioso em ver os desenvolvimentos na aprovação do Tratado Orçamental que, até ao momento, só gregos e portugueses aprovaram. Os irlandeses vão dizer o que pensam, em referendo, a 31 de Maio. Se os irlandeses disserem não ao Tratado (e a vitória de Hollande pode ser um estimulo) o que acontece antes das legislativas francesas, a senhora Merkel fica com uma batata quente nas mãos. Acresce que, em Espanha, Rajoy, independentemente da família política a que pertence, interessa-lhe mais a posição do eleito presidente francês do que as posições da senhora Merkel, tendo sido o único dirigente europeu a invocar o «poder soberano» do estado espanhol para incumprir as metas orçamentais acordadas. Ontem, as eleições em França e na Grécia podem ter despolatado uma granada. Vamos ver se e quando rebenta.
A senhora Merkel diz que o «melhor para a Grécia» é respeitar o plano de ajuda europeu, como se os gregos não tivessem direito a ter opinião; a senhora Merkel diz que «rejeita qualquer alteração na política orçamental da zona euro», como se os franceses fossem verbos de encher. A senhora Merkel diz e faz o que quer, como se a União Europeia fosse uma coutada de Berlim. Esta não é a Europa dos europeus – é a Europa alemã. A Europa que a Direita aplaude.
Hoje, Domingo, quando escrevo este texto, os franceses escolhem o presidente
da França, entre Sarkozy, que tem submetido a França à agenda ideológica,
financeira e económica da Direita alemã e Hollande, um socialista que tem a
obrigação política de, no mínimo, impedir que a senhora Merkel «decida tudo
sozinha», como ontem disse Romano Prodi, o ex-primeiro-ministro italiano.
Também os gregos decidem se querem viver na miséria paga em euros ou em
dracmas, sendo que a sua escolha não é indiferente ao futuro do Euro. Apesar
da importância do resultado de cada uma destas duas eleições para o futuro
do Euro e da Europa, no dia em que, provavelmente, Hollande é já presidente
eleito da França e os gregos preferiram pagar a miséria em Euros, prolongo
ainda o tema que dominou as atenções e as opiniões da semana passada –
a promoção de uma cadeia de supermercados que fez uma das melhores
campanhas de marketing dos últimos anos em Portugal.
Sem hipocrisias, nem ironias, tudo foi pensado ao pormenor: o desconto de
50%, por ser um número certo e simbólico: dividir irmãmente em partes iguais;
o dia escolhido – o 1º de Maio, dia do Trabalhador – foi magistral, de se lhe
tirar o chapéu; e o anúncio em cima da hora foi a cereja em cima do bolo. Muita
gente se indignou com esta operação de marketing bem-sucedida como se
estivesse à espera que o empresário Soares dos Santos tivesse a obrigação de
convocar os seus trabalhadores para as manifestações do 1º de Maio convocadas
pela CGTP. Não só não tem essa obrigação, como tem um objectivo elementar a
cumprir: criar lucros com a sua actividade empresarial. Outros, indignaram-se
com o comportamento do «zé povinho» que aderiu em massa à promoção,
como se estivessem à espera que quem fica em casa sem nada para fazer, num
feriado cujo significado nada lhe diz, se recusasse a comprar o que precisa (e o
que não precisa) a metade do preço. Não faz sentido a tese do «empresário
provocador», como não faz sentido a tese da «classe média ávida de consumo».
Ambas as partes, vendedores e consumidores, agiram de acordo com os seus
objectivos e necessidades imediatas, o que é normal. O mais que se acrescentar
é conversa fiada. No entanto, este caso, como tantos outros semelhantes, é a
prova da falência da Educação, a qual tem conduzido à «descapitalização»
cultural de várias gerações, que não conhecem Camões, Eça ou Amadeo de
Souza Cardoso, por exemplo, com a cumplicidade dos sindicatos dos
professores. É tão fácil encher supermercados de consumidores, como fácil é
encher a Avenida da Liberdade de professores que aderem em massa à defesa
dos seus interesses individuais e imediatos. No fundo, o «fenómeno» é o
mesmo, e a CGTP, na maior parte dos casos, não está longe do senhor Soares
dos Santos. Na sociedade, tal como na natureza, os opostos se atraem.
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O rotativismo partidário grego, entre a Nova Democracia e o PASOK implodiu ontem. A Coligação da Esquerda Radical foi o segundo partido mais votado, ultrapassando os socialistas, enquanto a ND – o partido mais votado – não atingiu os 20% dos votos. Os «partidos do costume» que, no seu conjunto, passaram décadas e recolher entre 70 e 80% dos votos, não atingiram os 35%, não tendo uma maioria no Parlamento que permita sustentar um «governo de salvação nacional». Hoje serão conhecidos os resultados das eleições municipais em Itália. Aguardemos pelas surpresas.
Ontem, a senhora Merkel viu a sua estratégia de empobrecimento dos trabalhadores europeus derrotada em França, na Grécia e no estado alemão de Schleswig-Holstein, onde a vitória por 4 décimas sobre o SPD não é suficiente para a CDU formar governo. Com a vitória de Hollande perdeu o principal aliado da sua estratégia, enquanto os gregos votaram com «fúria» contra a violenta austeridade, a intervenção externa e o governo imposto pela troika, independentemente das consequências em relação à permanência no Euro. São sinais de aviso importantes.