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Depois do sismo que abalou o PS
o ano passado – derrota eleitoral e mudança de liderança – era de esperar que
surgissem as habituais réplicas. Sejamos claros: alguns dos deputados socialistas
que hoje colocam em causa as alterações à legislação laborar, que amanhã vão
ser votadas no Parlamento, votariam a favor, de olhos fechados, caso tivessem
sido propostas pelo anterior governo. Por isso, não é uma questão de princípio.
É uma questão de oportunidade. Também alguns deputados que se opõem a mudanças
estatutárias no PS, propostas pela actual direcção do partido, apenas se
mostram preocupados com a possibilidade de ser António José Seguro a ter uma
palavra decisiva na escolha dos candidatos a deputados nas próximas
legislativas. Por isso, também não é uma questão de princípio. É uma questão de
oportunidade. Provavelmente, outras réplicas virão durante mais algum tempo. A frequência
e a intensidade de novas réplicas dependem da capacidade de reacção de António
José Seguro.
A greve geral de ontem,
convocada pela CGTP, que mobiliza serviços e empresas públicas,
sobretudo da área dos transportes, ficou aquém das expectativas perante a
situação em que os portugueses vivem. Isto foi evidente nalgumas declarações de
dirigentes da central sindical. A polícia, descontrolada, no Chiado, salvou a
greve e provocou uma séria derrota do governo, tanto a nível nacional, como
internacional.
Amanhã há Greve. Não é greve geral, nem nada que se pareça. É uma greve convocada pela CGTP e vai mobilizar
parte dos trabalhadores do Estado e de empresas públicas, sobretudo na área
dos transportes. A greve nos transportes públicos paralisará, necessariamente,
partes de outros sectores de actividade, provocando uma maior dimensão. Apesar
disso, a greve de amanhã é a resposta possível ao massacre social a que assistimos,
com uma política de austeridade violenta para os mais frágeis e o compadrio e a
reverência com os mais fortes, sejam empresas privadas, como a EDP, sejam os
particulares do jet set laranja que
auferem remunerações pornográficas, enleando as suas actividades profissionais
entre o Público e o Privado, como Catroga ou Borges. Participei na minha
primeira greve há mais de 40 anos – a 10 e 11 de Novembro de 1969 -, que terminou,
às 4 horas da madrugada do segundo dia, com uma companhia da GNR armada até aos
dentes, com viseiras e espingardas Mauser engatilhadas, chaimites e
cães-polícia, a expulsar os grevistas do seu local de trabalho. Nessa altura a
greve era proibida pela ditadura e os riscos e consequências da participação
numa greve eram enormes: desemprego, prisão e o mais que eles quisessem. Hoje,
participar numa greve contra o actual estado de empobrecimento da maior parte
dos portugueses não é só um direito, é sobretudo um dever.
A dureza dos números não perdoa: de acordo com a Direção-Geral do Orçamento, «o valor provisório do défice do Estado até Fevereiro de 2012 situou-se em 799 milhões de euros, que compara com um défice de 274 milhões de euros em igual período do ano anterior". O que significa um AUMENTO DE 191%.
A RECEITA EFECTIVA registou um decréscimo de 4,3% determinado pela receita fiscal,
A DESPESA EFECTIVA cresceu 3,5%,
O DESASTRE ANUNCIADO está à vista.
Os socialistas portugueses estão numa encruzilhada. Como também o estão, cada um com as suas especificidades locais e históricas, os socialistas espanhóis, gregos e os trabalhistas ingleses, e, de um modo geral, a Internacional Socialista, cujo presidente é George Papandreou, o deposto primeiro-ministro grego, o que por si já diz muito. Esta encruzilhada, no caso português, não deriva tanto do facto do PS, enquanto governo, ser um dos subscritores do acordo com a troika e, por isso, enquanto oposição, estar “amarrado” às severas medidas de austeridade e de empobrecimento da maioria da população portuguesa. Tem mais a ver com a ausência de soluções novas para a situação que Portugal e a Europa enfrentam, desde que a senhora Merkel se assenhoreou da União Europeia e o capital financeiro começou a marcar o ritmo da política e da acção dos diversos governos europeus. Hoje, não chega ao líder da oposição, como no passado aconteceu, esperar apenas pelo desgaste do governo, para o substituir, nas próximas eleições, usando a fórmula de Durão Barroso: “Sei que vou ser primeiro-ministro, só não sei quando” ou a outra fórmula mais genérica: “estar no sítio certo, no momento certo”. Deixar passar o tempo, alimentando o dia-a-dia com críticas avulsas, desconcertadas e tímidas, à espera que o poder lhe caia nas mãos, como fruto maduro a cair da árvore, foi chão que deu uvas. E não me parece demagógico interpretar os resultados da última sondagem, em que o maior partido da oposição, o PS, perde umas décimas em relação à anterior, num contexto de autêntico massacre social, como um sinal seguro de que lhe é exigido mais do que a rotineira e politiqueira “oposição”.
Ler também o que diz sobre o assunto Medeiros Ferreira.
Agora, com os resultados à vista, já «toda a gente» começa a encontrar erros no primeiro plano de resgate da Grécia. Jean-Claude Juncke disse a um jornal: «Penso que não nos focámos suficientemente sobre a dimensão do crescimento. Insistimos muito sobre a consolidação orçamental, sem ser deixada outra alternativa ao Governo então liderado por Georgios Papanderou». Também Poul Thomsen, líder da missão do FMI em Atenas, aponta as falhas às imposições da troika, e disse: «O programa era muito baseado sobre o aumento dos impostos, quando deveríamos ter colocado mais ênfase sobre a redução da despesa pública» – o que revela preocupação com a profunda recessão provocada pelas receitas da troika e as suas consequências. Muito provavelmente, daqui a uns meses, estão a dizer o mesmo sobre Portugal. O «custe o que custar» dos bons alunos vai conduzir Portugal no caminho da Grécia.
António Borges - todos sabem - é ministro deste governo. O ministro das Privatizações.
Ministro informal, mas ministro. Ganha 5 vezes mais do que um ministro
empossado. E pode exercer o cargo acumulando com a Administração de empresas,
sem que haja incompatibilidades. Hoje foi indicado para Administrador do Pingo Doce.
Foi você que pediu transparência?
Otelo Saraiva de Carvalho está hoje, outra vez, nas bocas da comunicação. O coronel acha que as Forças Armadas devem «actuar» face à «perda de soberania nacional» e derrubar um governo que resulta de eleições, evocando uma nebulosa representatividade popular das Forças Armadas. Sabemos, há muitos anos, que Otelo tem esta estranha forma de pensar a democracia, mas a ascensão de soluções antidemocráticas, à esquerda ou à direita, resulta directamente da crise em que a Europa mergulha e das soluções para a superar. Foi assim numa Europa flagelada pela crise de 1929. Pode ser assim, também, nesta Europa sem rumo. Até porque a actual crise do sistema ainda está no início da derrocada. O empobrecimento das populações, o desemprego e a miséria só agora se começam a sentir. E cada vez mais as soluções antidemocráticas em toda a Europa, sobretudo nos países do sul, terão mais espaço de manobra e acolhimento junto de quem não tem nada a perder. A austeridade cega, «custe o que custar», que recai sobre os mais frágeis, é a mãe de todos os devaneios anti-democráticos.
Medeiros Ferreira, acutilante, mas infelizmente, certeiro: Carnaval no alto da ponte.
Na Grécia, uma sondagem publicada, Domingo passado, no jornal Ekathimireni, com resultados muito próximos de uma sondagem anterior, mantém a tendência para a implosão do bipartidarismo grego – entre a Nova Democracia, à direita, e o PASOK, à esquerda. De acordo com os resultados desta última sondagem, o PASOK (que ganhou as últimas legislativas com maioria absoluta – 44%) cai para 11% – um trambolhão de todo o tamanho. A Nova Democracia, que governou durante 5 anos, até 2009 (34% nas últimas legislativas), apesar de ser o partido mais votado, cai para 28%. A Esquerda Democrática, um novo partido à esquerda do PASOK, obtém 16%, enquanto a esquerda radical reunida no SYRIZA (4,5% nas últimas eleições) sobe para 12% e o Partido Comunista (7,5% nas últimas eleições) sobe para 11%. Um partido de dissidentes da Nova Democracia obtém 4% e o LAOS, de extrema-direita, também obtém 4%. A verificarem-se resultados eleitorais, em Abril, próximos destas sondagens, os socialistas gregos ficam no fio da navalha, podendo dar maioria parlamentar à esquerda ou à direita, consoante o lado para onde quiserem cair – literalmente. .
Se eu me desse ao trabalho de ler todo o prefácio de Cavaco Silva ao seu livro «Roteiros VI», começava a colocar em questão a minha sanidade mental. Por isso, fico-me pelas citações que toda a imprensa divulgou, nomeadamente a frase mais repetida, em que o presidente da República, por não ter sido informado sobre o PEC IV, acusa o anterior primeiro-ministro, José Sócrates, de «falta de lealdade institucional que ficará registada na história da nossa democracia». Este «ajuste de contas» – mesquinho, porque evidencia mais a natureza pessoal do que institucional do diferendo –, agora, quase um ano depois, revela que o presidente da República pautou o seu comportamento, durante a crise que conduziu à queda do anterior governo, por este ressabiamento pessoal. É Cavaco Silva igual a si próprio: nada que o afaste das declarações sobre o valor das suas reformas.
O Álvaro come e cala porque isto de ser ministro dá-lhe gozo, mesmo que ande aos papéis. E ainda há que proteger aquela catrefra de gente que recrutou.
Informa o i que o deputado do PSD Paulo Cavaleiro vai questionar
formalmente a Caixa Geral de Depósitos se o seu administrador Rodolfo Lavrador
cumpriu as regras de contenção de custos da empresa numa sua recente viagem a
Maputo. O deputado do PSD, acaba de prestar um bom serviço, apesar de se saber
que só levantou esta questão porque o administrador em causa foi secretário de
Estado das Finanças e do Tesouro num Governo socialista (entre 2001 e 2002) e
desempenhou lugares de chefe de gabinete do ex-primeiro-ministro António
Guterres e do antigo ministro das Finanças Sousa Franco. Senão teria metido a
viola no saco não fosse o partido retirar-lhe o cargo de deputado na próxima
oportunidade. Aguardamos notícias das próximas viagens e outras despesas por
conta do erário público de todos os membros da Administração da CGD.
Leio nos jornais: «Pedro Passos Coelho foi no sábado à noite reeleito presidente do PSD com 95,5% dos votos dos militantes
sociais-democratas, numa corrida em que era o único candidato.» É normal, quando o líder do partido é
primeiro-ministro. No entanto, havia por aí umas alminhas sectárias, para não
ir mais longe, que lhes dava gozo chamar «kimilsunguista» ao Ps, quando isso
aconteceu ao anterior líder do PS e também primeiro-ministro. Hoje, essas
alminhas estão em silêncio. Talvez a morder a língua até sangrar.
Jean-Claude Juncker, presidente do Eurogrupo, considerou "escandaloso" que as despesas militares na Grécia se mantenham elevadas num contexto de redução de salários e pensões, e "um escândalo" que os "países virtuosos" insistam em vender equipamento militar a Atenas. França e Alemanha continuam a vender submarinos e aviões à Grécia.