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As nomeações de assessores
para os gabinetes de ministros e secretários de Estado, correspondem em regra, salvo
algum caso particular, a necessidades e são escolhas pessoais, naturalmente. Não
é por aí que o gato vai às filhoses. O problema tem mais a ver com incoerência política
e falta de palavra dada: quando se está na oposição criticam-se essas
nomeações; quando se está no governo nomeia-se.
Há mais de um século que, em
momentos como o que vivemos, citamos Eça de Queiroz, quando em Os Maias,
referindo-se a Portugal, escreveu: «Isto é uma
choldra torpe. Nunca houve uma choldra assim no universo!» Os
portugueses têm cada vez mais razões para citar, com propriedade, o nosso
grande escritor do século XIX. A trapalhada do ministro das Finanças à volta
dos encargos com as pensões da Banca no Orçamento de 2012, o que vai exigir novos
sacrifícios ainda este ano, não apagou o que se passou a semana passada com as
escolhas – uma lista de agradecimentos ao primeiro-ministro - para o Conselho de
Supervisão da EDP ou para a Administração das Águas de Portugal e, sobretudo,
com o conhecimento das remunerações a atribuir a cada um dos contemplados. É
verdadeiramente pornográfico – comentou, com razão, Marques Mendes,
ex-presidente do PSD, num assomo de distanciamento.
Num
país massacrado por violentas medidas de austeridade, assumidamente destinadas
a empobrecer milhões de portugueses, em que não escapam as famílias de menores
recursos, desempregados e reformados, é servido em bandejas de prata, a uma
casta que gravita à volta do poder político e económico, um despudorado
banquete – uma verdadeira orgia, a lembrar a Grande Farra, de Marco Ferreri. E pago com
dinheiro de quem, em muitos casos, não tem dinheiro para comer. E não adianta o
governo e o seu primeiro-ministro, Passos Coelho, lavar as mãos como Pilatos e
«explicar» que a EDP é uma empresa privada e que não interferiu nas escolhas
anunciadas; ou que o Partido Comunistas Chinês escolheu «caras conhecidas e que
estiveram em Macau», na versão de Eduardo Catroga, ex-ministro das Finanças de
Cavaco Silva, um dos maiores beneficiados do descomunal regabofe das
privatizações. As facturas da electricidade, que atingem todos os portugueses,
empresas e famílias, mas sobretudo os que ganham salários de miséria, com um
aumento de 4%, mais o aumento do IVA de 6% para 23%, trazem a marca dos milhões
de euros de remunerações anuais atribuídas a esta gente impúdica e voraz.
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