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No arquipélago de Samoa, no Pacífico, mudaram de fuso horário, por motivos económicos. Os seus habitantes
deitaram-se na quinta-feira e acordaram a um sábado. Era mesmo o que nos dava jeito, a nós, portugueses: deitarmo-nos na noite de
31 de Dezembro de 2011 e acordarmos a 1 de Janeiro de 2013. Os de Samoa fizeram desaparecer um dia no
calendário. Nós precisávamos que desaparecesse um ano, pelo menos. Também por razões económicas. Mas, sabemos que estas magias de fusos horários nunca nos bafejam. Só acontecem em sítios distantes, no outro lado do mundo. E, assim sendo, temos de suportar estoicamente este ano de 2012, como se fossemos enteados de um Deus menor. E tudo isto porque, dizem-nos alguns com olhos doces,passámos décadas a viver «acima das nossas possibilidades» e, por isso, agora, «não há dinheiro». E, em consequência, só o empobrecimento e a miséria serão
redentores - nos abrirão as portas do paraíso. Neste novo ano, de marmita na mão com o almoço, vamos todos dizer em uníssono, de mãos dadas, como naquelas igrejas de fanáticos religiosos que esperam a redenção a troco de dádivas generosas:
«Não há dinheiro»! E repetimos, vezes sem conta: «Não há dinheiro»! «Não há dinheiro»! E, depois, batemos com a mão direita no peito, como quem faz o sinal da cruz, e gritamos, de preferência em histeria colectiva: «Somos todos culpados». Todos! Andámos a viver «acima das nossas possibilidades».