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Deixemos, por agora, essa Europa, a Comunitária e a Monetária, governada pela Alemanha, e afundada nas suas insuperáveis contradições e incapacidades, a desfazer-se na teia urdida pelos «mercados» à volta das dívidas soberanas, que de Atenas, Dublin e Lisboa se alastra, aos poucos, seguindo os mesmos percursos, a Roma e Madrid e aonde mais se verá. Fixemo-nos, então, dentro de portas, onde um governo eleito há meia dúzia de meses, fazendo tudo ao contrário do que prometeu em campanha eleitoral, segue impávido e sereno, de olhos vendados, o caminho traçado por Berlim – o caminho da desgraça. De pouco vale, neste momento, lembrar os fundamentos que sustentaram, por parte de quem hoje nos governa, o derrube do anterior governo ou mostrar as fotografias do actual primeiro-ministro a vender, em Assunção, no Paraguai, o computador Magalhães a mexicanos, acção semelhante foi ridicularizada há pouco mais de um ano, pela então oposição social-democrata, quando o anterior primeiro-ministro se prestou a esse malabarismo de vendedor ambulante; ou ver Paulo Portas ir a Caracas, na Venezuela, tentar vender em saldo alguns produtos nacionais, sem ter direito a dois dedos de conversa com Hugo Chávez, acção semelhante por parte de Sócrates foi igualmente vilipendiada por quem dizia, na altura, tratar-se de uma humilhação política. Nem sequer vale a pena acrescentar, na mesma linha, a recente ida de Passos Coelho a Angola. E, não estarei longe da verdade, se disser que Paulo Portas já teria ido Tripoli, dar duas palmadinhas nas costas de Kadafi, caso este não tivesse sido barbaramente assassinado. Estes factos ilustram bem o actual estado de coisas em Portugal, mas também numa Europa que, envergonhada, esconde debaixo do tapete a sua arrogância imperialista e anda, por todo o lado, de Brasília a Pequim, de mão estendida, a mendigar uns tostões para o Fundo de Estabilização, como se não tivesse meios de se sustentar.