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A cimeira europeia de hoje foi um fiasco igual às anteriores, nomeadamente a de 21 de Julho. As pressões do G20 resultaram num espectáculo folclórico, sob a batuta da senhora Merkel acolitada pelo senhor Sarkozy. Em Julho, o pedido de perdão da dívida grega à banca privada era de 21%; hoje situa-se nos 50 a 60%. Os bancos recusaram a proposta. A recapitalização da banca em 108 mil milhões de euros ou dotar o FEEF com um bilião de euros (quando na anterior cimeira, há 3 meses, eram 440 mil milhões) também são vagas propostas que se vão desfazer no tempo e na teia da aprovação por cada estado-membro. Entretanto, a Itália está a caminho da desgraça e vai chegar lá antes que qualquer destas medidas sejam aplicadas. Por este caminho, os tempos que vêem aí são, certamente, de desgraça, enquanto por cá nos pedem para fazer o papel de «bons alunos».
O Mário Rui voltou em forma, com o seu Palâtre:
«Bebe-se um refresco sem saber que é o último antes deste inverno: a “chancelarina” oferece um urso de peluche a Sarkozy mais ou menos ao mesmo tempo em que Kadhafi morre no deserto e é sodomizado com um pau; José Rodrigues dos Santos, altamente voltaico, desvenda os mistérios da Bíblia mesmo a tempo para as “prendas” de Natal; Jorge Coelho reinventa Proudhon e “aplica” os trocos que recebe do Estado em instituições de solidariedade social. Valha-nos Ângelo Correia, que ao defender os mesmos trocos como “um direito adquirido” restitui o conforto das grandes certezas às almas angustiadas pela dúvida e o negativismo do século: o guito é nosso.»
O senhor ministro da Economia não pára de nos dar boas notícias. Todos os dias sai da gaveta um novo projecto de investimento: vamos avançar para a exploração de gás natural no Algarve; mais mil milhões de investimento na exploração de ferro nas minas de Torres de Moncorvo, em Trás-os-Montes; minério de lítio para 70 anos de exploração, na Guarda; e, hoje, finalmente, apareceu ouro em Évora e Montemor. Se tudo isto não passar de folclore, a coisa promete…Para o ano falamos sobre o assunto.
Com as medidas draconianas deste governo, sobretudo contra os funcionários públicos e os pensionistas, abriu-se a caixa de pandora contra salários, pensões e outras mordomias dos políticos, no activo e no passivo. A presidente do Parlamento, Assunção Esteves, por exemplo, vê os seus vencimentos dissecados ao cêntimo, desde a reforma aos 42 anos até às outras remunerações que aufere e outras mordomias. Um a um, quem exerceu cargos políticos e beneficiou legalmente de estatutos de reforma e de pensões escandalosas para as vítimas do Orçamento de Estado de 2012, é-lhes apontado o dedo acusador. Há em toda esta denúncia uma boa dose de populismo, mas atenção: se os portugueses vivem acima das suas possibilidades deve-se começar a diminuir consideravelmente as remunerações e pensões de quem recebe mais e não de quem recebe menos. E, nos tempos difíceis que correm, era de bom-tom que quem recebe mensalmente mais de 5 a 6 mil euros evitasse escrever nos jornais ou comentasse na televisão que os portugueses vivem acima das suas possibilidades e que devem fazer sacrifícios de «reajustamento». Senão, qualquer dia salta a tampa da panela de pressão.
A mais pesada crítica à desastrosa proposta de Orçamento de Estado para 2012 veio de onde o Governo menos esperava – o Presidente da República. Passos Coelho, concentrado em anular as críticas do principal partido da oposição e um dos subscritores do acordo com a troika, o PS, convenceu-se que já tinha marcado a agenda da discussão e aprovação do Orçamento quando, na semana passada, disse no Parlamento: «As medidas que constam deste orçamento são minhas, mas o défice que as obriga não é meu». Aparentemente, a tranquilidade do primeiro-ministro fazia sentido, o que lhe deu ânimo para esticar ao máximo a corda nos sacrifícios pedidos aos portugueses no próximo ano: António José Seguro ainda não ganhou a credibilidade e a consistência política necessária para se fazer ouvir para além do PS (a frase/conceito «austeridade inteligente» é ininteligivelmente arrepiante); a manifestação dos «indignados», a 15 de Outubro, não aqueceu, nem arrefeceu, ficando muito aquém, em número de participantes, da de 12 de Março, quando governava José Sócrates; as manifestações e greves gerais convocadas pelo PCP/CGTP fazem parte da iconografia do regime. Tudo se conjugava, pois, para uma cumplicidade comedida à volta da «inevitabilidade» das medidas propostas no Orçamento.
Vitória esmagadora de Cristina Kirchner nas presidenciais argentinas, com 53,7 % dos votos. A presidente deixou o candidato socialista, Hermes Binner, da coligação Frente Amplio Progresista, segundo mais votado, a quase 40 pontos de distância. Os radicais de Alfonsin filho, normalmente a segunda força política argentina, não ultrapassaram os 11%. A esquerda e o centro esquerda, onde se filia a ala kirchnerista do peronismo, obtiveram nestas eleições mais de 70% dos votos dos argentinos. Não esquecer que nos vizinhos Uruguai e Brasil ocupam a presidência da República José Mujica e Dilma, ambos antigos guerrilheiros, com vários anos de prisão durante as ditaduras dos seus países. .
Medeiros Ferreira, Córtex Frontal.
Em Outubro de 2010, o blog 31 da Armada, publicou um vídeo com os «melhores momentos de José Sócrates». E, aí, se escreveu: «Durante 2009 e 2010 Sócrates disse que sim, disse que não e disse o contrário. Durante várias semanas recolhemos, compilámos e compusemos as melhores declarações deste extraordinário homem. O 31 da Armada tem o prazer de apresentar os melhores momentos de José Sócrates.» Nesta altura, o anterior primeiro-ministro já tinha 5 anos de exercício do cargo. Em Outubro de 2011, o blog Aventar publicou um vídeo com os «melhores momentos de Passos Coelho», 3 meses após a tomada de posse do actual primeiro-ministro. Este último vídeo já foi evocado por Vasco Lourenço, numa reunião com um milhar de militares, para dizer que o poder foi tomado por «um bando de mentirosos». A democracia tem destas vantagens: o «argumentário político» que era destinado ao anterior primeiro-ministro assenta que nem uma luva ao actual, e começa a produzir efeitos devastadores. E quem se der ao trabalho de ler os 105 comentários ao post do blog 31 da Armada, percebe bem o que se deve pensar de Passos Coelho. Atenção: o blog 31 da Armada ainda tem no seu património outras acções para serem utilizadas contra Passos Coelho. É bom viver em democracia!
Ouvi, em Março, muitos santos de pau carunchoso elogiar as palavras de Cavaco Silva, quando este, na tomada de posse, falou nos limites aos sacrifícios exigidos aos portugueses; e mais tarde, rejubilaram, quando o Presidente da República criticou o anterior Governo por cortar os vencimentos da função pública entre 3,5% e 10%, este ano. Cavaco Silva, ontem, criticou a proposta de OE para 2012, apresentada pelo Governo, dizendo que o corte salarial para grupos específicos é «um imposto», de onde se conclui que, imposto por imposto, se faça uma repartição mais igualitária dos sacrifícios. E acrescentou: «neste momento, pelas situações dramáticas que nos chegam à Presidência da República todos os dias, receio que possamos estar no limite e, no caso dos pensionistas, não sei mesmo se já não foi ultrapassado» Agora, para alguns desses santos de pau carunchoso, que dançam à volta deste governo, como manequins empalhados, todas as medidas deste governo «são necessárias» e «não há alternativas». Nestas circunstâncias, ao PS cabe, como partido subscritor do acordo com a troika, negociar com o governo o OE 2012 e apresentar propostas concretas de alteração que contemplem uma maior equidade fiscal e uma maior distribuição de sacrificios. Se não houver resultados concretos nessa negociação, não lhe resta outro opção senão votar contra este Orçamento. A abstenção significa uma cumplicidade com o rumo desastrado deste governo.
A manifestação de hoje não atingiu a dimensão da de 12 de Março. Faltou-lhe a componente de direita. A 12 de Março, quando foi apresentado o PEC IV, muita gente que queria substituir José Sócrates por Passos Coelho esteve lá – no fundo, a tal coligação que derrubou o governo anterior: CDS-PP, PSD, PCP e BE juntou-se aos indignados de várias proveniências sociais e diversidade etária. Daí, também, a 12 de Março, o ambiente ser mais festivo. Hoje, apesar de mais reduzida no número de participantes, a manifestação teve um ambiente mais de luta do que de festa. No entanto, este «movimento» corre o risco de se afunilar, perdendo a diversidade que lhe deu força. Quanto mais peso o BE (e afins) tiver nas «palavras de ordem», menos mobilização haverá no futuro. O PS está «entalado»: é um partido da oposição que teme sair à rua, à beira de renegar o seu passado quando travou na rua duras batalhas, como na manifestação da Fonte Luminosa. A rua é parte das sociedades democráticas. Ver tantos jovens nestas manifestações é um excelente sinal. O conformismo pode ser fatal. Neste momento, o importante é provocar desassossego.
É evidente que a colecção do senhor Berardo deve ser reavaliada. O dinheiro do Estado é de todos nós.
«O primeiro-ministro acusou-me de querer acabar com o IVA intermédio para a restauração. É completamente falso!»
Pedro Passos Coelho, então líde da oposição, num debate com Jerónimo de Sousa.
É para a Madeira?
Há muita gente que se dá mal com fenómenos sociais ou políticos novos. Já há quem reaja ao «perigo» dos resultados eleitorais obtidos pelo PAN – Partido pelos Animais e pela Natureza. Este partido apresentou-se pela primeira vez aos eleitores nas eleições legislativas de 5 de Junho, onde foi o segundo partido mais votado entre os que não elegeram deputados. Ontem, na Madeira, ultrapassou o BE, tendo eleito um deputado. O mesmo acontece com a manifestação convocada para o próximo sábado, 15 de Outubro, sobretudo através das redes sociais. Ontem, a SIC transmitiu uma peça onde fez referência à manifestação de 12 de Março, como uma das maiores dos últimos tempos e entrevistou uma das organizadoras da anterior e da próxima. Contudo, a peça televisiva terminou assim: «A polícia teme que esta movimentação social possa provocar tumultos, os maiores desde 1975». O mundo está a ficar perigoso, os senhores do dinheiro põem e dispõem; a Europa está de rastos e quem paga a factura dos desmandos financeiros são sempre os mesmos, mas quando cidadãos querem mostrar o seu desagrado e «mijam fora do penico» ficam todos em pânico. Compreender os fenómenos sociais e políticos novos em vez de os atacar com caçadeira de canos cerrados é a melhor maneira de contribuir para uma sociedade mais justa e igualitária que cada vez se afasta mais do nosso horizonte. Tal como fui à manifestação de 12 de Março, também estarei presente na Avenida da Liberdade a 15 de Outubro. A 12 de Março vi por lá a direcção da JSD a distribuir «notas» de 100 euros com a fotografia do Sócrates. Espero, no sábado, vê-los por lá, solidários, mesmo que não distribuam «notas». Se não os encontrar fico a pensar que estão todos nos gabinetes ministeriais e que o facto de terem participado na manifestação de 12 de Março só tinha esse objectivo. Se assim for, não se admirem de cada vez mais pessoas votarem no PAN e de participarem em manifestações fora do colete de forças estabelecido.