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Do Metro de Lisboa e Porto à CP, as empresas públicas de transportes devem mais de 20 mil milhões de euros. Há pessoas que acreditam – concedo que não estão de má fé – que tudo isto se deve a um só governo – o anterior, como há pessoas que acreditam que uma senhora da mitologia católica apareceu, num descampado, em cima de uma oliveira. Quem quer olhar para estas coisas a sério, sabe que a grande aposta nas auto-estradas, ou seja, a aposta no carro contra os transportes colectivos, é obra dos governos de Cavaco Silva entre 1985-95. Joaquim Ferreira do Amaral, ministro das Obras Públicas e Transportes da época, é considerado, na Wikipédia, «o artificie das auto-estradas portuguesas». E todos conhecemos, por exemplo, a sumptuosidade das estações do Metro de Lisboa da expansão iniciada no começo dos anos 90. A estação do Oriente tem a intervenção dos artistas plásticos António Segui, Artur Boyd, Erro, Hundertwasser, Yahou-Kussuma, Joaquim Rodrigo, Abdoulaye Konaté, Sean Scully, Raza, Zao Wou Ki e Magdalena Abakanowic. Tudo em grande. E a monumentalidade calatraviana do apeadeiro ferroviário do Oriente, no Parque Expo? Fontismo puro e duro com o dinheiro que chegava, a rodos, de Bruxelas. Com esta política do final dos anos 80, começo dos anos 90, queriam que as empresas públicas de transporte dessem lucro? O criador de todos os monstros anda, agora, a dissertar sobre o encanto das vaquinhas nos Açores, como não tivesse a menor responsabilidade nisto tudo. O pecado original na política de transportes, no sufoco do ferroviário a favor do carro, e nos gastos à grande e à portuguesa, encontra-se no «modelo de desenvolvimento» definido após a entrada na União Europeia, nos anos de 85 a 95. O resto é conversa fiada!
Na origem da crise está Cavaco Silva.
Carrilho que era tão citado, há uns meses, pelos opositores do anterior governo, já não agrada a quem, então, o citava. Agora varrem-lhe as citações para debaixo do tapete.
Isto sim, é cortar na despesa: Governo que reduzir em 35% o número de vereadores eleitos.
Tenho amigos, em diversos graus, e abrangendo todo o leque político. Como é natural, em democracia, cada um tem a sua opinião sobre tudo o que se passa à nossa volta. Alguns, disseram e escreveram sobre o anterior governo o que Maomé nunca disse do toucinho. Convivo bem com isso. Mais: penso que essa diversidade de opiniões é a essência da democracia. A tolerância, de liberal à moda antiga, em circunstância nenhuma me permite qualquer melindre pessoal, e muito menos me impede de uma cavaqueira ao fim do dia. Com quem tem opinião próxima da minha ou com quem tem opinião oposta. Por isso, não compreendo como a minha opinião melindra, agora, alguns desses meus amigos, sobretudo aqueles que pensam que o último governo foi o pior desde a morte de D. Afonso Henriques e que este, dirigido por Passos Coelho, é o melhor desde o paleolítico. Tenho uma certeza: vou continuar igual, a ter a minha opinião e a conviver bem – muito bem, mesmo – com a opinião dos outros. E quem não conviver bem com a minha opinião que vá de férias. Pode ir a Cuba, a Angola ou à China, tanto faz.
«Comemora-se em todo o país uma promulgação do despacho número Cem da Marinha Mercante Portuguesa, a que foi dado esse número não por acaso mas porque ele vem na sequência de outros noventa e nove anteriores promulgados....»
Presidente da República Portuguesa, Américo Thomaz.
- in revista Opção, ano II, n.º30
«Hoje reparei no sorriso das vacas, que estavam satisfeitíssimas, olhando para o pasto. Fiquei surpreendidíssimo por ver que as vacas avançavam, uma atrás das outras…»
Presidente da República Portuguesa, Cavaco Silva.
- in jornais e rádios.
Foi ontem aprovado na generalidade, no Parlamento, projectos de lei do PCP, BE e PSD/CDS (que grande coligação) para criminalizar o enriquecimento ilícito. Houve um tempo em que eu barafustava, em nome de princípios democráticos, contra a violação do princípio da presunção de inocência ou contra a exigência de fazer prova de factos negativos. Porque estas violações começam, aparentemente, contra os «ricos» e os «corruptos», mas acabam sempre, mais cedo ou mais tarde, contra a maralha. O problema é a introdução de um novo princípio no ordenamento jurídico. Depois de introduzido não há nada a fazer, como diz a minha prima Hermenegilda. Há momentos, como o que vivemos, em que ir contra a corrente significa falar chinês em Mértola. Se vos dá gozo, a todos, PCP e BE incluídos, violar princípios básicos de protecção dos direitos e garantias dos cidadãos, em nome da luta contra a corrupção, com efeitos práticos reduzidos, como se verá, mas com consequências devastadoras, no futuro, contra qualquer pacato cidadão, gozem à vontade. Se fosse cristão, diria: perdoai-lhes senhor, porque não sabem o que fazem. Como não sou, digo: amanhem-se!
Há um raciocínio simples – tão simples que até assusta – na cabeça dos nossos actuais governantes: na economia de mercado a produção de riqueza está entregue à iniciativa privada; as empresas – através das quais se desempenha essa função – são pouco produtivas e pouco competitivas (de onde resulta, por exemplo, que o tomate espanhol entra em Portugal mais barato do que o produzido por cá ou que os nossos têxteis tenham dificuldade em competir no mercado externo). Isto, num mercado aberto e global aumenta as importações e diminui as exportações. E leva-nos à desgraça. Que fazer, então? Para produzirmos «riqueza», se não se pode desvalorizar a moeda, nem penalizar à má gestão das empresas, reduz-se o custo do trabalho – empobrece-se quem trabalha até ao osso. A coisa é fácil: diminuem-se os salários, o valor das horas extraordinárias, as indemnizações por cessação de contrato e por aí fora e saca-se mais algum, em impostos, sobre os seus «rendimentos». E, agora, parece que sempre que um empresário diminuir a rentabilidade da sua empresa ao pegar na mulher, nos filhos, na cunhada, na prima e no gato e parta de férias para a Tailândia, à custa dos dinheiros da empresa, no regresso, pode despedir um trabalhador para compensar a «perda de produtividade».
O resultado de tudo isto, vai ser, em menos de uma década, a criação de um exército de famintos, sem vida, nem comida; sem protecção, nem no trabalho, nem na saúde, endividados até ao tutano e desempregados. E, com um bónus para a produção de «riqueza»: passa a ser mais fácil contratar cada vez a preço mais baixo.
Se são estes os caminhos que o século XX produziu; se são estes os caminhos da democracia, da solidariedade, da sociedade mais justa e igualitária; se são estes os caminhos da Europa dos povos, que venha uma Revolução!
Pobre por pobre, tanto faz!
(Publicado no Polaroid).
Leio, aqui, pela pena de João Miranda, o seguinte: Definição de socialista: Aquele que depois de criticar a dívida da Madeira vai defender que por solidariedade a devemos pagar todos. Ora, quem não se quiser aparentar com socialistas, corneteiros e outra gente de má raça, deve ter na manga outra solução para o pagamento da tal dívida. A primeira é dizer: o Jardim que a pague! Expropriados todos bens patrimoniais do soba da ilha, mesmo sem acusação criminal, nem sentença judicial, se não der para pagar passemos à fase seguinte; os madeirenses que a paguem! No fundo, foram eles os «culpados». Depois de deixar todos os madeirenses na miséria absoluta (salvam-se sempre os que têm dinheiro a rodos) e se, mesmo assim não der para pagar toda a divida, aconselho pedirem o resto, a título de empréstimo, à minha prima Hermenegilda que tem uns cobres guardados. Moral da história: quem não tem imaginação para encontrar quem pague a divida da Madeira é socialista!É um «bom» argumento!
Nos últimos dias, Alberto João Jardim dá ideia de um felino caçado, enjaulado e passeado pelas ruas da cidade. É triste vê-lo balbuciar, com o semblante de um derrotado, comparações de governos da República com «os governo de Salazar» e meter os pés pelas mãos nas justificações para a fraude financeira dos últimos anos na Madeira. Perdeu a crista e a arrogância. Ora diz, para ganhar votos, que escondeu os dados para resistir «aos socialistas, à maçonaria, e a essa tropa fandanga do continente», ora emite comunicados patéticos, onde escreve que não escondeu coisa nenhuma. A desorientação é completa. É claro que o «jardinismo», entendido como um grosseiro desvio às mais elementares regras democráticas, tolerado pelos partidos que governaram Portugal nos últimos 30 anos, morreu. Morreu definitivamente, mesmo que o PSD ganhe as próximas eleições regionais na Madeira. Mesmo que ganhe com maioria absoluta. Noutras dimensões, provavelmente, ainda se vão encontrar situações semelhantes às da Madeira em alguns municípios e empresas municipais. No entanto, a arrogância anti-democrática de Jardim justifica o revanchismo a que assistimos.
Nasceu hoje um novo blogue de nome Polaroid. Na nota de abertura diz ao que vem. Sou um dos sete colaboradores.
O governo português, nomeadamente o primeiro-ministro, no que tem sido acompanhado pelo Presidente da República, têm insistido em transmitir, com tanta convicção, como subserviência, aos nossos credores, a ideia de que "Portugal não é a Grécia". No começo deste mês, Passos Coelho foi em peregrinação a Berlim vender esta ideia, que encerra todo um programa anti-europeu, à senhora Merkel. A ânsia de distanciamento em relação à Grécia só pode ser entendida como falta de solidariedade para com um dos estados-membros a atravessar dificuldades que resultam, tal como em Portugal, de muitos e muitos anos e de muitos e muitos governos. Esta falta de solidariedade, este apontar o dedo à Grécia como a "má da fita", excomungando-a, é das atitudes políticas que mais contribuem para a desagregação da União Europeia e do euro. É uma ideia querida entre a direita europeia mais conservadora e a extrema-direita, mas completamente desajustada na boca de dirigentes políticos, mesmo de direita, de um país como Portugal. Até o presidente do BCE, Jean-Claude Trichet, tem uma postura mais europeísta que o nosso primeiro-ministro e o nosso Presidente da República. Ontem, em Varsóvia, declarou que a Zona Euro, no seu conjunto, apresenta melhores resultados do que as economias de outros grandes países desenvolvidos, citando o exemplo dos Estados Unidos, onde o défice é de 8,8% contra os 4,5% na Zona Euro. E sublinhou que "estão a ser corrigidos os erros ao nível de alguns países, considerados individualmente", com défices e dívidas públicas altas, provavelmente referindo-se à Grécia, mas também a Portugal. Olhar a União Europeia como um todo e a Zona Euro no seu conjunto é a única atitude que nos pode salvar da ganância dos mercados e do espírito desagregador que se instala por todo o lado.
Aguarda-se, ainda, a conferência de imprensa do senhor Ministro Miguel Relvas sobre o caso das facturas escondidas na ilha da Madeira. E se decidir apresentá-las ao Parlamento, como prova do delito, vai ter de fretar 10 navios e 800 contentores. Há números mediáticos que se podem voltar, facilmente, contra o seu promotor.
O grupo parlamentar do PS tem quase tantos vice-presidentes como deputados. Hoje, um vice-presidente do grupo parlamentar do PS, Pedro Nunes Santos – não faço a menor ideia quem é, mas os seus eleitores, provavelmente, identificam-no –, veio defender o seu líder parlamentar, Carlos Zorrinho, contra declarações de Francisco Assis que questionou declarações de Zorrinho. Se isto é o «novo» PS, vou ali já volto.
Uma história pouco católica. A ler na íntegra.