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Afinal, o INE diz-nos que o déficit público, em 2010, é de 8,6% e não os previstos 7,3%. Independentemente das «justificações», não deixa de ser um argumento de peso na campanha eleitoral em curso, para além de mais um passo para o abismo.
Ontem, Passos Coelho escrevia no Wall Street Journal que o PSD rejeitou o PEC IV «porque medidas não iam suficientemente longe». Hoje, Paulo Rangel, no mesmo registo, disse: «Merkel quando vir o Governo do PSD vai respirar de alívio». O programa eleitoral do PSD está à vista.
Ainda se lembram de Cavaco Silva, enquanto candidato presidencial, dizer que seria melhor os portugueses escolherem o presidente à primeira volta, de modo a evitar a subida das taxas de juro, no mercado da dívida? Se, segundo o actual presidente da República, a situação financeira pioraria com uma segunda volta das presidenciais, o que acontecerá com a crise política instalada, governo demitido, Assembleia da República dissolvida e eleições legislativas em Junho?
Anda por aí muita gente a fingir que a queda do governo, no momento em que ocorreu, não nos está a atirar para o abismo;
anda por aí muita gente a fingir que Portugal com FMI ou sem FMI é a mesma coisa;
anda por aí muita gente a fingir que este governo caiu porque fez muitas «coisas más» e será substituído por outro que vai, finalmente, fazer «coisas boas»;
Anda por aí muita gente a fingir que o próximo governo não vai aplicar medidas mais gravosas para os portugueses do que as que foram rejeitadas;
anda por aí muita gente a fingir que José Sócrates é um «malandro» e que Pedro Passos Coelho é um «bom rapaz»;
anda por aí muita gente a fingir que Pedro Passos Coelho fala verdade quando diz, que se governar, não aumentará impostos;
anda por aí muita gente a fingir …
Há quem, por aí, queira desviar-se do tema central da campanha eleitoral em curso. Uns, mais trauliteiros, de faca na liga, centram-se sobre o «mentiroso» José Sócrates; outros, mais matreiros, gente de palavra mansa, gostam mais de se rebelarem contra a «espuma dos dias». Mas, tenham paciência, não se pode fugir à questão central: em substância, o que é que o PSD propõe para a situação presente? Hoje, o Económico, transcreve uma entrevista de Pedro Passos Coelho à agência Reuters, onde o líder social-democrata nos diz o contrário do que se afirmava nos fundamentos da rejeição do PEC IV. Assim, preto no branco: «A razão porque votámos contra esta revisão do PEC, não é porque ele vá longe demais nas medidas que é necessário assegurar para que os objectivos sejam atingidos. É porque ele não vai tão longe quanto devia.» Aos poucos, as medidas começam a sair da toca.
Começa a circular por aí, entre os próximos do Presidente da República, que este não dará posse a um governo minoritário. A «ideia» é interessante para argumentário político de campanha do PSD, mas os resultados eleitorais é que vão decidir o que Cavaco Silva tem obrigatoriamente que fazer. O «bloco central», entre 1983 e 1985, foi uma experiência única a que o actual presidente da República pôs termo e que, a bem da saúde do regime, não se deve repetir.
O partido da chanceler Ângela Merkel, depois de ter perdido a Cidade-Estado de Hamburgo, em Fevereiro, para o SPD, teve hoje uma derrota pesada no estado-federado de Baden-Württemberg, onde governava há 58 anos. As sondagens à boca das urnas dão a vitória à coligação Verdes-SPD com 48,5% dos votos. Os alemães começam-se a cansar das políticas «liberais» da senhora Merkel.
Pedro Passos Coelho disse, na sua entrevista à SIC, que haviam outras medidas a tomar em alternativa às medidas do PEC IV. Quais? Acabar com um grande número de institutos e empresas públicas. A senhora Merkel, quando ouvir estas vacuidades, dá-lhe um chilique.
Há 2 frases, publicadas nos jornais de hoje, que resumem o que esteve em causa na rejeição parlamentar do PEC IV e nos dois meses próximos:
1. - O líder do PSD, Pedro Passos Coelho disse hoje que, mesmo num governo de gestão, Portugal pode pedir ajuda externa, ideia que defendeu junto do Presidente da República.
Esta declaração vem na linha das intenções de Pedro Passos Coelho, caso ganhe as próximas eleições: quer que seja o FMI a exigir as medidas drásticas (sobretudo no cortes de despesa pública nas áreas da Saúde, Educação e Segurança Social e de despedimentos na Função Pública) que o PSD preconiza. José Sócrates quer ir por outro caminho, recusando essa intervenção externa como argumento principal da campanha eleitoral. Por isso, declarou:
2. - O primeiro-ministro, José Sócrates, garantiu hoje, sexta-feira, em Bruxelas que Portugal não irá pedir qualquer ajuda financeira para as contas públicas.
Contudo, há uma outra frase que vem exigir a Passos Coelho que diga o que quer, independentemente das exigências do FMI.
3. -Angela Merkel afirmou que depois da rejeição pelo Parlamento do PEC, tanto o Governo como a oposição "devem tornar claro publicamente, e isto é muito importante, que medidas propõe que sejam implementar para que os objectivos sejam atingidos de forma diferente".
Isto promete!
Dois dias após a rejeição no Parlamento do PEC IV, e do consequente pedido de demissão do primeiro-ministro, duas coisas parecem já estar certas: uma, se o PSD ganhar as próximas eleições, Pedro Passos Coelho aplicará as medidas contidas neste pacote de austeridade (ou outras que produzam igual efeito nas contas públicas) agora rejeitado; outra, é que Pedro Passos Coelho admite ter de aumentar os impostos, nomeadamente o IVA, ao contrário do que andou a dizer durante o último ano. Bastou o líder do PSD ir um dia a Bruxelas para começar a desdizer-se. E ainda a procissão vai no adro.
O PSD não está pelos ajustes e começou a vender bacalhau a pataco. Hoje, no afã de ganhar votos, apresentou um projecto para suspender o modelo de avaliação dos professores. Nunca o fez antes, fê-lo agora com um governo de gestão. Mário Nogueira, secretário-geral da Fenprof, aplaudiu e os actuais companheiros de viajem do PSD, o Bloco de Esquerda, declararam de imediato o apoio à proposta do PSD. Parecem abutres à volta do voto.
Repito, aqui, a citação 335 de Eduardo Pitta:
Miguel Esteves Cardoso, Então adeus e até já, hoje no Público. Excertos finais, sublinhados meus:
«[...] Entretanto, José Sócrates demitiu-se mas continua vivo e há-de aproveitar o descanso que aí vem, muito bem-vindo, para recuperar a liberdade pessoal e política que perdeu. Com a demissão dele (de quem eu gosto e sempre gostei), posso eu bem. Ninguém pode é acusá-lo de querer baldar-se quando o exercício do poder, seja quem for que o exerça, não convém.
Sócrates tem absorvido e concentrado o ódio e o desvio nominalista que acha que a política é, tal como nas revistas cor-de-rosa, uma questão de nomes e de caras. Foi um primeiro-ministro corajoso e inteligente. Achar que Sócrates é culpado — e que removê-lo chega para nos poupar — é uma estupidez de todos os tempos.»
Finalmente, o PSD já começou a dizer «qualquer coisa», usando a técnica de atirar o barro à parede. Hoje, o Correio da Manhã, sem identificar a fonte, diz que o PSD, se for governo, sobe o IVA para 24 ou 25% para não penalizar as pensões. O IVA cai sobre todos, incluindo desempregados, salários mínimos e baixas pensões. E, evidentemente, aumenta a recessão económica, com todas as suas consequências no tecido empresarial e no emprego. Aguardam-se mais medidas do PSD.