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Hoje, quinta-feira, às 18:30h, no Grémio Literário lançamento de Almocreve das Palavras de Hennrique Segurado. Apresentação, leitura de poemas e concerto de piano.
Circula por aí muita conversa fiada sobre eleições legislativas antecipadas, ampliada com a vitória eleitoral de Cavaco Silva. É natural. Por pressão interna do partido, Passos Coelho precisa de chegar rapidamente à chefia do governo, antes que, na tradição do PSD, o enviem definitivamente para Massamá. O «aparelho» está sequioso para ocupar os lugares da nomenclatura governativa, institutos, empresas públicas e por aí fora e exige-lhe que se apresse. São muitos anos apeados e, mais algum tempo, toda uma geração perde a oportunidade de se sentar à mesa do «poder». No entanto, Passos Coelho sabe que a pressa é má conselheira, e não quer correr riscos. E sabe, também, que quem provocar uma crise política por motivos «não atendíveis» pelos portugueses, sobretudo na presente situação de penúria e má sorte, corre o risco de ser penalizado eleitoralmente. Daí que, aposte na necessidade de «entrada» do FMI como o «facto» que fundamente a dissolução da Assembleia da República, descartando-se da apresentação de uma moção de censura ao governo, cujo resultado seria incerto. Por seu lado, o Presidente da República, agora reeleito, não vai mexer uma palha (mesmo com a «entrada» do FMI), enquanto não tiver a «certeza absoluta» que da realização de eleições antecipadas resultará uma nova maioria parlamentar. O pior que lhe podia acontecer, a Cavaco Silva, para além do «caso BPN», era o PS voltar a ganhar as eleições ou ganhar o PSD, mas sem obter maioria absoluta, mesmo com o CDS. Tudo visto, parece-me que a esperada reeleição de Presidente da República nada alterou no figurino político. Antes pelo contrário: demonstrou que os eleitores preferem estabilidade política a mudanças incertas e nebulosas. Como diz o povo: «Mais vale um pássaro na mão do que dois a voar».
(Publicado no Aparelho de Estado)
No sábado passado fez 50 anos que o paquete Santa Maria foi tomado de assalto por um grupo de oposicionistas chefiados pelo capitão Henrique Galvão. Ontem à tarde, na Fundação Mário Soares, foi apresentado o livro O Inimigo Nº 1 de Salazar (Editora Esfera dos Livros). O autor, Pedro Jorge Coelho, faz um relato da vida de Henrique Galvão, desde a fuga do Hospital de Santa Maria, onde se encontrava sob prisão, em 1959, até à sua morte, no Brasil, em 1970. Pelo meio fica a narrativa de uma história densa e recheada, que vai desde o apoio incondicional a Salazar, pela mão do qual chegou a deputado do regime, até aos assaltos do Santa Maria e a um avião da TAP. Pela vida de Henrique Galvão passam os momentos mais difíceis do ditador de Santa Comba Dão e do regime.
Escrevi aqui, em Setembro do ano passado:
«Agora, apenas assistimos a uma penosa caminhada de Manuela Alegre até Janeiro. Canta o guião como no sonho que inventou, fazendo eco dos discursos de Loução, mas atabalhoado, sem alma, nem jeito, vazio, sem se dar conta da realidade. A vitória do PS há um ano atrás foi a derrota do sonho «presidencialista» e do projecto «socialismo do século XXI»» da dupla Manuel Alegre-Francisco Louçã. José Sócrates percebeu isso desde o primeiro segundo. Por isso, mesmo fazendo-se rogado, deu-lhe tranquilamente o abraço de urso.»
Pedro Viana, escreve no blogue Vias de Facto, agora sem subterfúgios, o que era evidente para muitos socialistas: Manuel Alegre e Louçã tinham por objectivo partir o PS. Parece que lhes saiu o tiro pela culatra: os socialistas fizeram-lhes um manguito.
«A candidatura de Manuel Alegre prova que o eleitorado habitual do PS divide-se quase ao meio entre quem aceita alianças à Esquerda e quem nem pode ouvir falar no assunto. Ou seja, o PS está pronto para ser cindido. Mas não é claro que o BE venha a beneficiar disso. A sua direcção queimou-se seriamente, ao decidir apoiar Manuel Alegre. A estratégia, de aceleração do processo de cisão do eleitorado do PS, talvez tivesse resultado se Sócrates tem decidido não apoiar Manuel Alegre. Agora a direcção do BE vai ter de realizar um delicado trabalho de reconstituição do seu eleitorado habitual, que se fragmentou fortemente (Manuel Alegre, Fernando Nobre, José Manuel Coelho, votos brancos e nulos, abstenção). Fica a saber que qualquer aliança com o PS de José Sócrates será suicidária.»
Ganhei uma aposta (um almoço à beira mar, na Foz do Arelho): há 2 semanas apostei que Manuel Alegre não atingiria o tal milhão de votos que, durante 5 anos, exibiu como sua «propriedade».
Muitos comentadores e analistas políticos associam o PS, o governo e José Sócrates aos derrotados nas presidenciais. Ao contrário, contra a corrente, associo o PS, o governo e José Sócrates aos vencedores. Não coloco sequer a hipótese de vitória eleitoral de Manuel Alegre (coisa só atingível nas cabeças de Helena Roseta, Louçã e mais uma centena de «poetas» da política portuguesa), mas apenas da hipótese de uma segunda volta nestas eleições, onde Alegre iria obter, inevitavelmente, qualquer coisa entre os 30 a 40% por cento. Um resultado deste tipo serviria de trampolim para as maiores diatribes contra as políticas do governo de «subordinação aos interesses do FMI, do imperialismo, do capitalismo e dos especuladores financeiros». Perante os resultados que se verificaram, José Sócrates e o Governo têm apenas pela frente um adversário político tímido e fragilizado (pelos resultados e pelo «caso BPN») – Cavaco Silva. No rescaldo de uma segunda volta, José Sócrates (e sobretudo o PS) teriam pela frente, para além de Cavaco Silva (reeleito com uma expressão eleitoral mais sólida), um Alegre a reclamar quase dois milhões de votos e Louçã a reclamar uma vitória estrondosa do BE e a exigirem, ambos, uma «mudança de políticas», entalando o PS e procurando o seu isolamento e desmoronamento. Por isso, insisto: o PS, o governo e José Sócrates encontram-se entre os vencedores da noite eleitoral.
Uma sondagem Marktest dá, hoje, a vitória do PSD, em hipotéticas legislativas, com 46% dos votos, contra 26% do PS. Não é de admirar: a Marktest, na sua última sondagem, nas presidenciais, apurou 61,5% para Cavaco Silva e 21% para Fernando Nobre. De todas as empresas de sondagens foi a que registou os maiores erros. E continuam com a mesma amostra…
Cavaco Silva é o presidente reeleito com menor percentagem de sempre.
Há quem à direita, no rescaldo dos resultados eleitorais, queira ver uma derrota do Partido Socialista e do Governo. Não é tão simples e muito menos de leitura directa. O eleitorado socialista tradicional que, nestas eleições, votou Nobre, Moura, Coelho ou Cavaco para penalizar Manuel Alegre poderá, em eleições legislativas, negar ao PSD e ao CDS qualquer veleidade de governar o país.
Nas últimas presidenciais Manuel Alegre apresentou-se contra o candidato socialista; nestas eleições, o eleitorado socialista apresentou-se contra o candidato Manuel Alegre.
Previsão:
Cavaco Silva 53-54%
Manuel Alegre 19-20%
Fernando Nobre 14-15%
Francisco Lopes 6-7%
José Manuel Coelho 3%
Defensor de Moura 1,5%
Inadmissível: o cartão de cidadão anda a retirar o direito de voto a alguns portugueses.
O Bloco de Esquerda vai, finalmente, passar a noite eleitoral no Hotel Altis, local simbólico das noites eleitorais socialistas.
No último dia da campanha eleitoral, todas as sondagens dão a vitória de Cavaco Silva na primeira volta. Nesta altura, Manuel Alegre só pode esperar um milagre da Senhora das Tempestades. Aliás, já começou hoje a escrever, no DN, o discurso da derrota: «admito ser penalizado pela impopularidade do governo» disse. Independentemente do acerto (ou desacerto) do argumento, o que ficará registado é que: 1) Manuel Alegre impediu a provável eleição de um candidato socialista em duas eleições presidenciais seguidas; 2) o BE não alcançou nestas eleições o seu objectivo estratégico: partir o PS. Contudo, não está fora de causa a possibilidade de Alegre, após a derrota, fundar o «seu» partido para ajudar o BE a alcançar o seu objectivo. Por isso, insisto: quanto menor for a votação em Manuel Alegre maior é a possibilidade de isso não acontecer. Depois não digam que ninguém avisou.