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Aqui está um tema para uma boa conversa: esquerda e direita. Isabel Moreira, a propósito da candidatura de Fernando Nobre, escreve: «nunca votarei em alguém que tem por coisa boa não se definir como pessoa de esquerda ou de direita.» Bem-aventurados aqueles que, como a Isabel, bafejados pela sorte, dominam o dogma com tanto rigor, e tanta certeza. Pela minha parte, ao longo do percurso que fiz para aqui chegar, encontrei pessoas que juravam a pés juntos ser de esquerda (portanto, merecedores de voto da Isabel em alguma circunstância), mas que me diziam, sem pestanejar, que os campos de concentração na antiga União Soviética eram necessários e apenas se destinavam aos «inimigos da classe operária e do povo trabalhador»; ou aqueles que ainda me dizem, por exemplo, que os sanguinários ditadores norte-coreanos são gente de esquerda, «amigos anti-imperialistas»; e outros, ainda, que transportam os irmãos Castro num andor, enquanto estes vão espezinhando liberdades e encarcerando os «agentes da CIA». Extremo os exemplos apenas para facilitar as coisas. E, assim, voltamos nós, tantas décadas volvidas, à velha discussão entre a forma e o conteúdo.
Antes que me comecem a apedrejar ou me cortem as mãozinhas, defino-me já como de esquerda:
da «esquerda proletária»; e da «esquerda socialista»;
da «esquerda social-democrata»; e da «esquerda radical»;
da «esquerda marxista-leninista»; e da «esquerda republicana»;
da «esquerda dos valores»; e da «esquerda inconformista, das rupturas e das aventuras»;
e «de todas as outras esquerdas».
Defino-me como de esquerda.
Pronto.
E juro não questionar quando a «esquerda marxista-leninista» diz que «a contra-revolução, encabeçada pelos socialistas» desfez as «conquistas de Abril».
Nem sequer penso onde nos levavam essas e outras «conquistas» com que hoje nos acenam.
Defino-me como de esquerda.
Pronto.
Tudo isso não passa de arrufos de amor no seio dos que se definem de esquerda.
Porque quem se define de esquerda, é de esquerda.
E por isso o Bloco de Esquerda é de esquerda!
Está na definição.
Pronto.
Mas desculpem-me o mau jeito, vou citar o poeta:
Quando me dizem: "vem por aqui!
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
É de esquerda.
Pronto.
Está este mês nas livrarias o romance Luca Antara do neozelandês Martin Edmond (1952), da Bertrand Editora, onde o autor se cruza, nos alfarrabistas de Sidney, com a história de António da Nova, um nobre português do século XVII, que teve como missão encontrar a misteriosa Luca Antara – a actual Austrália. Deste encontro resulta uma longa viagem que chega até Fernando Pessoa e a Fátima.