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Por estes dias, nenhum outro assunto ocupa a atenção informativa como o mundial de futebol. É assim por cá, como em praticamente todo o mundo. Hoje, às15 horas, Portugal joga contra o Brasil, ali onde Fernando Pessoa fez a primeira comunhão, e meio país vai acompanhar o jogo. No México a coisa pia mais fino: um deputado exige a presença do treinador mexicano no Parlamento para explicar «a razão pela qual apostou em Blanco, por que motivo tirou Guardado e não deu a titularidade a “Chicharito” Hernández». Na França, o próprio presidente Sarkozy «decidiu assumir o comando da situação (perante o fracasso da selecção francesa) e convocou para esta tarde uma "reunião de trabalho" com o Primeiro-ministro, François Fillon, a Ministra da Saúde e dos Desportos, Roselyne Bachelot, e a Secretária de Estado dos Desportos, Rama Yade, no Eliseu». Depois convocou para outra reunião de trabalho «o ex-capitão dos bleus, Thierry Henry». E, por cá, ainda há quem se queixe do «peso» do futebol.
Neste país, ninguém é penalizado pela incompetência profissional. Leio nos jornais que uma cidadã, Manuela Moura Guedes de seu nome, aquela senhora que, notoriamente, tem uma obsessão por José Sócrates, apresentou na «Justiça» uma queixa-crime, por injúrias (ou difamação), contra o primeiro-ministro. Está no seu direito. No entanto, o advogado da senhora desconhece a lei e entregou a dita queixa no DIAP em vez de a entregar na secção criminal do Supremo Tribunal de Justiça; o procurador adjunto do Ministério Público também desconhece a Lei e, em vez de remeter a denúncia para o Tribunal competente, abriu inquérito e encaminhou para o juiz titular do 4º juízo do Tribunal de Instrução Criminal o pedido de constituição de arguido do primeiro-ministro; o Juiz do Tribunal de Instrução Criminal também desconhece a Lei e pediu à Assembleia da República autorização para a constituição de arguido. A comissão de Ética da Assembleia da República já informou o senhor Juiz que não está nas competências do parlamento autorizar o bizarro pedido. Parece que alguém já explicou a todos estes «operadores de justiça» que desconhecem a Lei e que todos os seus actos são nulos. São nulos, mas produzem efeitos. Não na Justiça, mas na comunicação social. E, provavelmente, era essa a intenção da autora da queixa, que esta produzisse os seus efeitos na comunicação social. Já produziu à custa de incompetência várias e risíveis desconhecimentos da Lei por parte de quem tem, por dever profissional, conhece-la. Este é um exemplo paradigmático do modo como a Justiça anda a reboque da comunicação social. Este caso está na linha daquele em que um advogado britânico requereu a um Tribunal que prendesse o Papa quando este chegasse a Londres.
Francisco José Viegas estreia-se na ficção infantil. Amanhã, quarta-feira, às pelas 18h30, na Fábrica dos Pastéis de Nata, (Belém) em Lisboa, será apresentada a sua nova obra Se eu fosse... nacionalidades, com apresentação de Carla Maia de Almeida. Este primeiro volume (Se eu fosse... nacionalidades) está integrado numa colecção de seis títulos, que fazem sempre uso do conceito «Se eu fosse». A colecção, com ilustrações de Rui Penedo, foi desenvolvida pela agência literária Booktailors para a Booksmile.
O Verão começa amanhã, apesar da forte brisa que nos fustiga, como se estivéssemos no Outono; as notícias e declarações sobre o apagamento de José Saramago ocupam o espaço informativo, enquanto aguardamos que a selecção nacional de futebol, a jogar de luto, no primeiro dia de Inverno (lá onde vai jogar), não esmoreça, nem desmereça a nossa atenção por mais uns dias. Mas tudo isto não passa de um compasso de espera até à entrada em força das eleições presidenciais. Há sinais claros de que as próximas presidenciais têm ainda pano que chegue para o aparecimento de mais candidatos, quer de um lado, quer de outro. A provável candidatura de Cavaco Silva está ameaçada por parte da sua base social de apoio, conforme foi revelado pelo senhor Cardeal Patriarca e pelas «pastorinhas do Estoril», enquanto Manuel Alegre, a menina dos olhos do BE, se confronta com a debandada de parte significativa da base social de apoio dos socialistas. Se as coisas ficarem com estão, assim mansinhas, apenas anunciando o confronto político entre Cavaco Silva e Manuel Alegre (porque uns – à direita – têm medo da segunda volta; e outros – os socialistas – não encontram quem represente genuinamente o seu espaço político), pode acontecer que Fernando Nobre faça o papel de Manuel Alegre nas últimas presidenciais e absorva os votos (de um lado e de outro) dos que não se sentem representados neste magro espectro. Em tempos de crise, em tempos que exigem grandes reformas, ter na Presidência da República «um mal menor» é mau para o exercício do cargo e é péssimo para a democracia.
(Publicado no Aparelho de Estado).
Hoje de manhã andei a vasculhar as estantes à procura de um livro para oferecer ao meu amigo Eduardo Pitta. A tarefa foi difícil. Eliminei logo qualquer escolha de poesia ou de ficção: não obteria um único livro que ele já não tivesse. Decidi-me, então, por uma pequena preciosidade que encontrei: Resolução do Comité Lenine Acerca do Porte na Polícia. Está lá tudo o que é importante saber na luta contra a polícia política. Os tempos são outros, mas há coisas que nunca se esquecem: lá dentro (na prisão) ou cá fora, com a polícia política nunca se fala. Espero que o Eduardo tenha tempo para ler este opúsculo.
Há quem se indigne porque o governo propõe o encerramento de algumas escolas primárias – aquelas que têm menos de 21 alunos. Puro economicismo – dizem alguns. No entanto, há quem comece a colocar a questão a outros níveis, ao nível da vida e do dinheiro gasto em tratamentos com doentes. Qualquer dia ainda aparecerá por aí alguém a propor câmaras de gás para reformados como meio de sustentabilidade do sistema de segurança social. É preciso conter e denunciar esta espiral em que o dinheiro comanda a vida. É preciso e urgente voltar ao sonho e colocar uma «bola colorida entre as mãos de uma criança». Antes que seja tarde.
Romancista, poeta e dramaturgo, autodidacta, José Saramago, segundo consta na sua biografia, apenas concluiu estudos secundários, dadas as dificuldades económicas familiares. Foi jornalista e militante do partido comunista, tendo sido também serralheiro e tradutor. Quer se goste ou não da sua obra, foi o único português a receber o prémio Nobel da Literatura. Morreu hoje, em Lanzarote, aos 87 anos.
Jerónimo de Sousa não é propriamente um grande comunicador, apesar de normalmente encontrar um registo simples adequado à mensagem que quer fazer passar. Muitas vezes introduz um ou outro sound bite nas suas declarações, mas normalmente estão delidos de tanto uso. Ontem, despejou um bem interessante a propósito das manifestações convocadas pelo PCP: «O Governo, onde achar mole, carrega».
Li por aí críticas à escolha de jogadores «brasileiros» para a selecção nacional de futebol. Não percebi se esses críticos pensam que o Eusébio nasceu na Reboleira.
Perdemos uma grande oportunidade de substituir o treinador da selecção nacional de futebol, hoje, durante o intervalo do jogo com a Costa do Marfim.
As auto-estradas mataram o prazer das viagens; ampliaram a nossa ignorância sobre aldeias e vilas lindíssimas, sobre parte considerável do nosso património; afastaram-nos do convívio com os nossos conterrâneos mais isolados e de restaurantes genuínos. Empobreceram o nosso conhecimento e a vontade de descobrir, do acaso e da aventura. Hoje, mesmo quando vamos em férias (ou nos designados «fins-de-semana prolongados») entramos numa auto-estrada à porta de casa, em qualquer ponto das áreas metropolitanas de Lisboa e Porto, e saímos à porta de casa no destino, apenas permitindo uma breve paragem para comer uma sandes numa qualquer estação de serviço. Ainda há pouco mais de duas décadas, a caminho do Algarve, raramente repetia o mesmo percurso. Umas vezes viajava o mais próximo da costa, parava aqui e ali, e almoçava ora no Cercal, ora em Odemira; outras vezes, ia por Ferreira do Alentejo, almoçava um cozido de grão no cruzamento de Canhestros, ou em Ervidel, e quando chegava a Castro Verde decidia, então, se ia pela Serra do Caldeirão, com paragem obrigatória no restaurante da Tia Bia, em Barranco do Velho, ou se seguia por Mértola, Alcoutim, Guerreiros do Rio (onde se petisca muito bem) em direcção à Foz de Odeleite. Hoje, as auto-estradas obrigam-nos a correr, na esperança de ganharmos tempo. Mas só perdemos.
Parece que os programas de culinária de Nigella estão a dar que falar. Eu gosto de ver a Nigella a cozinhar. Aliás, em rigor, eu gosto de ver a Nigella, ponto. Isto significa que se a Nigella aparecesse a falar com Mário Crespo sobre a Comissão Parlamentar de Inquérito ao negócio PT/TVI ou sobre o plano de ataque anglo-saxónico ao Euro eu não perdia a conversa. Porque estava lá a Nigella, naturalmente. Mas, apesar disso, a Nigella não é só «mamas e ancas», como escreve a Sofia Vieira. Há ali um estilo caseiro, despretensioso que agrada a quem cozinha. E o Francisco, como é seu dever, não deixa passar o que é importante, sobretudo em matéria de cozinha.
É uma boa altura para inscrever num dos próximos «Pecs» a privatização da RTP. Há que acabar com os sorvedouros de dinheiros públicos sem qualquer serviço público que se veja (as modalidades internacionais da RTP podem ser asseguradas por canais privados).