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Ora, pegando na minha calculadora mental, eu diria que estavam mais de 200 mil. Se contarmos com o mar de gente que era a Rua Augusta e as outras praças, não é difícil chegar às 250 mil pessoas. Meus amigos, eu não quero ver uma Igreja forte e sem crises. Esta Igreja fraca e sem fiéis já é suficiente. Uma Igreja forte é capaz de meter medo e causar golpes de estado.
O primeiro-ministro, hoje, saiu de um encontro com Sua Santidade, e disse: «O Papa é um homem culto»; na mesma linha, ontem, Medeiros Ferreira escreveu que apreciava o Papa «como intelectual»; e, hoje, Francisco José Viegas também escreveu: «Joseph Ratzinger é uma das grandes figuras da Europa intelectual de hoje.» E medito: se José Sócrates, Medeiros Ferreira e Francisco José Viegas coincidem na apreciação às «capacidades intelectuais» de Sua Santidade não há mais nada a dizer.
The visitant from Spam Cartoon on Vimeo.
O governo veio de Bruxelas, no fim-de-semana, com um PEC 2 na bagagem: o deficit deverá situar-se, no final de 2010, em 7,3% (e não nos 8,3% do PEC1). Esta alteração obriga, em princípio, à cobrança de receitas não previstas até aqui (para além dos adiamentos do novo aeroporto e da terceira travessia do Tejo). Nestas circunstâncias, o governo «pondera» – leio nos jornais – a aplicação de um «imposto especial» sobre o 13º mês, para além do aumento do IVA. Não «ponderou», em primeira linha, ou a par, um «imposto especial» sobre os lucros das instituições financeiras, por exemplo. Não. O governo «ponderou», em primeiro lugar, obter parte da receita directamente dos salários, o que é sempre mais fácil. Isso permitiu ao PSD tomar a iniciativa e exigir a redução de 2,9 % dos vencimentos de políticos e gestores públicos e redução da despesa do Estado em montante igual às receitas extraordinárias arrecadadas. O que faz todo o sentido. Aliás, em Espanha, Zapatero propôs uma redução de 15% dos salários dos membros do governo. Não está em causa o montante a poupar, mas o exemplo que deve ser dado. E há muitas despesas do Estado e de empresas públicas, nomeadamente relacionadas com mordomias e salamaleques, automóveis, gasolinas e representações, que deviam ser extintas de uma vez por todas. É o momento oportuno para afrontar a mania das grandezas e de ostentação em que o Estado se embrenhou.
«Não vale a pena tentar impor o respeitinho universal. A eucaristia pagã de anteontem, no Marquês, para celebrar a vitória do Benfica, não difere da celebração da Eucaristia prevista para logo ao fim da tarde no Terreiro do Paço. A despeito do enfado, uma e outra merecem respeito. Mais do que isso é coisa de ayatollah.»
Durante ano e meio um Grupo de Reflexão (criado por iniciativa do Conselho Europeu, em Dezembro de 2007), coordenado por Filipe González, debruçou-se sobre as saídas para esta Europa envelhecida. O relatório final sobre o futuro da EU em 2030 (48 páginas, na versão espanhola, apresentado no sábado em bruxelas) faz o diagnóstico e aponta, em traço grosso, algumas linhas mestras de acção: o crescimento assente no conhecimento (investigação cientifica e tecnológica e educação); o desafio da demografia (mudar a política migratória potenciando a imigração qualificada); política energética (aposta no nuclear e nas energias renováveis); renunciar a qualquer tipo de reformas antecipadas, entre outras medidas, como as que se referem a direitos, liberdades e a participação dos cidadãos. Um documento a merecer leitura atenta, antes que o metam na gaveta.
O Juiz espanhol Baltazar Garzón ganhou, ao longo de décadas, a fama de «justiceiro». No último caso que tem entre mãos (um processo de corrupção que envolve diversos dirigentes regionais e nacionais do PP) decidiu mandar escutar as conversas de detidos no referido processo com os seus advogados. Esta decisão valeu-lhe passar de acusador a acusado e responder perante o Supremo por violação das garantias de intimidade. Não sei se, com a acusação contra Garzón, a luta contra a corrupção sai diminuída; mas sei, isso sim, que levar um juiz ao banco dos réus acusado pelo crime de violação das garantias de intimidade, mesmo no desempenho das suas funções, é uma boa notícia para os direitos, liberdades e garantias dos cidadãos. Mas nós, por cá, ao que parece, não temos no ordenamento jurídico essa garantia de intimidade dos cidadãos. Se temos, prevalece a irresponsabilidade das decisões dos juízes. Há quem use a luta contra a corrupção como quem usa a luta contra o terrorismo, como instrumento de limitação de garantias dos cidadãos.
Hoje, dez ex-ministros das Finanças foram a Belém conversar com o senhor Presidente da República. Conversa amena entre entendidos, presume-se. Amena e discreta: manifestaram, apenas, à saída, a «profunda preocupação» com a situação e avisaram que Portugal precisa de «medidas adequadas e urgentes» para ultrapassar a crise, acrescentando a sua a convicção de que «os portugueses apoiarão as medidas necessárias». A «profunda preocupação» e a necessidade de «medidas adequadas e urgentes» já o meu barbeiro, na semana passada, me transmitira, precisamente nos mesmos termos. Quanto ao «apoio dos portugueses», o meu barbeiro foi mais explícito: «não há nada a fazer, somos uma cambada de carneiros». A verdade é que, quando a manta é curta, não há santos milagreiros.
O artigo de Paul Krugman, publicado no i:
«As mensagens de correio electrónico em que nos devemos deter são as dos funcionários das agências de avaliação do risco de crédito (credit rating agencies), que atribuíram uma classificação AAA a centenas de milhares de milhões de dólares de activos duvidosos que se viria a perceber mais tarde serem quase todos lixo tóxico. Não se pense que se trata de uma hipérbole. Longe disso: dos títulos hipotecários subprime classificados com AAA em 2006, 93% – 93 por cento! - foram agora considerados lixo.»
A senhora Ângela Merkel não acredita na bondade das agências de rating e propõe a criação de uma agência europeia e uma regulação mais estreita sobre a especulação nos mercados financeiros; a senhora Ângela Merkel é, também, de opinião que a aplicação do PEC português será suficiente para evitar a situação em que a Grécia se encontra. Não tarda muito a senhora Ângela Merkel dirá que, em Portugal, com um investimento público diminuto, o crescimento económico será negativo e isso colocará em causa os objectivos a alcançar com PEC. A senhora Ângela Merkel só diz o que diz porque não lê os nossos comentadores políticos, sobretudo aqueles que politicamente a admiram. Mas tem a desvantagem de ter de pagar uma grande parte da factura se se enganar, o que não acontece com os nossos arautos da falência.