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A falta de memória não ajuda a entender determinadas situações. Leio aqui, pela pena de Paulo Pinto Mascarenhas: «A entrada de Fernando Nobre na corrida das presidenciais baralha o jogo das esquerdas. É um sinal de divisão no interior do Partido Socialista que ajuda a transformar a recandidatura de Cavaco Silva num passeio até Belém.» Quem tem memória sabe que se escreveram coisas iguais ou semelhantes em 1985. Explico, parafraseando: «A entrada de Salgado Zenha, depois de Maria de Loures Pintasilgo, na corrida das presidenciais baralha o jogo das esquerdas. É um sinal de divisão no interior do Partido Socialista que ajuda a transformar a candidatura de Freitas do Amaral num passeio até Belém.» A história não se passou assim e erraram todos os que assim escreveram.
No dia em que um «iluminado» (ou um grupo de «iluminados») puder alterar as consequências de resultados eleitorais com o argumento de que o «povo se enganou» sem se recorrer a novas eleições, nos termos constitucionais, lá se foi a democracia; No dia em que um «iluminado» (ou um grupo de «iluminados») puder desrespeitar impunemente decisões judiciais com o argumento de que o «juiz se enganou» ou que «estão todos feitos uns com os outros», sem recurso à hierarquia judicial, lá se foi o Estado de Direito; no dia em que não houver democracia, nem Estado de Direito; lá se foram as liberdades. Em todas as épocas apareceram «iluminados» com «boas intenções». Sabemos quais foram os resultados.
Ainda esperei que, após conhecer a sentença judicial, Gonçalo Amaral, autor do livro A Verdade da Mentira, à porta do Tribunal declarasse: «Não me conformo com esta decisão. Vou vender e divulgar o meu livro por todos os meios ao meu alcance. Se me conformasse estava a aceitar um inqualificável atentado à liberdade de expressão.». Mas apenas disse: «Respeito a decisão judicial». E comento com os meus botões: se a editora de Gonçalo Amaral fosse de «empresários angolanos», gente habituada a defender a liberdade de expressão, esta coisa não ficava assim.
A distracção é tal que já ninguém repara que Alberto Contador, o melhor ciclista do mundo, vencedor da última Volta à França, é desde ontem camisola amarela na Volta ao Algarve.
O Mário Rui reabriu o Palâtre e explica como Kant escreveu a Crítica da Razão Pura.