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A falta de memória (mesmo para quem não viveu, mas que sabe ler) é uma coisa que me deixa perplexo. Joana Amaral Dias escreve: «Hoje, ou se condena a actuação de Sócrates ou se é cúmplice.» Esta fórmula é tão antiga como o Estado Novo, pelo menos. Frases destas faziam parte do quotidiano da propaganda salazarista para rotular de comunistas todos os opositores ao regime: católicos progressistas, liberais, sociais-democratas e por aí fora. E ainda fica a pergunta: cúmplice com o quê, minha senhora? Joana Amaral Dias quer mandar prender, por «cumplicidade», todos os portugueses que elegeram Sócrates? Haja decoro!
Rui Pedro Soares, administrador da PT, nomeado pelo Estado, renunciou ao cargo.
O F C Porto ganhou ao Arsenal, no Dragão, por 2-1.
Fernando Nobre, médico, fundador e líder da Assistência Médica Internacional, vai apresentar a sua candidatura à Presidência da República, sexta-feira, às 20 horas, no Padrão dos Descobrimentos. Fernando Nobre não é um homem «de partido», apesar de acompanhar a vida política: em 2002, participou na Convenção do PSD, foi membro da Comissão de Honra e da Comissão Política da candidatura de Mário Soares à Presidência da República, em 2006, foi mandatário nacional da campanha do Bloco de Esquerda, nas últimas eleições para o Parlamento Europeu, em Junho de 2009 e, ainda em 2009, foi membro da Comissão de Honra da candidatura de António d’Orey Capucho à presidência da Autarquia de Cascais. Esta candidatura, a primeira a ser oficialmente apresentada, é um forte indício da vitalidade da democracia portuguesa e vem ampliar o leque de opções dos eleitores.
Adenda:
«Resolvi assumir um compromisso com o meu país, Portugal. Serei candidato independente, apartidário e em nome da cidadania, a Presidente da República, nas próximas eleições de 2011.
Fernando Nobre, no seu blogue.
Consta que Oliveira Salazar recebia no seu gabinete de trabalho, em S. Bento, Silva Pais, o director da Pide, com quem despachava directamente os «assuntos de Estado» da competência da polícia política. A conversa entre os dois, em certas ocasiões, é fácil de adivinhar. Silva Pais, risonho e triunfante (já esquecido aquele soberbo raspanete dado pelo velho ditador de Santa Comba Dão a propósito dos devaneios amorosos de sua filha, amante de generais cubanos) informava sobre a recente prisão de não sei quantos comunistas e o desmantelamento de células inteiras. Salazar, parco em palavras e entusiasmos, deixava descair, nariz abaixo, os óculos e perguntava, objectivo: e como o senhor conseguiu tal sucesso? Introduzimos um agente qualificado, a quem demos um curso de marxismo, numa célula na margem sul do Tejo, respondia o director da Pide, com os olhos a brilhar de contentamento. Salazar, ajeitava a manta sobre os joelhos, e dizia, num tom seco e com voz de falsete: admiro a coragem desse homem em explicar-nos como funciona a “rede tentacular” dos comunistas. De seguida, agradecia a Silva Pais o seu «engenho e arte» ao serviço da Nação e despedia-se do homem à distância. Hoje, o vale tudo reinante, tem a ver com a perda da memória do passado.
Os Pides morrem na rua. Há muitos anos que não me lembrava desta frase-palavra de ordem saída da boca da maralha que ocupou o centro de Lisboa, do Rossio ao Chiado, do Martim Moniz ao Terreiro do Paço, a partir da manhã de 25 de Abril de 1974. Na boca de um povo pacífico, que ornamentou os canos das espingardas com cravos, a frase a pedir o linchamento dos «pides» significava, sobretudo, a profunda e sentida aversão à polícia política do regime deposto e aos seus «métodos de actuação». Estava ainda, por esses dias, fresca a memória dos tempos da Direita autoritária, fascista; os tempos de repressão e de prisões por delito de opinião, de torturas e assassinatos; os tempos da polícia política – a PIDE. Esta, entre outros métodos, procurava infiltrar agentes seus (ou bufos), disfarçados de «oposicionistas», no interior de organizações anti-fascistas. Era um dos modos de conhecer o que aí se fazia, o que aí se dizia, e os documentos políticos que por aí circulavam. Quando obtinham a informação, iam entregá-la à rua António Maria Cardoso, e desapareciam. Ficavam de novo disponíveis para dar vivas a Salazar. Esta era gente execrável. Energúmenos sem migalha de carácter. Vómitos produzidos por uma sub-cultura política. Hoje, estão a ser recuperados muitos destes métodos antigos mercê do aparecimento de muitos destes energúmenos que encontram albergue em jornais e nalguns círculos de uma Direita revanchista, caceteira. Podia dizer que me lembrei da frase os Pides morrem na rua a propósito de uma peça no Correio da Manhã, de hoje, que envolve o Simplex, blogue em que colaborei. Mas não foi só por isso.
Adenda: sobre o mesmo assunto:
Escândalo: o governo faz política, por Pedro Adão e Silva, no Léxico Familiar.
A Central, por Eduardo Pitta, no Da Literatura.
A ética do bufo, por Rogério da Costa Pereira, no Jugular.
Do 37º e 38º, por André Couto, no Delito de Opinião.
Os ratos, por Tiago Barbosa Ribeiro, no Metapolítica.
Dos métodos totalitários de propaganda, por Sofia Loureiro dos Santos, no Defender o Quadrado.
A espuma dos dias, por Vasco M. Barreto, no Aparelho de Estado.
Da ética, por Luís Novaes Tito, no A barbearia do senhor Luís
«Como pode o Governo sair-se desta confusão, e como pode o PS ressarcir-se das amolgadelas que tem sofrido com insistente crueldade? Chega a ser uma falta de compaixão as sovas monumentais que ambos apanham, sem tréguas nem sossego. A situação política portuguesa é pouco decorosa. Sócrates não sai por ego, orgulho e vaidade, igualmente incomensuráveis. Mas também tem os votos a seu favor. A última sondagem, há poucos dias, é-lhe expressamente favorável. Ninguém se atreve a correr com ele, na situação em que a pátria se encontra. Quando Capoulas Santos e António Costa, lisos, formais e lacónicos, colocaram a questão singela "Porque não apresentam uma moção de confiança?", toda a oposição gelou de cobardia.»
Baptista-Bastos, DN, 17.02.10.