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Dizem-me com voz mansa que Portugal corre apressado para o abismo; que as instituições estão desacreditadas e o regime está moribundo. Há pelo menos 150 anos que, todos os anos, se diz a mesma coisa. Já ninguém acredita. Bom Ano de 2010.
Agradeço ao João Espinho (Praça da República em Beja) e a João Ferreira Dias (Kontrastes) o benevolente destaque do Hoje há Conquilhas entre os seus blogues preferidos no ano de 2009.
Na sua última crónica no DN, João Miguel Tavares decidiu achincalhar os ortodoxos da «asfixia democrática».
Tenho acompanhado a odisseia dos clientes do BPP para reaverem os seus depósitos. Ontem, à porta do banco na Foz, no Porto, alguns clientes protestavam. Uma cliente dizia: «Encheram-me a carteira de produtos tóxicos», enquanto outra dizia: «Estamos pior que no tempo da PIDE». Riscos de investimento: só perde quem tem, digo eu. Parafraseando o senhor Presidente da República: estou mais preocupado com o desemprego.
Hoje, no Correio da Manhã, a insuspeita Constança Cunha e Sá, escreve sobre o estado do PSD. Em memória do PSD é o título da crónica. Está lá o essencial. Só não vê quem não quer ver.
Francisco José Viegas tinha chamado a atenção, na Ler de Novembro, para um dos disparates da temporada: a propalada «revolução tecnológica» que teria decorrido durante a Feira do Livro de Frankfurt. O marketing da Amazon tinha, então, criado essa «revolução tecnológica», apenas se baseando na expectativa do lançamento do seu Kindle - um leitor de livros electrónicos. O marketing da Amazon criou ontem a «segunda revolução tecnológica». Em comunicado, aquela empresa diz que «no dia de Natal, pela primeira vez, os clientes da Amazon compraram mais livros electrónicos do que em papel.» Este é um facto naturalíssimo e que não altera em nada a relação actual entre a venda de livros e livros electrónicos: quem recebeu como prenda, na noite de Natal, um e-book Kindler (o produto mais vendido pela empresa, em Dezembro, e acessível a partir de qualquer país do mundo) comprou livros electrónicos no dia de Natal e não livros em papel. Mas, na espuma dos títulos, o que o comunicado da Amazon sugere é que a venda do livro electrónico já ultrapassa o livro em papel. É um golpe bem feito. João Pedro Pereira, no Público, termina o seu texto sobre este assunto, com uma evidência: «Na sequência do comunicado da Amazon, as acções da empresa subiram 2,53 dólares, para os 141 dólares.» O objectivo do comunicado da Amazon está à vista.
Escreve, no Lóbi do Chá, José Costa e Silva: «Os professores até podem conseguir a melhor revisão do estatuto da carreira docente e o modelo de avaliação mais favorável, mas duvido que depois deste regateio consigam ter a simpatia do país. Já se sabe que das mais variadas lutas dos sindicatos, não consta o prestígio.» Concordo. A tranquilidade dos professores e os altos salários – todos chegarem ao topo da carreira para obter uma boa reforma - não vão dar para pagar todos os prejuízos.
O Natal de 2009 bateu recordes históricos nas operações de Multibanco, tendo sido efectuadas no dia 23 mais de 6,8 milhões de operações no total da rede de terminais de pagamento automático e caixas automáticas, escreve o i, citando um comunicado da SIBS. Parece que ninguém acredita nos arautos da desgraça.
O Presidente da República promulgou o diploma da Assembleia da República que altera a data de entrada em vigor do Código dos Regimes Contributivos do Sistema Previdencial de Segurança Social, aprovado pelos partidos da oposição. E argumentou:
«A promulgação do presente diploma não impede o Governo de relançar, logo que considere oportuno, a discussão em torno do Código dos Regimes Contributivos do Sistema Previdencial de Segurança Social, introduzindo os aperfeiçoamentos que considere adequados e abrindo um espaço de discussão aprofundada com os parceiros sociais e com os partidos políticos representados na Assembleia da República.»
É um argumento que se entende no actual contexto parlamentar e governativo. E não vale a pena o PS esbracejar muito porque daí os dividendos a retirar são curtos.
União Europeia, Rússia, Itália, Reino Unido, França, Alemanha, Canadá, Áustria, Noruega e Estados Unidos já reagiram à violência policial e à prisão de manifestantes e de líderes da oposição em Teerão, no Irão.
Sofia Loureiro dos Santos, assim de mansinho, quase sem se dar por isso, com um exemplo concreto, escreve sobre a preguiça dos jornalistas e, consequentemente, sobre o mau jornalismo que por aí se pratica.
Corre por aí uma conversa sobre responsabilidade e liberdade de opinião de comentadores e colunistas da nossa praça. Há quem lhes queira dosear o espírito crítico. Até o próprio presidente do Supremo Tribunal de Justiça, Noronha do Nascimento, veio à liça sugerir um «poder disciplinar» ou censório tutelado pelo poder político. Deve ter sido um deslize, mas não nos podemos fiar. A liberdade de expressão (e a liberdade de imprensa) não se compadece com esta conversa de treta que a pretende conter. Mas, por favor, não excluam do exercício da liberdade de expressão ninguém, nem o senhor Presidente da República, nem Sua Santidade, o Papa e os seus Bispos. Gato escondido com rabo de fora não vale.
Vasco Pulido Valente escreve no Público de hoje: «Ao contrário do que por aí anda a declarar, o que lhe convém (a Cavaco Silva) hoje é "alimentar a polémica com Sócrates". Diariamente, continuamente, sem ambiguidade ou fraqueza. Na ausência de uma oposição, tem ele de substituir a oposição.» É claro que Cavaco Silva sabe isso (não fosse ele um dos políticos portugueses há mais anos no activo) e tem-se esforçado, e muito, por "alimentar a polémica com Sócrates", apesar de uns meninos de coros, meio ceguetas, que por aí circulam, tentarem tapar o sol com uma peneira.
Não sou muito dado à euforia natalícia. As luzes dos centros comerciais provocam-me enxaquecas e as compras porque sim dão-me náuseas, apesar de saber que sem este ritual o comércio definhava, a economia continha-se e o desemprego aumentava (do Natal, guardo apenas na memória um «menino Jesus» que na minha infância me colocava bugigangas na chaminé - e eu tinha mesmo uma chaminé a sério e não um exaustor por cima do fogão). Mas, o Natal – uma festa religiosa –, nos dias que correm, pelo menos no mundo judaico-cristão, é uma celebração comercialmente transversal a todos os credos. Contudo, não é assim em todas as paragens. E porque hoje é dia de Natal, a minha homenagem vai para Liu Xiaobo, de 53 anos, que participou nos protestos de 1989 na Praça de Tiananmen, em Pequim, a favor da democratização do país, e que foi hoje condenado a 11 anos de prisão por ter assinado um documento em que se pedia a democratização do país. É caso para dizer: o Partido Comunista da China meteu-lhe uma «prenda» no sapatinho.
Sobre as escutas ao primeiro-ministro, toda a gente já percebeu o essencial: por um lado, o Presidente do Supremo Tribunal de Justiça, Noronha de Nascimento, no «uso de competência própria e exclusiva, proferiu decisões onde julgou nulos os despachos do Senhor Juiz de Instrução que validaram as extracções de cópias das gravações, não validou as gravações e transcrições e ordenou a destruição de todos os suportes a elas referentes»; por outro lado, as referidas escutas não contêm «indícios probatórios que determinem a instauração de procedimento criminal contra o Primeiro-Ministro, designadamente pela prática do crime de atentado contra o Estado de Direito». Mas o PSD, na linha da sua fuga para a frente, iniciada a 27 de Setembro, ainda não percebeu, ou melhor, percebeu mas faz-se de desentendido, e pede mais esclarecimentos ao Procurador-Geral da República sobre as badaladas escutas. No fundo, a actual direcção do PSD sabe que não tem propostas políticas que convençam os portugueses e apenas acreditam que só um escândalo tipo Tiger Woods lhes devolveria a dignidade perdida. Por isso, apostam na coscuvilhice. É muito pouco, muito pouco mesmo.