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A Associação Nacional de Proprietários vai divulgar uma lista de inquilinos incumpridores, à semelhança de outras listas públicas, como a lista de dívidas aos operadores de telemóveis, a lista dos cheques sem provisão, a lista das prestações de crédito não liquidadas aos Bancos, as listas de apólices não pagas às seguradoras, as listas das dívidas ao Estado. O verdadeiro perigo destas «listas negras» (que tiveram origem na Direcção Geral dos Impostos, e que apenas denunciam a pobreza, por um lado, e o mau funcionamento da Justiça, por outro), vai ser quando atingirem o momento de não retorno, ou seja, quando a quantidade de nomes nestas listas motivar o orgulho de quem lá consta.
Paulo Portas insiste, com razão, que o Estado devia pagar juros na devolução dos impostos cobrados a mais. Este é um exemplo, entre muitos outros, da prepotência do Estado contra os cidadãos. Temos assistido, nos últimos anos, na legislação fiscal, a uma desenfreada escalada contra os mais elementares direitos dos cidadãos. Tudo foi aceite em nome da luta contra a evasão fiscal. A cultura dominante insiste na ideia de que os cidadãos estão «ao serviço» do Estado; mas, em democracia, é bom não esquecer, o Estado deve estar ao serviço dos cidadãos.
Para além do desemprego, do endividamento externo e de outros males que nos apoquentam, a vida tem coisas belas: coisas de amor. O padre Rui, de 26 anos, a pastorear em Carvalho, freguesia de Celorico de Basto, mandou o sacerdócio ás favas (em carta de despedida ao arcebispo de Braga) e fugiu com a sua amada – Fátima, de 18 anos. Provavelmente o padre não deixará de amar Cristo, mas casar com Cristo não estava nos seus planos. Preferiu casar com Fátima, que tem nome de santa, mas é de carne e osso.
Nas Filipinas, um senhor de nome Mangudadatu anunciou a candidatura a governador da província de Maguindanao. Num escritório da «comissão eleitoral» do candidato entraram 50 gajos armados e levaram o pessoal que estava por lá: 13 mulheres e 8 homens, entre os quais a mulher e outros familiares do candidato, apoiantes do candidato e jornalistas. Apareceram hoje todos decapitados. Decapitados, mesmo. Um militar declarou que «os atacantes queriam impedir que Mangudadatu disputasse as eleições de Maio». Outras fontes militares asseguram que o grupo armado foi contratado pelo opositor de Mangudadatu. Era bom que eles pudessem discutir o deficit, as auto-estradas para Manila e o aeroporto da cidade de Cidade Quezon durante a campanha eleitoral. Tudo é relativo.
(Na imagem: eleição de misse Filipinas)
(Adenda: Mais 13 cadáveres foram hoje encontrados nas Filipinas elevando para 35 o número de pessoas assassinadas por homens armados no sul do país. Os corpos das vítimas abatidas, das quais pelo menos 14 mulheres, estavam cravados de balas).
Aguiar-Branco disse hoje que «nos próximos anos a governação do país passa obrigatoriamente pelo grupo parlamentar do PSD.» Depois, quando for o momento próprio, espero que o PSD não sacuda a água do capote.
Dizia-se por aí que o Benfica ia «desaparecer» depois do Natal. O sumo de laranja que Jesus dá aos jogadores – o segredo das goleadas – tem efeitos secundários. Ainda estamos longe do Natal e os efeitos já são visíveis.
A V Internacional está a caminho pela mão de Hugo Chávez. A I foi fundada por Karl Marx; a II caiu nas mãos de marxistas reformistas e sociais-democratas; a III foi fundada por Lenine; a IV por Trotsky. Agora, o antigo coronel Hugo Chávez vai fundar uma nova Internacional, a V. Vai ser interessante seguir a posição do PCP e do BE em relação a este movimento internacionalista lançado pelo presidente venezuelano. Sobretudo do BE: é que a IV Internacional ainda mexe.
Excerto de Resolvido O Caso do Microfone Direccionado, por Ferreira Fernandes, DN, 22.11.09:
Voltando ao meu processo. A 5 de Novembro, havia gravações de Vara a pedir dez mil euros. Hoje, sabe-se que nunca houve gravações. A minha sentença: há investigadores e/ou jornalistas mentirosos no Caso das Falsas Gravações de Vara dos Dez Mil Euros. São curtas as conclusões do meu processo, mas têm o mérito de se basearem em factos.
A agonia de um partido, por Vasco Pulido Valente, Público, 22.11.09:
Enquanto o país brama contra a justiça e a corrupção (os jornais de ontem só quase falavam disso), no centro do regime, o PSD apodrece. A derrota eleitoral e a permanência de Ferreira Leite não contribuíram, como era de prever, para uma transição regular e ordeira. Pelo contrário. A intriga ferve por toda a parte: nas distritais, no Parlamento, na direcção. Personagens completamente desconhecidas vieram à superfície na sopa turva de uma guerra civil interminável, enquanto diariamente se fazem e desfazem alianças sem programa, nem propósito e no Instituto Sá Carneiro (pobre Sá Carneiro) algumas criaturas de outro mundo se preparam para descobrir o qual é afinal a verdadeira "identidade" do partido. Não se consegue imaginar uma situação mais catastrófica.
Pior ainda, além das grandes divisões do passado (entre a "social-democracia" da elite e o populismo das "bases", por exemplo), apareceram agora novas divisões. Primeiro, a divisão entre a tendência para a "estabilidade" e um temporário compromisso com o PS, isto é, para o "bloco central" e a tendência para uma oposição de princípio, que paralise rapidamente o Governo e o torne inviável. Segundo, a divisão entre os que preferem dar prioridade à política económica de Sócrates (se, de facto, ela existe) e os que preferem um ataque sistemático à corrupção, supondo talvez que o PSD não será afectado. E, terceiro, a divisão entre os que se propõem ressuscitar as "regiões" (com PS, claro) e os que sensatamente têm medo de consumar o caos. No meio desta miséria, há também quem recomende, sem se rir, o misterioso exercício de "federar ideias".
O único candidato declarado a encabeçar a loucura vigente é Pedro Passos Coelho, um homem bem intencionado e hábil, mas manifestamente imaturo. Marcelo continua a pairar, esperando o que por aí se chama uma "vaga de fundo" ou simplesmente sem estômago para o que se exigiria dele. E Aguiar-Branco, apesar da ambição que lhe suspeitam, não passa, em teoria, de um putativo candidato. No fundo, o PSD anda à procura de um chefe e não encontra nenhum. E, não encontrando nenhum, acabará fatalmente com um chefe de acaso e de recurso, que presidirá, inerme, à sua desintegração final. A República, como incessantemente se repete, depende dos partidos. Com o PSD, já não pode contar.
Uma certa direita está muito traumatizada. Motivo: os portugueses votam maioritariamente nos socialistas. «Há 14 anos que estão no poder» – dizem desesperados. Um homem de letras com pergaminhos firmados, Vasco Graça Moura, não é de meias tintas e diz, como quem escreve um poema: só os atrasados mentais votam nos socialistas e, de seguida, manda o pessoal assoar-se ao guardanapo. Dizem as línguas viperinas que tais desmandos se devem apenas a dores de cotovelo: Vasco Graça Moura ambicionava ocupar o cargo da senhora Canavilhas. Eu não acredito numa dor de cotovelo assim tão forte. Ele não é desses vaidosos e ambiciosos que por aí pululam. Aliás, estou convencido que Vasco Graça Moura foi para deputado europeu com o mesmo espírito de abnegação de qualquer soldado mobilizado para o Afeganistão. Uns trocos no vencimento não fazem a diferença. Agora (qualquer tema serve), apareceram por aí outras vozes – da direita, naturalmente – empolgadas contra a nomeação dos governadores civis. «O povo não o elege? Obviamente, nomeie-se» – dizem. E talvez com razão. Eles lembram-se daquele tempo de felicidade absoluta, em que Portugal era um paraíso, quando Cavaco Silva e Durão Barroso, enquanto primeiros-ministros, convocaram eleições para eleger os governadores civis. Foi, então, uma grande festa da democracia. Apesar disso, ainda há línguas maldosas que dizem que os governadores civis nessa altura foram escolhidos por Dias Loureiro, o antigo Conselheiro de Estado. Calúnias, suponho. E como estes dois exemplos, há milhares deles a «justificarem» o traumatismo craniano da direita portuguesa.
Dia 26 deste mês, em Faro, realiza-se um debate sobre o tema a Tuta absoluta ataca os tomateiros. Às 10 horas, uma engenheira da Direcção Regional de Agricultura e Pescas falará sobre «os meios de luta à Tuta absoluta».
Rodrigo Moita de Deus esqueceu-se de acrescentar o valor de um jantar com o líder do grupo parlamentar do PSD.
As «escutas» já chegaram ao Luís Figo em manchete no Correio da Manhã. O ambiente está propício às mais desbragadas aventuras noticiosas, ao boato sob a forma de «notícia». A bagunça vai tão alta que Vasco Pulido Valente, no Público de hoje, já escreve que «não é legítimo, nem recomendável arriscar nessa querela (tentar remover Sócrates de cena) a própria integridade do regime.» Acompanha-o José Pacheco Pereira, ontem na Sábado: «ou se penaliza os jornalistas e o jornal por essa violação (do segredo de justiça) ou qualquer protesto é vão.» Em Portugal, uma parte da oposição ao Governo, ao PS e a José Sócrates abandonou definitivamente o território da política, onde se sente pouco à vontade porque deixaram de pensar. Age como o Hammas: atiram bombas para cima da população indefesa. Mas com uma diferença significativa: aqui, atiram as bombas de longe cientes da impunidade que a lei e a Justiça lhes oferece; lá, na Palestina, quem transporta a bomba também morre.
Uma mão de Thierry Henry colocou escandalosamente a França no Mundial de futebol; Carlos Queiroz não pode voltar ao jornal de sexta-feira, na TVI, onde Manuela Moura Guedes o tratou como um mentecapto; há um papagaio de nome Santos a debitar patetices sobre futebol na SICN; avisem o Mário Nogueira que não deve convocar manifestações de professores em Junho e Julho do próximo ano; a Eslovénia – aquela pequena República Jugoslava – afundou a Rússia de Putin e companhia; a unidade nacional na Bósnia-Herzegovina ficou por um fio; a Africa do Sul segue dentro de momentos. Só mais um pormenor: 14 galerias de arte de Barcelona juntaram-se numa mostra simultânea de arte contemporânea sobre futebol.