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O Benfica viu Braga por um canudo. Talvez já nem alterem o nome do estádio da Luz. Agora, por favor, não entrem em depressão. Ainda podem ser campeões de Inverno…
Adenda: bem-aventurados aqueles que detestam o futebol; esses, seguirão directamente para o Reino dos Céus.
Territórios de Caça (Quetzal) é o último romance de Luís Naves (Lisboa, 1961), que assume o papel de narrador, como Lajos Kormányos, nascido em Budapeste. Reside no terceiro andar da Rua Gogol, numa imprecisa cidade húngara, num prédio construído em 1906. E Fárkas – um médico que nunca tivera família – mora no andar de cima. «A rua Gogol deve ser das mais agradáveis da nossa cidade: tem fileiras de faias pujantes, muitas delas plantadas no início do século. Durante o regime comunista, as melhores casas foram nacionalizadas, para alojar trabalhadores. No fim do regime, foram vendidas, a bons preços.» Kormányos e Fárkas enleiam e confrontam o passado e o presente, traições, medos e fugas, na paisagem de dois regimes.
Zelaya, um dos maiores empresários hondurenhos e o Presidente das Honduras deposto há 4 meses pelo Exército a pedido do Congresso e do Tribunal Supremo, parece que vai regressar ao seu cargo de Presidente sob os auspícios dos Estados Unidos da América. As agências noticiosas dizem que o acordo foi obtido «depois de uma visita de responsáveis da secretaria de Estado norte-americana». Para quem comparou o afastamento de Zelaya ao golpe de Pinochet, em 1973, no Chile, deve sentir-se agora muito incomodado pelo facto de Zelaya regressar à Presidência pela mão dos americanos. Mais duas ou três destas e – crentes como eles são - ainda vão dizer que os EUA são «o sol que ilumina a terra» ou o «farol do socialismo no mundo»
Miguel Relvas, ex- secretário-geral do PSD acusou as personalidades social-democratas (Paulo Rangel, José Luís Arnaut, Alexandre Relvas e José de Matos Correia) que quinta-feira defenderam Marcelo Rebelo de Sousa para próximo presidente do partido de serem «co-responsáveis pelo desastre eleitoral» nas últimas eleições legislativas. Já antes Rui Manchete, presidente da mesa do Conselho Nacional do PSD, tinha afirmado «Para muitos militantes, o PSD transformou-se numa máquina de conquista de poder.»
Estava escrito nas estrelas que a direita, quando chegasse o momento, iria pedir que a legislação que permita o casamento entre pessoas do mesmo sexo fosse sujeita a referendo. Hoje, no Público, Jorge Bacelar Gouveia, deputado do PSD, deu o pontapé de saída. Não entendo porque motivo a direita se sente tão incomodada com a liberdade e os direitos dos outros, a não ser por submissão à doutrina do Vaticano. Mas há muito tempo que, por cá, a Igreja se separou do Estado. Os argumentos de Bacelar Gouveia são de uma fragilidade assustadora. Como diria Vasco Pulido Valente, são argumentos de «trolha ou de tipógrafo semi-analfabeto», o que não fica bem a um professor catedrático. Primeiro argumento: a prioridade. Não é um assunto prioritário «perante a crise económico-financeira». Podia também ter acrescentado «perante as listas de espera nos hospitais». A liberdade e os direitos dos cidadãos só não são prioritários para quem pensa que a democracia é estática e está adquirida. Mas a democracia não é um colete-de-forças, é o regime que nos permite continuamente exigir mais liberdade e mais direitos. Segundo argumento: no «quadro parlamentar existente, sem uma maioria absoluta» a legislação exigiria um quadro negocial, o que é mau, segundo o ilustre deputado do PSD. Ou seja: se a legislação fosse produzida por um único partido com maioria absoluta, tudo bem, mas o encontro de perspectivas de vários partidos, não é conveniente para produzir tal legislação. Perece-me elementar que é mais seguro o encontro de vontades políticas de vários partidos porque mais abrangente e representando segmentos mais amplos da sociedade portuguesa. Terceiro argumento: o PS não falou durante a campanha eleitoral sobre o assunto. É falso. Falou em devido tempo e inscreveu no seu programa eleitoral. Se José Sócrates não foi questionado sobre o tema no debate com Manuela Ferreira Leite foi, certamente, porque a presidente do PSD não achou necessidade de discutir o assunto. Finalmente, reconhecendo legitimidade à Assembleia da República para legislar sobre o assunto, Bacelar Gouveia acrescenta que «o casamento gay é muito mais um assunto da sociedade e não tanto um assunto do Estado» pelo que deve ser referendado. O Estado não tem assuntos próprios. Todos os assuntos, mesmas as meras decisões administrativas, são assuntos da sociedade desde que produzam efeitos na vida dos cidadãos, nem que seja de um cidadão, pelo que a distinção não faz sentido. Bacelar Gouveia, em nome da direita, está a querer tapar o sol com uma peneira, pensando que o referendo seria uma boa ocasião para a direita ter uma «vitória» política nas urnas. Talvez se engane. Pedir um referendo sobre o casamento civil de pessoas do mesmo sexo só faria sentido político se tal tema não constasse no programa do partido (ou dos partidos) que vai propor a sua votação na Assembleia da República.
Pedro Santana Lopes, o candidato derrotado nas últimas eleições autárquicas, em Lisboa, decidiu assumir o cargo de vereador na Câmara de Lisboa, o que não é inédito: Marcelo Rebelo de Sousa e Macário Correia, candidatos derrotados, assumiram o cargo de vereador. Ter Santana Lopes entre os vereadores da Câmara de Lisboa (mesmo sem pelouro) é uma mais-valia para a discussão dos temas a debater e aprovar pelo executivo municipal e é uma atitude democrática de louvar. Nesta decisão de Santana Lopes deve ter pesado uma outra decisão: a de se candidatar de novo nas próximas autárquicas em Lisboa. E, provavelmente, a esperança de que essas eleições se realizem mais cedo do que o previsto.
Amanhã é o dia da abertura, na FIL, do Salão Erótico de Lisboa. Segundo os organizadores, nesta quinta edição, o destaque vai para as aulas de sexo tântrico. Acho bem. Depois de 3 campanhas eleitorais seguidas, de debates, arrudas e comícios, esta pausa vem mesmo a calhar.
«As notícias chegam de Espanha, de uma manifestação (por acaso de direita, mas com a esquerda seria o mesmo) contra o aborto. Estimaram os organizadores: 2 milhões. A Comunidad de Madrid (do PP, próxima dos organizadores): 1,2 milhões. A polícia: 250 mil. Extraordinária diferença! Mas ainda não viram nada. A empresa Lynce, especialista do assunto, pôs um zepelim no ar, com quatro câmaras de alta resolução e dois vídeos de alta definição. E não estimaram, contaram: 55 316 cabeças! A ciência lá nos deu cabo de mais uma ilusão.»
Ferreira Fernandes, DN, 29.10.09
Ainda estamos no remanso pós-eleitoral, uma quieta melancolia, onde todos se vão medindo uns aos outros. E se o PS perdeu a maioria absoluta, a Oposição não saiu bem deste ciclo eleitoral. A liderança e o rumo do PSD continuam adiados, a definhar, desde que Cavaco Silva de lá saiu. Esperam sentados que o cansaço provoque efeitos e que a este governo socialista não suceda outro governo socialista. Todos espreitam a oportunidade de estar no lugar certo, no momento certo, como quem espera uma manhã de nevoeiro. O BE tem uma liderança inquestionável, mas adiou a sofreguidão de substituir o PS na governação. Louçã adiou a arrogância e a visão megalómana de ser primeiro-ministro. O PCP, depois dos combates de rua dos últimos 5 anos, interiorizou a sua insignificância eleitoral e aguarda com paciência de chinês que o capitalismo apodreça. O CDS-PP ganhou um novo alento, mas nada de significativo. Paulo Portas sabe que o seu peso político crescerá à custa do PSD, o que, a verificar-se, remeterá sempre os socialistas para o governo. As desforras estão marcadas para as presidenciais. Até lá, é só gerir o quotidiano, os egos e os afectos. Nada de reformas, nem de mudanças: o pessoal não gosta.
Os benfiquistas devem desconfiar do que lhes está a acontecer. Lá diz o ditado: quando a esmola é grande o pobre desconfia. E quando vier a ressaca não se queixem de que não foram avisados.
As Voltas de Um Andarilho – Fragmentos da vida e obra de José Afonso (Assírio & Alvim), de Viriato Teles, com prefácio de Sérgio Godinho, agora em edição actualizada pelo autor.
Pelo que tenho lido por aí, alguns comentadores e, mesmo alguns dirigentes partidários (com maior relevância para Jerónimo de Sousa: «o eleitorado rejeitou as políticas de direita»), acham que, quando um partido ganha eleições sem maioria absoluta, não pode, nem deve governar segundo o programa com que se apresentou ao eleitorado. A consequência, para respeitar a vontade dos portugueses, segundo estes iluminados, era o programa do governo incorporar contributos dos programas de todos os partidos. Caricaturando: reduziam-se os impostos e reforçavam-se os corpos policiais; suspendiam-se as grandes obras públicas, nomeadamente o TGV e o novo aeroporto e entregava-se a direcção da RTP 1 e 2 a Pacheco Pereira; nacionalizavam-se os sectores estratégicos da economia, a começar pela banca, e substituía-se o hino nacional pela Internacional. No resto, o PS podia aplicar o seu programa e José Sócrates que gerisse a caldeirada. Haja paciência.
(publicado aqui)
O Atlético de Madrid tem uma grande propensão para contratar treinadores em saldo. Cheguei a pensar que iam contratar Paulo Bento, mas não acertei. Foram buscar o Quique Flores. Azar dos sportinguistas.
Quando um partido se apresenta às eleições e diz, preto no branco, no seu programa eleitoral, que se for governo propõe ao Parlamento legislação que permita o casamento entre pessoas do mesmo sexo e, esse partido ganha claramente as eleições, o assunto está referendado (em sentido lato, naturalmente, isto é, em resultado de um sufrágio, e nos precisos termos em que foi proposto) pelos portugueses. O assunto deve ser discutido e votado na Assembleia da República. Qualquer outra solução é defraudar o voto dos eleitores em 27 de Setembro. (Não entendo porque razão Jorge Ferreira e Vasco Campilho leram à letra a minha referência ao «referendo de 27 de Setembro», como se eu me tivesse referido ao referendo em sentido jurídico-formal. A referência é política e tem a ver com sufragar programas eleitorais e a democracia representativa.) É só.
A propósito de uma entrevista de ocasião, no Correio da Manhã, a uma jovem deputada do PCP, natural de Estremoz, de seu nome Rita, a blogosfera excitou-se com uma resposta sobre o Gulag, em concreto, e sobre a história do movimento operário e comunista, em geral. Essa excitação apenas revela que acreditam que o PCP existe, como «representante da classe operária» e que os seus militantes são de «outra têmpera». Aviso-vos que isso é uma alucinação de sexagenários e septuagenários, quer dentro, quer fora do «partido». O futuro do PCP está na Rita e nas muitas Ritas que hão de aparecer, o que não significa que o «partido» se «destalinize».