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Os assessores de Belém tinham o dever de tirar os caroços das cerejas ao Presidente antes da declaração presidencial.
Tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto é fado, escreveu o poeta.
«Não existe declaração ou escrito do Presidente que refira escutas» - Disse o Presidente da República, desmentindo as «fontes de Belém» citadas pelo Público em 18 de Agosto. Posto isto, há dois factos criados pelo Presidente da República para descalçar esta bota apertada: primeiro, tornar público, em plena campanha eleitoral, que afastou do cargo Fernando Lima (a assumida fonte de Belém); segundo, ter chamado hoje à Presidência da República «entidades com responsabilidades na área da segurança» para lhe explicarem se os e-mails do Presidente «são vulneráveis». Perante toda esta historieta de cordel, o melhor é passar à frente.
Esta «história das escutas» é má para o Presidente da República e é péssima para o bom funcionamento das instituições democráticas e para a democracia, mas tem uma vantagem: um certo tipo de jornalismo ficou moribundo (e furibundo, também).
O Presidente da República não disse nada de essencial para o esclarecimento da história das escutas, o que significa que a história das escutas não passou de uma invenção de assessores da presidência, como toda a gente supunha. Daí a declaração atabalhoada do Presidente assente em «interpretações pessoais» e escamoteando o facto principal que desencadeou a «história»: os textos do Público em Agosto.
É público e notório que José Pacheco Pereira enterrou os dois últimos presidentes do PSD. E lá diz o povo: não há duas sem três.
As diferenças entre António Costa e Pedro Santana Lopes, os principais candidatos à Câmara de Lisboa, são significativas: no Parque da Bela Vista, em Chelas, António Costa quer instalar o Instituto Português de Oncologia e Santana Lopes uma nova Feira Popular.
As maiorias absolutas no parlamento que sustentem um governo têm inegáveis vantagens na estabilidade política e governativa, condição muitas vezes necessária à concretização de reformas estruturais ou ao incentivo do investimento privado e ao crescimento económico. Por essa Europa fora não faltam exemplos de países habituados, há décadas e décadas, a alcançar essas maiorias depois das eleições, quer à esquerda, quer à direita. Em Portugal, a representação político-partidária resultante de eleições, beneficia a criação de maiorias absolutas à direita e cria sérias dificuldades à esquerda. A natureza radical do partido comunista (antes de 1999) e dos partidos comunistas (depois de 1999) – o histórico e o reconstruído – não permite ao PS qualquer veleidade de poder congregar uma «maioria de esquerda» para governar. Daí que, nesta II República, o PSD só tenha uma curta experiência, com Cavaco Silva, de um governo minoritário, enquanto o PS tem várias. É significativo: o PSD governou pela primeira vez com uma maioria absoluta, com Sá Carneiro, em 1980; enquanto o PS, logo no primeiro governo constitucional, chefiado por Mário Soares, em 1976, experimentou a fórmula de um governo sem maioria parlamentar que o sustentasse. Também é significativo que o PS, quando governou coligado ou com acordo parlamentar, foi com o PSD e com o CDS. É neste quadro de fundo, sem maioria parlamentar, que ao PS e a José Sócrates foi conferido pelos portugueses um mandato para governar num contexto de profunda crise mundial e muitas reformas por fazer. Não vai ser tarefa fácil.