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Leio algures que o resultado obtido pelo PSD se ficou a dever ao facto de Manuela Ferreira Leite não ter conseguiu fazer passar a sua mensagem aos portugueses. Com o devido respeito, penso que o problema foi rigorosamente o inverso: os portugueses perceberam muito bem – muito bem, mesmo – a mensagem de Manuela Ferreira Leite.
Na declaração de «vitória», ontem à noite, no espaço Vitória, Jerónimo de Sousa não conseguiu disfarçar a desilusão que lhe ia na alma. E não era para menos: o PCP não colheu sequer uma leve brisa das tempestades que semeou. Os professores e os funcionários públicos (que tantas greves e manifestações deram ao mundo), no segredo da cabine de voto, fizeram-lhe um manguito. No entanto, Jerónimo de Sousa mantém-se firme e hirto. Ele, que em cada Outubro que passa comemora a revolução bolchevique, sabe que Lenine não esteve à espera de ganhar eleições para tomar o palácio de Inverno. Apenas fica triste com a ingratidão daqueles que tiveram todo o apoio do PCP para travarem as suas lutas contra o governo, para fazer ouvir a sua voz e as suas reclamações, e depois, no momento da retribuição comportam-se como maus pagadores. Mas Jerónimo de Sousa obteve uma vitória real (essa de retirar a maioria absoluta ao PS não pega, porque todos reclamam o feito): o PS para fazer acordos à esquerda precisa dos votos do PCP, porque os do BE não chegam. Afinal, talvez tivesse sido este «pormenor», esse amargo de boca, que provocou a notória irritação de Francisco Louçã durante o seu discurso de «vitória».
Hoje, no DN, João César das Neves escreve sobre o 60º aniversário da República Popular da China. A terminar, pergunta: Mortos Marx, Mao e Deng, quem inspira a China? O texto está tão mal amanhado que a pergunta só tem uma resposta: João César das Neves.
Hoje de manhã percorri alguns blogues e li também alguns comentários. Há, em muito do que li, uma ideia recorrente que se traduz na frase que cito: O único partido que, ontem, desceu na votação, foi o PS. Todos os outros, subiram. O PS perdeu as eleições. Esta é uma leitura possível. Contudo, os resultados eleitorais são medidos mais pelas consequências políticas que deles decorrem do que pela aritmética ou a simples comparação com resultados de eleições anteriores. Por exemplo, não faz sentido dizer que o PSD ou o PCP ganharam estas eleições porque subiram em relação aos resultados de 2005 ou que o PS as perdeu porque diminuiu os votos e os deputados. Esta leitura não se conforma com a realidade. A primeira e principal consequência política destas eleições é a indigitação de um novo primeiro-ministro e a formação de um novo governo. As eleições legislativas (apesar de eleger um novo Parlamento) têm esse objectivo. Ora, José Sócrates e o PS vão formar governo porque ganharam as eleições (coisa diferente é a dimensão da vitória, com mais ou menos percentagem, com maioria absoluta ou não). Ainda, como consequência política, para além do PS, só o CDS-PP teve uma vitória eleitoral significativa ao eleger os deputados suficientes para constituir uma maioria parlamentar com o partido mais votado. E isso vai ser comprovado ao longo da próxima legislatura. O resto, não passa de vitórias morais.
Roberto Micheletti suspendeu, ontem, os principais direitos constitucionais nas Honduras, incluindo a liberdade de expressão. As Honduras sofrem, desde finais de Junho, as consequências da luta pelo poder pessoal entre dois rivais: Zelaya, o presidente eleito que tentou perpetuar-se no poder inconstitucionalmente e Micheletti, então presidente do Congresso que ocupou o lugar de Zelaya. A suspensão da democracia nas Honduras está sem fim à vista.
O crescimento eleitoral do BE (duplicou o nº de deputados) não apaga a frustração de Francisco Louçã: não chegou aos 10%; ficou atrás do CDS-PP; os deputados que elegeu não chegam para fazer maioria parlamentar com o PS. É caso para dizer que houve ali um entupimento.
Os resultados eleitorais deixam duas pistas importantes: a direita pode entrar num processo de recomposição e um partido mais à direita, como o CDS-PP, a prazo, pode transformar-se no maior partido da direita portuguesa; a extrema-esquerda, no seu conjunto (PCP-BE), numa situação muito favorável (a absorver múltiplos descontentamentos), não atingiu os anunciados 20%, o que significa que o PS não vai perder tão cedo o seu papel de grande partido da esquerda portuguesa.
Primeiro, os socialistas ganharam as eleições legislativas, com uma margem inequívoca, depois de quatro anos e meio de governação; segundo, os eleitores exigiram ao PS, na próxima legislatura, enquanto governo e no Parlamento, mais diálogo e mais consenso com as restantes forças políticas; terceiro, os portugueses esperam do próximo governo – como de resto esperam de todos os governos – que as suas condições de vida melhorem, que o país se modernize e que a democracia e a liberdade se aprofundem; quarto, estas eleições provaram, mais uma vez, que os portugueses quando votam julgam quem governou, mas também quem esteve na oposição, o que uns e outros fizerem para o interesse comum.
Gosto do Carlos Vidal porque ele nunca esconde o que lhe vai na alma, nem pretende ser «politicamente correcto». Resumiu, assim, os resultados eleitorais de hoje: vitória retumbante da direita (PS) e da extrema-direita (CDS/PP). Esta é a verdade por detrás da cortina do hotel Vitória. Mas Jerónimo de Sousa encolhe-se, faz de dançarino e de avô cantigas. Assim, nunca verá carros a arderem nas ruas, montras de bancos partidas e, pior do que isso, «entra no jogo democrático» e é ultrapassado, pela esquerda, por Louçã, um «puto» da burguesia que nunca entrou numa fábrica e andou metido com a padralhada.
Os principais jornais de referência europeus destacam, nas respectivas edições on-line, a vitória do PS nas eleições em Portugal. Em todo lado se escreve que Ângela Merkel e a CDU alemã (mais a CSU da Baviera) obtiveram um grande vitória eleitoral ao obter 33,8% dos votos nas eleições disputadas, hoje, na Alemanha. O PS, por cá, recebeu a confiança de 36,5% e parece, a acreditar na maior parte dos comentadores da noite televisiva, que perdeu as eleições. Nós, portugueses, somos assim.