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Há pouco tempo Jorge Cadima escreveu nas páginas do Avante uma das maiores defesas do regime iraniano e da fraude eleitoral. No texto incontroladamente apologético, pode ler-se: «Que tal enviar para Teerão os responsáveis pela prisão de Abu Graibe no Iraque ocupado, ou do campo de concentração de Guantanamo, para ensinar a médio-orientais medievais os altos padrões democrático-ocidentais no tratamento de presos políticos?» Hoje temos a notícia de que não é necessário enviar ninguém para dirigir as prisões de Teerão. A barbárie defendida por Jorge Cadima está a ser denunciada: manifestantes presos estão a ser violados na prisão. “Algumas pessoas presas têm afirmado que jovens mulheres foram violadas de forma selvagem. Jovens homens também foram violados de forma selvagem.” A própria polícia confirmou que aconteceram violações graves no centro de detenção de Kahrizak. Há quem não consiga estar contra Abu Graibe, Guantanamo, Kahrizak e todas as prisões políticas do mundo ao mesmo tempo. Precisam de defender Kahrizak contra Abu Graibe. Têm a «sensibilidade» ideológica para defender a barbárie nas prisões políticas dos «países anti-imperialistas».
Há quem chame a Agosto o «mês estúpido». Ainda não entendi o porquê da designação. Hoje, no Diário Económico, José Gil dá uma entrevista de 4 páginas. E, entre os «pensamentos» que vai desfiando, vem também à baila o mês de Agosto. Quando lhe perguntam se o mês de Agosto é um fenómeno, responde: «É daquele tipo de realidades criadas por um discurso, fabricadas artificialmente, mas que pegam.» Dou de barato, a importância da natureza no processo de «fabrico artificial»: Agosto é o mês mais quente do ano. De qualquer modo, o «discurso que criou esta realidade» é tão antigo como o conceito (e o direito) de férias para quem trabalha. E tenho muitas dúvidas que alguém «fabricasse artificialmente», aqui, em Portugal, o mês de Fevereiro como o mês de férias. Mas o que mais me chamou a atenção foi quando a entrevistadora lhe perguntou: também faz férias em Agosto?». Gil respondeu: «Faço, mas não propriamente férias. A família tem Agosto como o único mês de descanso, mas eu não costumo deixar de trabalhar.» O nosso pensador não conseguiu vencer as «realidades criadas pelo discurso» e também vai de férias em Agosto. Porque a família tem Agosto como o único mês de férias. Cito José Gil: O Chico-espertismo é uma característica de Portugal.
Estou de acordo, no essencial, com o que aqui escreveu Bruno Sena Martins sobre o fim de uma certa blogosfera. Mas, penso, ainda não acabou, trata-se de uma situação temporária. Corresponde a um momento de «embate político», em que, quer de um lado, quer de outro, se formam «exércitos» em defesa das suas damas e, em consequência, se amaciam divergências e criticas. Após o «embate» de 27 de Setembro, independentemente dos resultados, a tendência será para retirar o creme das divergências e criticas e tudo (ou quase) se estilhaçar de novo. Com uma diferença em relação aos últimos 4 anos: a instabilidade política resultante de um governo de maioria relativa vai enriquecer o debate e as diferenças. Não tomemos a árvore (que tapa a visão dos próximos dois meses) pela floresta.