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Ontem à noite fui assistir a uma das peças de teatro em cena no Teatro-Estúdio Mário Viegas. A arte do crime, encenada por Juvenal Garcês e interpretada por Simão Rubim, Vanessa Agapito e Emanuel Arada. Gostei da peça, da interpretação e da encenação, aliás na linha estético-teatral da Companhia Teatral do Chiado, desde O Regresso de Bucha e Estica, A birra do morto, Nápoles Milionária ou A arte da comédia, no começo dos anos 90 e com a marca de autor de Mário Viegas, a que Juvenal Garcês, a partir de 1996, deu uma fiel e sábia continuidade. A Companhia Teatral do Chiado é uma digna instituição cultural de Lisboa: mantém a linha de rumo legada por Mário Viegas, criou uma corrente de público e promove o gosto pelo teatro, sobretudo entre os mais jovem. E anima culturalmente o Chiado. E tudo isto sem apoios financeiros do Estado ou da Câmara, o que não é usual no nosso país. Muitos pensaram que o desaparecimento de Mário Viegas significava o fim da Companhia Teatral do Chiado. Estes últimos 14 anos provaram que não. Tempo suficiente para a Câmara de Lisboa olhar para Companhia e para a memória de Mário Viegas de outra maneira.
Não é que considere um gesto aprumado e de fino recorte dialéctico o fragmento da simbologia taurina – associada frequentes vezes à codificação mediterrânica da honra e vergonha – que levou à demissão do ministro Manuel Pinho. Mas parece-me mais aceitável uma atitude repentista de sincera irritação, com razão ou sem ela – «por qué no te callas?» –, do que o espectáculo diário da hipocrisia do salamaleque.
Rui Bebiano, A Terceira Noite.
Ninguém sabe, ao certo, o que Manuel Pinho quis transmitir com o seu gesto, ontem no Parlamento, a Bernardino Soares. Eu sou um diabo para o PCP? É uma hipótese. Meti os cornos ao PCP nas Minas de Aljustrel? É outra hipótese. Só Manuel Pinho sabe o que lhe passou pela cabeça naquele momento. É um gesto infantil, obviamente. Mas, inevitavelmente, com direito a guia de marcha quando é feito naquele local e naquelas circunstâncias. Quando uma infantilidade pode ser interpretada como um insulto. E, no entanto, ao contrário de uns sisudos que por aí passeiam o seu «ar grave», eu gostava do estilo de Manuel Pinho: descontraído, desbocado, aligeirado, às vezes. Mas, muita gente, aprecia mais (exige mesmo, sobretudo aos «homens de Estado» no exercício das suas funções), o estilo carrancudo e o ar sério dos mangas-de-alpaca. No fundo, o estilo que Salazar ensinou, praticou e deixou escola.