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«A Inquisição foi extinta a 31 de Março de 1821, há quase duzentos anos. Mas deixou trabalho para outros duzentos. Durante a sua existência, o país dividiu-se em acusados, acusadores e denunciantes, a maior parte deles anónimos. Se há categoria de gente reles é essa – a que vive feliz com a pequena denúncia, o rumor, a suspeita permanente, a ‘teoria da conspiração’, a insídia moral, o riso escarninho.
Junto com essa categoria há a outra, a dos que se ajoelham e se especializaram em justificações para agradar aos poderes – aos grandes e aos pequenos, aos gerais e aos particulares. Passados estes anos, a Inquisição ainda resiste. Só faltam as fogueiras. O povo gosta de ver. Os juízes, o melhor que têm a fazer, é exigir que se legalize a denúncia anónima. Aliás, já o fizeram»
Francisco José Viegas, Correio da Manhã, 30.03.09
O que nos falta – a nós, portugueses – é eficácia. Capacidade de concretização. Pragmatismo. Temos muito jogo, muita conversa, muito floreado; muita parra, mas pouca uva. Isto é verdade no futebol, na política, nas empresas. Não é por acaso que a Suécia está, há muitos anos, nos cinco países com maior índice de produtividade do mundo. Não é um «problema» de Carlos Queirós, é um problema dos portugueses: conversa, conversa, conversa… concretizar, fazer é uma ofensa.
(foto: Miguel Vidal/Reuters)
Desliguei todas as luzes da casa. Acendi velas e liguei a televisão para ver o Portugal-Suécia (conclui, depois de alguma hesitação, que a televisão não é uma lâmpada). Ver o jogo à luz de velas deixa-me na dúvida: não sei se é romantismo ou se é velório.
(Adenda: Ao intervalo fui à casa de banho. Não me levem a mal, mas acendi a luz com medo de não acertar na sanita.)
A cineasta Raquel Freire concede hoje, ao semanário Sol, a mais hilariante entrevista que tenho lido na imprensa portuguesa de há muitos dias para cá. (…) o entrevistador, José Fialho Gouveia, pergunta-lhe: "O comunismo combate a ejaculação precoce?" Raquel não se atrapalha: admite logo que sim. "Provavelmente, mesmo que os homens ejaculassem depressa eram obrigados a continuar a relação e a dar prazer às mulheres."
Pedro Correia (Delito de Opinião).
Leio, no Correio da Manhã, Francisco José Viegas que me diz: «Ontem, a CP encerrou as linhas do Corgo e do Tâmega sem avisar ninguém. Contava com o silêncio de todos e fê-lo pela calada, desprezando toda a gente.» E eu concordo. Depois, leio, na revista Sábado, Maria João Avillez, em Desvarios megalómanos, que me diz: «Para viabilizar duas linhas de ferro no Douro, usadas apenas por 200 pessoas por dia, o Estado vai gastar 40 milhões de euros. Uma vergonha!» E volto a concordar. Vou escrever uma carta ao Ministro a pedir-lhe que reabra as duas linhas de comboio do Douro sem gastar um tostão. Talvez ele me atenda. Com boa vontade tudo se resolve. E livra-se da vergonha que a Maria João Avillez lhe quer atirar para cima.
Já escrevi, aqui, muitas vezes, que me recuso a ver televisão, como quem prescinde de usar telemóvel. Em rigor, abro excepções: jogos de futebol ou, quanto a «informação», quando caem torres em Nova Iorque ou coisas similares. No entanto, leio. E pelo que leio, percebo que a voz de Manuela Moura Guedes é, hoje, equivalente à de Manuel Alegre de há quarenta anos; e o telejornal da TVI, às sextas-feiras, é a nova rádio Argel. Manuela Moura Guedes, como Manuel Alegre, cada um a seu modo, e cada um em seu contexto, são preciosos contributos para a democracia, mas como escreveu Truman Capote, na sua obra-prima de «não ficção», A sangue frio: não é preciso ser-se maluco para aqui viver, mas é preferível.
Uma cidade existe porque há coisas que tiram a vista a outras, se não, não havia cidade.
Siza Vieira, arquitecto.
(via frenchkissin)
Já pude apreciar, numa escola primária, a excitação da criançada com a chegada dos computadores Magalhães. Ontem foi a vez da Assembleia da República ter o seu momento Magalhães. Foi comovedor o entusiasmo infantil com que os deputados receberam os seus novos confortos e brinquedos tecnológicos. Falaram de Ítaca, lembraram a quinta do avô, e até se enganaram no nome do arquitecto que lhes fez a casa. É assim: dêem-lhes um computador novo e até os mais sábios e prudentes voltam a ser crianças.
Rui Ramos (Clube das Repúblicas Mortas).
Paulo Rangel, líder parlamentar do PSD, vai iniciar, amanhã, conversações com os partidos da oposição. Objectivo: encontrar uma solução conjunta para resolver o impasse do Provedor de Justiça. Sabendo que todos os partidos da oposição juntos não atingem os dois terços do Parlamento exigidos para a eleição do Provedor, o que significam estas conversações? Mais uma fuga para a frente ou, apenas, meter a cabeça debaixo da areia?
A Visão publicou uma sondagem com respostas à pergunta: acha que esta área seria melhor gerida pelo Estado ou pelo sector privado? (As áreas questionadas são aquelas que tradicionalmente são geridas pelo Estado). A imagem acima ilustra os resultados. De imediato, alguns saudosistas da «economia planificada» e das «nacionalizações» vieram à praça atirar foguetes. Mas, antes de apanharem as canas, deviam ler a sondagem ao contrário. Talvez se arrepiassem. Quanto ás Câmaras Municipais (um sector do Estado onde nunca houve qualquer experiência de privatização) 1 em cada 3 portugueses (33,1%) ou acha que devem ser geridas pelo sector privado (21%) ou não tem a certeza se devem ser geridas pelo Estado (12,1%). Convenhamos que um número significativo de portugueses gostava de ver as câmaras municipais nas mãos do sector privado. Só como termo de comparação: há mais portugueses a querer as Câmara Municipais nas mãos do sector privado do que portugueses a votarem no PCP e no BE em conjunto. O mesmo se pode dizer para todas as outras áreas, desde a Saúde ao Ensino. Mesmo quanto aos Bancos, menos de metade dos portugueses acham que devem ser geridos pelo Estado. Não me parece que esta sondagem seja animadora para a intervenção do Estado na economia, Se não é animadora nos sectores tradicionalmente nas mãos do Estado, muito menos será nos outros sectores de actividade económica.
O Benicio del Toro, a propósito do novo filme do Steven Soderbergh, diz que quem usa t-shirts do Che é fixe. O Benicio del Toro é parvo que se farta.
Salazar o maçon, de Costa Pimenta (Bertrand Editora).
A minha prima Hermenegilda nunca se iniciou na maçonaria, nem lhe passa pela cabeça o que é o Rito Escocês Antigo e Aceite ou a Prática das Ordens de Sabedoria do Rito Francês, porque nunca a convidaram. Ainda hoje, é uma frustração que carrega às costas, como uma cruz. O seu deslumbramento por sociedades secretas, mitos e rituais, Templários e Rosacruz nasceu, em finais dos anos setenta, do esotérico vazio em que se afundou quando trocou de marido e este lhe exigiu que saísse do MRPP. Queria, então, trocar a verdade absoluta do marxismo-leninismo por qualquer coisa que, nos tempos livres, lhe alimentasse a alma e as convicções. Ainda me bateu à porta, nos anos oitenta, convencida que eu podia «encontrar a pessoa certa» que lhe facilitasse a entrada na maçonaria. Na altura, com ar sério para não denunciar o engano (a Maria Helena Carvalho dos Santos que me perdoe), respondi-lhe que não permitiam a iniciação maçónica a quem tivesse frequentado a catequese, feito a primeira comunhão e casado na Igreja. (O que era o caso da Hermenegilda, com a agravante de ter entrada na Igreja da Memória, ali onde o D. José I apanhou um tiro no braço, vestida de branco e transportando, com ar cândido, um ramo de laranjeira, como se de uma virgem se tratasse, quando já dormia com o rapaz há quase dois anos). Fixou-me, com o seu olhar de carneiro mal morto, e esboçou uns ligeiros impropérios contra a Igreja, o Papa e os padres, à laia de justificação, mas não lhe facilitei a conversa. E, agora, no sábado passado, quando eu estava no estádio do Algarve a aguardar a marcação das grandes penalidades, na final daquela taça que não lembra a ninguém, entre o Benfica e o Sporting, a Hermenegilda me telefona, como é seu hábito nestas ocasiões. Hesitei: atendo ou não atendo o telefone. Mas não resisti à curiosidade, e atendi. Sem intróitos, nem boas-noites, despejou o saco: - «Com que então o Salazar também era da maçonaria». Respirei fundo, enquanto Ramagnoli ajeitava a bola, e perguntei: - «Só descobriste agora?» Respondeu-me de imediato: - «Não te armes em sonso». Tiago defendeu o remate de Aimar, enquanto eu respondia: - «Hermenegilda, pensa: porque é que o Carmona só largou a presidência da República quando morreu? E o Sarmento Rodrigues, ministro do Ultramar; e o Santos Júnior, ministro do Interior, e o Palma Carlos, procurador à Câmara Cooperativa? Achas que Salazar não sabia que todos eles eram pedreiros-livres?». Rochemback imitou Aimar, permitindo a defesa de Quim. Hermenegilda ficou em silêncio uns segundos. Depois, interrogou-me: «Mas tu achas mesmo que Salazar foi maçon?». Pela pergunta, percebi que estava desorientada. Respondi no momento em que Moutinho metia a bola na baliza: - «Claro que sim. Foi maçon, putanheiro e tudo, e só não foi um grande democrata porque os tempos não estavam de feição». Desligou sem uma palavra de despedida. Quase não vi o Quim defender os remates de Derlei e de Postiga. Fiquei meio aparvalhado a tentar perceber porque carga de água até a minha prima Hermenegilda, mulher culta e arejada, acredita que António de Oliveira Salazar era maçon.
O texto que Manuel Maria Carrilho enviou ao PS – concretamente, à Fundação Res Publica –, hoje publicado no DN, é um excelente contributo para o debate «sobre as prioridades culturais no actual contexto de crise económica». No essencial, Carrilho afirma que: 1. A cultura é reconhecida como um factor decisivo no desenvolvimento de qualquer país, como para a afirmação dos povos e para a visão que eles têm do seu futuro. E, sublinha, que a cultura pode dar uma importante contribuição na resposta à crise que o país atravessa; 2. Que o Partido Socialista deu um passo histórico, em 1995, ao assumir o desígnio de fazer da cultura uma dimensão estrutural e estratégica de um mais intenso e equilibrado desenvolvimento do país; 3. Passo a que a Direita não deu sequência, entre 2002-2005, desvalorizando as políticas culturais; 4. Que o Partido Socialista, para a legislatura 2005-2009, prometeu, quer no programa eleitoral, quer no programa de Governo, o regresso à dimensão cultural que é já parte do seu património; 5. O que se verifica ao fim de quatro anos é que não só não se conseguiu inverter a situação de «asfixia financeira» de 2002-2005, como ela se agravou pesadamente. Também as outras «finalidades essenciais» assumidas nos programas eleitorais e de Governo ficaram pelo caminho. 6. Em conclusão: é urgente mudar. O Partido Socialista deve assumir com verdade o balanço do período que agora termina. A próxima legislatura deve ser a de um renascer da esperança para a cultura portuguesa; deve, sobretudo, ser a de uma verdadeira refundação das políticas culturais em Portugal. O texto de Manuel Maria Carrilho, apesar de não conter nada de novo, é um diagnóstico sintético, mas certeiro, do papel do Estado nas políticas culturais nos últimos dez anos. E um apelo à mudança: à refundação das políticas culturais do Estado iniciadas, em 1995, pelo Partido Socialista.
A liberdade da imprensa mede-se pela quantidade de vitupérios que se dizem contra o governo, o PS e Sócrates, em particular, atingindo e levando por arrasto tudo o que se lhe chegue, ainda que de leve. Estranha concepção de democracia.
Sofia Loureiro dos Santos (Defender o Quadrado).
Apostaram em «mariquices» e vejam o resultado que deu. Quem se deve estar a rir, neste momento, é a sagres e a superbock.