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A ausência de debate foi outra das críticas que por aí circularam quanto a este congresso do PS. Nos congressos nunca assisti a debates. Nem nos do PS, nem em qualquer outro partido. No período que antecedeu o congresso nenhum outro partido – e muito menos um partido no governo – foi sujeito a um debate tão intenso. Um debate dentro e fora do PS. Manuel Alegre, destacado militante do PS, lançou o debate sobre a «esquerda» e sobre os «caminhos» que a esquerda deve trilhar. Expôs e defendeu as suas ideias. Criou um órgão de informação da tendência que lidera. Realizou comícios e «sessões de esclarecimento» em conjunto com outros partidos e movimentos cívicos. Teria proporcionado um debate directo com o líder do partido caso tivesse assumido a candidatura a secretário-geral do PS. Mas, pelos vistos, não esteve para aí virado. Apesar disso, debate no PS a anteceder o congresso não faltou.
Há quem tenha uma especial apetência para desgastar palavras e realidades. Escondem a pobreza da análise e da observação objectiva, por falta de tempo ou de boa fé, atrás de sound bytes corriqueiros. Um dos Sound bytes recentemente utilizados, a raiar a desonestidade intelectual, é a comparação deste congresso do PS com um congresso do partido comunista albanês (na mesma linha de um tal Vidal que prefere a ditadura à democracia, que compara José Sócrates a Pinochet). Quem não se candidatou a secretário-geral do PS, em oposição a José Sócrates, não foi por medo de ir preso, ser torturado ou morto. Há várias sensibilidades no PS e, pelo menos, uma tendência organizada. Ninguém quis apresentar uma candidatura alternativa. Aliás, no próprio congresso, já falou Edmundo Pedro. Espero que não apareça por aí algum imberbe a dizer que Edmundo Pedro teve «medo» de falar. O Congresso do PS é, sobretudo, um acontecimento mediático, um conclave de propaganda política? Claro que é. Mas essa é uma das funções dos partidos políticos em democracia.
O caso Freeport foi utilizado politicamente contra o PS, o governo e José Sócrates (estrategicamente por esta ordem, apesar de aparentar a ordem inversa). Durante pelo menos uma semana instalou-se na comunicação social (onde se incluem os blogues) um ambiente de «guerrilha» sul-americana. Houve muita boa gente que acalentou, nesses dias, a ilusão de que era possível uma transferência de poderes e competências constitucionais: à comunicação social competia a investigação; aos comentadores políticos encartados (os que são remunerados por essa «actividade») o julgamento e a condenação com base nos factos apresentados pela comunicação social; dispensavam a defesa e atribuíam ao Presidente da República o papel de juiz de execução de penas. Quando perceberam que o «golpe de Estado» assim gizado não funcionou, disseram, desalentados: «o caso Freeport já não vai dar nada». Agora, depois da intervenção de José Sócrates na abertura do Congresso do Partido Socialista, dizem, meio atordoados: «o Primeiro-ministro usa o caso Freeport para conduzir uma luta política». Tudo fizeram para usar o caso Freeport politicamente para derrubar um governo e quando o visado responde na mesma moeda gritam, como se fossem virgens, que nunca se lavaram naquele bidé. É do conhecimento geral que o feitiço se pode virar contra o feiticeiro.
(fotografia de Pedro Azevedo (ABC) utilizada sem autorização)
«E eis como inusitadamente o caso Freeport se tornou uma arma eleitoral, não da oposição (que não fala do assunto) mas do primeiro-ministro.»
Ana Sá Lopes (ABC)