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Não «alimento» programas de televisão medíocres, tipo «prós e contras», mas tenho «doutrina» sobre o assunto debatido na última segunda-feira: o Estado deve assegurar a liberdade de escolha de cada cidadão. Em tudo. De cada um casar (ou não casar) com quem quer e lhe dá na gana, independentemente do sexo, da raça, da religião ou da deficiência física; de comer rissóis, independentemente de serem cozinhados na cada da D. Albertina, sem que tenha de ser feita prova de que ela lavou as mãos depois de ter ido à casa de banho, como ASAE pretende; de abortar ou não abortar; de fumar ou não fumar. O Estado não deve decidir o que cada cidadão deve ou não fazer. Apenas deve assegurar que a liberdade de escolha garantida a cada cidadão não prejudica o vizinho do lado. Sou um liberal à moda antiga, como diria o Francisco.
Ver televisão não faz parte dos meus hábitos. Ligo o aparelho para ver um ou outro jogo de futebol ou para ver um telejornal quando há algum tema «quente». Na semana «Freeport», por exemplo, vi os noticiários televisivos 3 ou 4 dias seguidos, o que me deixou meio atordoado. Programas do tipo «prós e contras» ou o «eixo do mal» não fazem parte do meu roteiro gastronómico «informativo». Sempre que posso decidir, não consumo mediocridade. Gosto de lebre. Prefiro passar fome a comer gato. Vem esta lenga-lenga a propósito dos «prós e contras» da última segunda-feira: parece que não há ninguém que tenha um blogue que não veja o dito programa. Até um deputado do PSD, excitado pelo «debate», deixou que lhe roubassem a password do twitter, como quem lhe rouba a pochett no Saldanha. Eu prefiro citar Miguel Vale de Almeida, um exemplo de coerência, que tal como eu , se interroga: como é que um ser humano normal se sujeita a ir ao programa de Fátima Campos Ferreira? Andamos todos a fazer de conta?
Leio nos jornais: General Motors vai despedir 47 000 trabalhadores; leio-o, também, no mesmo dia: professores vão endurecer a luta contra a avaliação no 3º período. Estas duas notícias relacionam entre si dois mundos do trabalho. De um lado, os trabalhadores que podem perder o emprego a qualquer momento, que estão sujeitam às normas do Código de Trabalho, que beneficiam do regime geral da Segurança Social. Do outro, os trabalhadores que não correm o risco de ficarem sem emprego porque têm emprego vitalício, e beneficiam de regimes especiais, quer nas relações de trabalho, quer na Segurança Social. Os primeiros, em regra, estão inseridos em processos produtivos de criação de riqueza. Sabem que a sua negligência ou desleixo no cumprimento dos seus deveres pode conduzir à falência da empresa onde trabalham e, consequentemente, ao desemprego. Os segundos, em regra, integram a «superestrutura» do Estado e «delapidam» a riqueza criada pelos primeiros. No século XXI, ao contrário do século XIX e primeira metade do século XX, os segundos são a «vanguarda» das lutas «operárias», a base social de apoio dos partidos comunistas e dos radicais de todas as matizes. Aqui e por essa Europa fora, como se viu nas graves de há um mês em França: professores, funcionários públicos, transportes públicos, empresas públicas. O colapso da URSS foi, em última instância, o colapso do «funcionário público». Mas há muito boa gente que ainda não deu por isso.
Hoje, no Forum para a Competitividade, Belmiro de Azevedo não esteve para poupar palavras, e disse que a crise do nosso país é uma crise de liderança: no Governo, nos partidos, nos Sindicatos, nos empresários e Associações. Sem desprimor para os africanos – disse – parecemos um país africano.
Por Amor e outros Poemas (Papiro Editora), de Torquato da Luz (Alcantarilha, Silves, 1943) será apresentado na Livraria Barata, na Av. de Roma, no próximo dia 28, às 17:30 horas.