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Andam por aí umas almas moralistas a derramar lágrimas de crocodilo, ao defender Edmundo Pedro, a propósito da sua intervenção numa reunião de militantes do PS, no Largo do Rato, a denunciar o «medo» que alguns militantes socialistas têm de «falar». Como se Edmundo Pedro necessitasse de defensores de última hora. Edmundo Pedro nunca conheceu o medo de enfrentar a ditadura, a polícia política, a prisão e o Tarrafal, desde os 15 anos. Por isso, não se devia sensibilizar tanto com duas ou três dezenas de apparatchiks, gente que se tem «medo» de «falar» para não perder o emprego ou as mordomias que são, provavelmente, adquiridas em função da «militância» política e não da competência, compre um cão. Edmundo Pedro devia demonstrar desprezo por essa gente que diz ter «medo» em democracia, quando ele nunca teve medo em ditadura. Mais nada.
A incompetência não pode ser invocada, no novo Código do Trabalho, como justa causa de despedimento? Se não pode foi só porque o Paulo Bento «mexeu os cordelinhos». Soares Franco podia despedir toda a equipa antes de se ir embora. Sempre era mais barato jogar com os juniores. No outro jogo, o primo da tia Lola deu um duche de água a ferver aos benfiquistas; quando estes estavam a suar por todos os poros, abriu um pouco a torneira de água fria.
Um dia dizem-me: estamos perante a agonia do capitalismo. Marx está cada vez mais actual; e Lenine, também (e citam-me O imperialismo, estádio supremo do capitalismo). Falam-me no regresso a Marx. E apontam-me os desacatos nas ruas de Atenas como o início da revolução mundial. No dia a seguir, os mesmos, dizem-me: ver trotskismo na estratégia da tendência maioritária do Bloco de Esquerda é só porque te incomoda o seu crescimento eleitoral. Afinal, em que ficamos? Se regressamos a Marx e a Lenine porque carga de água querem esconder Trotsky? Só porque foi apagado nas fotografias?
O Bloco de Esquerda elegeu hoje a sua «mesa nacional»: nos 10 primeiros da lista apresentada por Louçã 6 são professores ou professores universitários; a estes ainda se juntam 2 jornalista, um sociólogo e um animador sócio-cultural. É caso para dizer: o BE mete as «massas trabalhadores» no quarto das traseiras. Talvez por não saberem comer à «mesa nacional».
Um amigo enviou-me um e-mail onde diz que este meu post tem um «erro de análise» na medida em que Gil Garcia, que fez as despesas oposicionistas na Convenção do Bloco, não é da linha «marxista-leninista». É também de origem trotskista, como Louçã. Eu sei, e conheço toda a história. Se atendesse ao percurso, caberia a Luís Fazenda desempenhar o papel de «marxista-leninista», mas ele já não está para aí virado. Eu refiro-me às posições assumidas nesta Convenção. E aqui, Gil Garcia assumiu a linha «dura», bolchevique. Luís Fazenda já há muito tempo que aderiu ao «entrismo» e ao «frentismo» trotskista.
Como escreve o Rui Bebiano: o socialismo científico tem visões.
Mário Soares escreveu há dias, no DN: «Lula da Silva, Hugo Chávez, Evo Morales, (…) manifestaram-se violentamente contra o capitalismo financeiro-especulativo – o que está certo: esse tipo de capitalismo morreu – e em favor do socialismo. Mas que socialismo? Não, seguramente, o socialismo de tipo soviético ou, muito menos ainda, chinês... Do socialismo democrático, não gostam. Então, qual?». A questão é esta. Qual «esquerda»? Qual «socialismo»? A «convergência à esquerda» e «quebrar o tabu da incomunicabilidade das correntes de esquerda» são frases delidas pelo uso no último século. São frases ocas, vazias, que só querem dizer que quem as profere não sabe o que quer. Convergência à volta de quê? O que é que se abriga debaixo do chavão «esquerda»? O totalitarismo soviético era de esquerda? O «socialismos» cubano e norte coreano são de esquerda? Se a «convergência de esquerda» tem apenas por limite eleger um candidato presidencial de esquerda expliquem-nos isso claramente (o PS sozinho já elegeu dois), mas não nos contem histórias da carochinha. Isto não funciona com a «táctica» de tudo ao monte e fé na revolução porque depois quem paga a factura não é quem foge para o exílio é quem fica cá.