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Fidel Castro seguiu, a partir da crise dos mísseis, em 1962, o guião «marxista-leninista» soviético (apesar de algumas hesitações internas iniciais, sobretudo alimentadas por Guevara, quanto ao conflito sino-soviético). A posição castrista de apoio à invasão da Checoslováquia marca, definitivamente, no plano interno, a consolidação da dependência soviética. O caso da prisão e das humilhações a que sujeitaram o poeta Heberto Padilla, em 1971, o que gerou um movimento internacional de condenação de Castro, encabeçado por Jean-Paul Sartre, é um dos símbolos da repressão estalinista desse período. Fidel Castro, na sua longa entrevista a Ignacio Ramonet, desenvolve o conceito «marxista-leninista» sobre um tema incómodo para os ditadores – as eleições. Diz Fidel Castro: «Não há que medir as nossas eleições pelo número de votos. Eu meço-as pela profundidade dos sentimentos, pelo calor – tenho estado a ver tudo isto durante muitos anos. Nunca vi os rostos tão cheios de esperança, com tanto orgulho.» (Página 560). O marxismo-leninismo assumiu, em Castro, o seu amadurecimento tropical. No «socialismo» cubano, o número de votos não conta. O que conta é a «profundidade dos sentimentos» avaliado, durante anos, pelo ditador. É assim em todas as ditaduras.
(continua)
O Fórum Social, que este ano voltou ao Brasil, onde começou há anos, em Porto Alegre, reuniu, como é habitual, alteromundialistas de diferentes tipos, vindos de vários continentes, mas também Chefes de Estado, como Lula da Silva, Hugo Chávez, Evo Morales, quase todos latino-americanos, mais ou menos radicais. Manifestaram-se violentamente contra o capitalismo financeiro-especulativo – o que está certo: esse tipo de capitalismo morreu – e em favor do socialismo. Mas que socialismo? Não, seguramente, o socialismo de tipo soviético ou, muito menos ainda, chinês... Do socialismo democrático, não gostam. Então, qual? Foi o que não ficou claro, num areópago essencialmente protestatório...
Mário Soares, DN, 03.02.09
Os ingleses prefaciam as opiniões com “Não faço ideia do que pensam as outras pessoas, mas eu...". Os portugueses – lá vou eu – fazem o contrário. Exprimem uma opinião pessoal como se fosse um pensamento colectivo. A nossa fórmula é mais: "Eu cá não tenho opinião sobre o assunto, mas as pessoas..." "I" do eu inglês não podia ser maior nem o "e" do nosso eu ser mais "iquenino". Nós escondemos o nosso eu nos outros e os outros deixam para poderem fazer a mesma coisa. Bonito serviço – e não há nenhum português a quem não se aplique.
Miguel Esteves Cardoso, Público, 03.02.09