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É evidente que Henrique Burnay tem razão.
O PCP pensa que quem elegeu Manuel Coelho para a presidência da Câmara de Sines foram os militantes comunistas, em votação de célula, e não os eleitores de Sines. Por isso, «exigem» que o autarca alentejano coloque o «lugar que não lhe pertence à disposição». Sabemos que em Cuba e na Coreia do Norte é assim: os «lugares» pertencem ao «partido». Aqui, em Portugal, não é assim, como não é assim em qualquer democracia. Por cá, são os eleitores e não o «partido» que elegem os seus representantes políticos. Nas próximas eleições são os eleitores que dirão de sua justiça.
A Quetzal acabou de editar Breviário Mediterrâneo, de Predrag Matvejevitch. A tradução é de Pedro Támen. O Autor nasceu na Bósnia-Herzegovina, filho de pai russo e mãe croata, abandonou a Jugoslávia após a queda do muro de Berlim. Dele dizem que «repensou a fundo e renovou com grande originalidade a concepção sartriana sobre o compromisso e a liberdade da literatura.» O Breviário Mediterrâneo é uma narrativa literária, ao mesmo tempo poética, geográfica e histórica. Uma narrativa de viagens onde Matvejevitch nos transmite a sua vasta cultura e vivências sobre o Mar Mediterrâneo, procurando a relação entre «a Europa, o Magrebe e o Levante; judaísmo, cristianismo e Islão; o Talmude, a Bíblia e o Corão; Atenas e Roma; Jerusalém, Alexandria e Constantinopla.»
Manuela Ferreira Leite deu uma conferência de imprensa, onde apresentou um «plano contra a crise». Quase ninguém deu por isso. Manuela Ferreira Leite dirige o maior partido da oposição e as suas propostas para resolver a crise que nos atormenta são importantes. Ou deviam ser. Se nos mandam à procura do primo de José Sócrates como é que podemos ter tempo para ver conferências de imprensa da líder da oposição? Decidam-se!
Voltei a casa e escrevi:
O meu neto diz que o Vidal é atrasado mental.
Não tenho nenhum neto; nem conheço nenhum Vidal.
Em Trofa manda o Trofense. O Benfica, o Porto e o Sporting sabem disso.
Estou mortinho por saber qual vai ser a resposta do Ministério Público à polícia inglesa quanto a esta questão:
«A política da Polícia da Cidade de Londres e da Serious Fraud Office relativamente aos meios da comunicação social é actualmente a de não efectuar comentários, ou de declarar que “não nos é possível comentar” no tocante a quaisquer pedidos de informação recebidos. / Agradecia que esclarecesse quais as medidas, se as houver, que estão a ser tomadas relativamente à divulgação não autorizada de informação. / Agradecia que esclarecesse qual a política actual dos departamentos do Ministério Público e da Polícia em Portugal em matéria dos meios de comunicação social relativamente a este caso.»
(texto citado via Eduardo Pitta)
A questão política que salta, neste momento, do «caso Freeport» é saber se o primeiro-ministro está ou não fragilizado politicamente e quais as consequências na governação do país em tempos de profunda crise internacional. O resto é matéria das polícias de investigação do Ministério Público e dos Tribunais. Só estes permitem a produção de prova e a acusação, a defesa, o julgamento, a absolvição ou a condenação. As acusações, julgamentos e condenações na praça pública não são admissíveis em democracia. Senão qualquer dia, o poder conferido aos portugueses, exercido através de eleições, é transferido para a «comunicação social» ou para o Ministério Público.
Quem não se fica pela leitura dos títulos de jornais, lê a carta na íntegra.
Não há Freeport que resista ao bom gosto do João Villalobos.
Mónica Marques integrou a «tribo» do SAPO.
Nós – portugueses – estamos, ainda hoje, entre Eusébio Macário e A Capital ou A relíquia. Provavelmente, bebemos por esse mundo em que nos entornámos, por essas tantas paragens onde os ventos e as velas nos levaram, o pior que encontrámos. Enchemos porões de especiarias e materiais preciosos, mas esquecemo-nos de embarcar a dialéctica e a poesia, a arte e os saberes, e muitas outras coisas que por lá existiam. Ampliámos os defeitos, mas não as qualidades, como diria Almada Negreiros. É esta «alma portuguesa» que leva a que os piores de entre nós, tribunos fanáticos, anquilosados, sem respeito pela democracia e pelo Estado de Direito, se arvorem em polícias (cuja vocação não se coloca em causa), acusadores e julgadores, sem provas, nem defesas. Tudo ao mesmo tempo, como nas ditaduras. E, sem decoro, ainda evocam em seu abono uma cruzada pela «decência». Ontem, na Quadratura do Círculo, em defesa da sua dama, Pacheco Pereira representou o papel de um destes portugueses «exemplares».
Alguns textos lidos por essa blogosfera fora levam-me a crer que há quem acredite que a Nossa Senhora de Fátima virá a Portugal, ainda este ano, para nos livrar de José Sócrates, tal como veio, em 1917, para nos livrar dos comunistas russos.
Hoje foi aprovado, no Parlamento, o Orçamento suplementar. As oposições juntaram-se no voto contra. Desde Paulo Portas a Francisco Louça. E brandiram as mais duras críticas. Algum português – aparte aquela ínfima parte do costume – deu conta disso? Claro que não. Estão todos entretidos com a telenovela Freeport .É isso que a agenda mediática lhes dá.
Em 1980, ano de eleições legislativas, era então Francisco Sá Carneiro primeiro-ministro, a Oposição resvalou para a «luta policial» (em vez da luta política). O Diário, jornal do PCP, foi o primeiro a lançar a campanha das alegadas dívidas de Francisco Sá Carneiro à banca (à mistura, a Oposição envolveu a sua vida pessoal e privada ao barulho, tendo inclusivamente Mário Soares falado sobre o assunto num debate com Freitas do Amaral) e insistiu no tema até à exaustão. Em meados de Agosto, na RTP – não haviam mais canais e tinha acabado de estrear o colorido – Sá Carneiro defendeu-se do «combate larvar» que lhe moviam. Em Outubro, a AD obteve a segunda maioria absoluta.
João Miranda passou-se dos carretos e misturou conceitos de direito penal com direito do trabalho. Quando deitarmos pela borda fora as liberdades, direitos e garantias dos cidadãos, tão arduamente conquistadas ao longo de séculos, deixaremos de ter empregadas domésticas. Passaremos todos a «servidores do Estado», como o empregado de mesa do restaurante Floridita, na Calle Obispo, em Havana.