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Há quem tenha uma freudiana necessidade de ser desrespeitado. Para satisfação dessa necessidade passa o tempo a desrespeitar os outros. Formular de forma mais simples: quem desrespeita os outros é porque necessita de ser desrespeitado. Procurar simplificar ainda mais.
Encafuaram-se por uns tempos, na ressaca da implosão do muro, a choramingar a queda do império – do seu império. Passado o luto, pensam que pastorear os professores é suficiente para reerguer o império no estertor do capitalismo. Subiu-lhes a arrogância, tal com há trinta e tal anos, e babam-se de raiva só de saber que existe mais do que uma opinião. Educados numa organização de tipo militar, agindo em nome de quem não lhes dá representação, onde acham natural não lhes ser conferido o direito de opinião, aliviam a opressão de que são vitimas ofendendo e difamando quem não aceita ser reprimido por ter opinião e a expressar livremente. Os exemplos multiplicam:
Pedro Rolo Duarte.
· da vez em que estava a gamar matrículas, Ana Cristina Leonardo.
· os 3 do simca airado, Mário Rui Batista Fernandes.
O que Odete Santos fez na SIC Notícias, ainda com o balanço da faena dada aos delegados comunas dias antes, foi expressar o quadro mental de grande parte dos professores, activistas e demais simpatizantes deste puro salazarismo. Os cartazes, frases e gestos ofensivos para a pessoa de Maria de Lurdes Rodrigues espelham a condição a-política de quem se reduz a uma subjectividade que constrói um delírio de perseguição. A violência que salta desta juliana de pessoas de todas as idades e currículos partidários, ou cívicos, é uma esplendorosa celebração da democracia. Porque se a democracia não resistisse aos que ainda não a compreendem, ela nunca teria nascido e chegado até nós.
Valupi, Aspirina B
Ei-los de novo. Em frente, marche, pois marcha que se farta Mário Nogueira, a mão cheia de nada e a outra de coisa alguma. Repete-se, não se enxerga e vai de mal a pior aos olhos de quem desconfia deste perigoso unanimismo. Os sinais estão todos à vista: Nogueira não quer isto, não quer aquilo, não quer este modelo, não se sabe que modelo quer, torce o nariz a tudo o que lhe põem no prato como adolescente enfastiado, a esticar a corda. Não, não se pode respeitar este indivíduo, ar de faia, um pintas todo pintas e esta é, talvez, a única característica digna de registo, a graça que ele tem. Porque quanto ao que sobra, estamos conversados: é o vazio. Convenhamos que a luta dos professores não é outra coisa que resistência natural, desastrosa resistência feita de nada, uma lástima. Basta-me passar os olhos pelo blog do professor Guinote para perceber o que anda no ar. Apoucado, o simbólico professor Guinote escreve que se desunha, posta que posta e torna a postar, passa a vida naquilo, às voltas com a não existência, panfletos, a tomada da Bastilha em forma de histórias de vida, lamentosas, chorosas, «prenhes» de amor pelo ensino, pelos alunos, novelas que mostram o que interessa mostrar.
Na 5 de Outubro, a inépcia política começou no dia em que se imaginou ser possível entregar aos professores, entre pares, um regime de avaliação de desempenho, observado como deve ser observado, avaliado, tal e qual e qual é o problema? É isto e mais aquilo, os titulares, os pares e a palavrinha mágica: colega. Todos colegas, todos iguais a subir na carreira sem mais nem menos, sem distinção ou «castas» como ouvi a uma professora que aqueles professores aplaudiram. A isto se resume a «luta», a resistência, o ovo da pobre serpente. Fui clara?
Tudo deveria ter sido oferecido com outro papel de embrulho menos austero e em certa medida, passe o trocadilho, menos embrulhado. Mais tempo, mais tento, menos pressa. Que pena! Por mim, estes professores «humilhados» mereciam, mereciam? Estão a pedir um Ofsted que lhes endireite a coluna, que os faça perceber que se deve ter cuidado com o que se deseja, que os obrigue a sair dessa cozinha provinciana onde toda a estupidez se concentra e coze em fogo lento.
E agora volto a mim de onde saio quando me apetece para voltar quando preciso, no tempo que preciso.
«Saudar o início da era Obama é ir esperar Elvis Presley quando este descer de uma nave espacial em Graceland. Yes, he can? Depois desta, não me venham falar de expectativas exageradas.»
Ficheiros secretos, Miguel Gaspar, Público, 4.12.08
Alguns leitores anónimos – militantes do PCP - indignaram-se, através de e-mail que me endereçaram, com estas poucas linhas que aqui escrevi sobre a superioridade moral da democracia. Para além de uma ou outra ofensa desqualificada própria de quem se esconde debaixo da manta do anonimato, os argumentos são, fundamentalmente, dois. Primeiro, o autor destas linhas é um «anti-comunista primário», pessoa ignorante e de má-fé, a quem não se deve dar a menor importância. Mas, não vá o diabo tecê-las, o melhor é responder-lhe (sempre que lhes tocam no fundo, na sua natureza totalitária, eles não se contêm) . Segundo, a personagem – escrevem – é tão ignorante e iletrado que nem sabe ler as teses do PCP, sobretudo onde se diz que a «democracia política, embora intimamente articulada com a democracia económica, social e cultural, possui um valor intrínseco pelo que é necessário salvaguardá-la e assegurá-la como elemento integrante e inalienável da sociedade portuguesa.»
Ora, não passará pelas «cabecinhas pensadoras» dos meus interlocutores que a «democracia política» defendida nas teses do PCP só pode ser interpretada à luz do projecto de sociedade que as próprias teses defendem (para além da revolução de Outubro, a qual se esfumou estrondosamente), a saber:
Não consta que nos regimes mencionados se realizem congressos de partidos da oposição. A «democracia política» nas teses do PCP tem o rabo de fora. Repito, os congressos partidários, incluindo o do PCP, como sinal vital de liberdade e democracia, são o símbolo da superioridade moral dos regimes democráticos.