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A propósito deste meu post, onde me insurgi ao saber, pelo João Gonçalves, que a Biblioteca Municipal de Faro bloqueia o acesso a determinados blogues, Adriana Freire Nogueira teve a atenção de esclarecer que, nos sítios públicos, está instalado um filtro que barra o acesso mal detecta conteúdos «associados a pornografia»: ao encontrar algumas palavras consideradas obscenas, bloqueia. Isto chega ao caricato: sei de um caso de um colega de Latim que, ao colocar no blogue que criara para a sua disciplina um texto em que entrava o verbo latino puto, putas, putare, putaui, putatum (que significa «julgar, considerar»), foi bloqueado. O mal não está, como presumi, na Directora da Biblioteca António Ramos Rosa. Está no excesso de zelo de uma Administração despersonalizada que, por preguiça, deixa andar e pouco faz para separar o trigo do joio. Mais filtro, menos filtro, ninguém se incomoda. Mas não é verdade: há quem se incomode.
Terminou hoje a Festa do Avante. No comício de encerramento, Jerónimo de Sousa, disse o que lhe compete dizer: atacou as «políticas de direita» do governo, mas – escrevem os jornais – centrou parte da sua intervenção no aumento da criminalidade violenta, à qual o governo deu uma resposta «fraca». Aliás, Jerónimo de Sousa parece ter moldado esta parte do discurso pelo que, à hora do almoço, ouviu a Manuela Ferreira Leite, no encerramento da Universidade de Verão. A dirigente social-democrata também centrou o seu discurso na «insegurança»: não se sente que os criminosos sejam perseguidos e punidos, disse. O líder comunista copiou a frase ao dizer que se gerou um sentimento de que os criminosos ficam impunes e que o Estado está vulnerável ao crime. Ambos cederam ao efeito fácil: «isto» da segurança deve «render», falemos então no assunto. Para a rentrée se completar falta ainda ouvir as sábias palavras de Francisco Louça. De Paulo Portas já não se espera nada de relevante. No fundo, os discursos de Jerónimo de Sousa e de Manuela Ferreira Leite foram uma prenda de aniversário a José Sócrates.
Sobre as eleições em Angola, pelo que tenho lido, há três leituras: a primeira, diz que se trata de uma farsa montada pelo partido no poder para enganar incautos, comparando-as com as eleições marcelistas; ao contrário, a segunda, diz que se trata de um acto eleitoral legal e democrático, que em nada fica a dever aos processos eleitorais realizados em qualquer país europeu; entalada entre estas duas leituras, a terceira, diz que se trata de um processo eleitoral imperfeito, em que o partido no poder domina todos os canais de «mediação» com os eleitores e distribui emprego e benesses, mas é um passo no caminho da democracia. Apesar de cada uma destas leituras poder estar directamente relacionada com «exportações» e «importações», há quem, se tivesse vergonha na cara, nunca mais deveria escrever uma linha que fosse sobre Alberto João Jardim e a Madeira.
Um estudo demasiado conveniente, de Pedro Sales (Zero de Conduta).
«Num país pequeno como Portugal, onde as pessoas se cruzam e tornam a cruzar, a integridade intelectual e profissional desliza inevitavelmente para um "pessoalismo", que deforma o juízo mais claro e a vontade mais firme. As coisas não são o que são; são o que se vê pela simpatia ou pelo ódio, pela hostilidade ou pela tolerância.»
Vasco Pulido Valente, Público, 07.09.08.