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Pensei na iminência de um golpe de Estado, mas não dei conta de sinais visíveis de descontentamento entre os militares; pensei na dissolução da Assembleia da República – já há precedentes de dissoluções com maiorias absolutas –, mas não dei conta de «nervosismo» nos membros do Governo; pensei, finalmente, que se tratava do anúncio da descoberta de petróleo no Beato e que, num golpe de asa, a «crise» passava à história. Não me ocorreu o pequeno sismo nos Açores, até porque os açorianos estão habituados a terramotos a sério e a outras inclemências da natureza.
«Um país adiado» do Pedro Correia (Corta-fitas).
Restaurante Gigi, Quinta do Lago. Julho de 2008. (Foto LB)
O Movimento Mérito e Sociedade está a entrar pelo lado mais fácil para marcar pontos: «O Movimento Mérito e Sociedade propõe a aplicação da taxa "Robin dos Bosques" à classe política, defendendo a retirada dos subsídios e compensações aos ex-deputados e dirigentes de empresas públicas com menos de 65 anos.» No entanto, como novo partido, para se afirmar, não é exigível que entre pelo lado mais difícil: qual a receita que propõe para governar.
Meu caro Paulo Gorjão: recuso-me a aceitar o raciocínio, segundo o qual se tivesse sido vertido no DL 19/2008 o «pensamento» anti-corrupção de João Cravinho, hoje haveria menos corrupção em Portugal. Em consequência, como não foi vertido na lei tal «pensamento», a corrupção, sobretudo a grande corrupção, está a aumentar. Mas quanto a factos que sustentem a «tese», nada. Foi, em primeiro lugar, isto que eu sublinhei. E, este tema, dá pano para mangas. De resto, recuso aceitar «messianismos» e «nossas senhoras de Fátima» anti-corrupção. E, muito menos, o primarismo subjacente, segundo o qual quem está contra a «nossa senhora de Fátima», está a facilitar a corrupção. Logo, o PS está a facilitar a corrupção. No fundo, é este o efeito político das declarações de João Cravinho, seja ou não esse efeito pretendido pelo autor. Aliás, como mero exemplo, Henrique Raposo (Atlântico), para citar um exemplo, escreve de imediato: «Cravinho lança uma bomba sobre a corrupção». Que bomba? Finalmente, compreendo – e foi por isso que fiz a referência a «manter-se vivo politicamente» – que João Cravinho, independentemente da realidade objectiva, e das suas sólidas convicções, que não estão em causa, precise de «ditar para a acta» que não trocou o lugar que ocupa pelo silêncio. E, isso, fica-lhe bem.
Para o Mário Rui, o Largo do Rato é a sua aldeia, por isso, não quer lá o moderníssimo mausoléu:
«O Largo do Rato nunca foi bonito, mas era mais bonito quando tinha o Tasco, muitos eléctricos, a bomba de gasolina, quando o 18 era uma grande e luminosa taberna com memória de fado. No Rato, as risonhas e sevilhanas góticas do Frágil esperavam por um autocarro de dois andares, madrugada. Muito usada foi, a balança dos Correios, para pesar erva. A loja do sr. Serafim era um pavor de flanelas, a do sr. Farinha era pior. A Fernandes era melhor do que é hoje. Logo ao início de cada uma das suas ruas, tantas coisas boas. A Dione, a Brumel. A charcutaria Brasil. Os livros da Vampiro no alfarrabista, antes do talho de carne de cavalo. As motas, que vinham de todos os lados para a Alsaciana. E a Associação Escolar de São Mamede, onde estive da infantil até à 4ª classe sem que alguém me aborrecesse com religiosidades ou parvoíces do regime (passava-se, sem dizer ai, à frente dos textos de louvor aos almirantes). A coisa lá era muita leitura, interpretação, gramática, redacção ("o coelho é um mamífero que, depois de morto, dá uma carne saborosíssima"), reguadas, matemática, história e geografia. E beijos das professoras e da dona Patrocínio. Quando antevejo o moderníssimo mausoléu, mas tão moderno, mas mesmo tão moderno, oh yeah, que vai limpar aquela minha velha mancha roxo-velho, onde depois houve bailes étnicos aos fins-de-semana, lembro as batas brancas e os maternais nomes de Helena, Isabel, Eugénia. E o Rui Manuel, o Seixas, o Elias, o Baeta, o Manuel Augusto, o António Ribeiro, o Lampreia, o Marino, uns amigos, outros "inimigos", todos amigos no tempo.»
«A felicidade vem em pitadas. Precisei de umas boas mãos cheias de anos até o descobrir. Depois, é preciso ter paladar — é aqui que tanta e tanta gente falha, na incapacidade de reconhecer e distinguir os sabores da vida.»
Paulo Querido (Mas certamente que sim!)
João Cravinho não é tido por um leviano, apesar de ter trocado o cargo de deputado (onde podia travar a batalha contra a corrupção) por um lugar na direcção do Banco Europeu para a Reconstrução e Desenvolvimento. Hoje, numa entrevista ao Público e Rádio Renascença, Cravinho informou-nos que a «grande corrupção» está a aumentar. Espero que tenha dados concretos que sustentem as suas declarações e que os comunique ao Ministério Público. Se são só palpites, intuições ou por «ouvir dizer» retira-lhe credibilidade. Há outras maneiras de se manter «vivo» politicamente.
Os nossos cronistas do quotidiano vaticinam as mais catastróficas consequências políticas à atitude deliberadamente distante de Manuela Ferreira Leite. Mesmo admitindo que têm razão, o que está por provar, agrada-me o estilo pedagogicamente discreto: marca a diferença dos que só «fazem» política para o «telejornal das 8 horas». Não estou de acordo com o conteúdo das intervenções, mas aplaudo o estilo, sobretudo numa época em que não há cão nem gato que não se ponha em bicos de pé para a fotografia. Espero que fique como exemplo.
O Jumento – um dos mais activos blogues portugueses – foi alvo de denúncias quanto ao seu conteúdo junto da Blogger. O seu autor não tem dúvidas quanto aos denunciantes:
«Não fiquei nada surpreendido com a censura a'O Jumento, estava à espera, não estranhei o facto de os sacanas fascistas que se dizem de esquerda terem deixado de encher a caixa de comentários. Durante meses O Jumento teve os seus comentadores que diariamente cumpriam as suas obrigações de militância tentando denegrir o seu autor, multiplicavam-se os comentários rascas, o comentários duplicados e outras tentativas de acabar com o debate na caixa de comentários.
Depois dos mails com ameaças e ofensas e dos comentários rasca e como nada conseguiram desapareceram misteriosamente, fiquei à espera da nova estratégia destes sacanas e era de esperar este golpe. Por isso ontem voltaram à caixa de comentários para comentar os estragos.
Enganaram-se, O Jumento foi e vai continuar a ser mais fortes do que eles denunciando-os por aquilo que são, fascistas. Como todos os fascistas são cobardes, receiam o debate e tentam calar os adversários, dizer que são de esquerda é ofender todos os que são de esquerda.»
«Camaradas: a tarefa prioritária e permanente para as forças progressistas, e em primeiro lugar para os comunistas, é fazer frente, em todo o mundo, com firmeza e lucidez, à ameaça que representa para a humanidade a estratégia neo-fascista de um sistema de poder que aspira a militarizar a Terra. O processo de militarização e fascização da sociedade norte-americana prossegue. E essa realidade não pode ser ignorada.»
Intervenção de Miguel Urbano Rodrigues no Fórum Unidade dos Comunistas, em Florianopolis, a 19 de Julho de 2008.
«A previsão mais fácil de fazer» – escreve o Pedro Correia. Estou de acordo. Mas, afinal, a quem é que o Zé faz falta?
Dizem os críticos literários que João Ubaldo Ribeiro sintetiza o melhor de Graciliano Ramos e de Guimarães Rosa, o que é um elogio do tamanho do oceano Atlântico. A sua obra literária estende-se pelo romance, conto, ensaio, crónica e a literatura infanto-juvenil. Atribuiram-lhe o Prémio Camões. É merecido. Em A casa dos Budas Ditosos, onde é frontal, luxuriante, provocador, irónico e belo, arruma de vez com o puritanismo pequeno-burguês. Transcrevo um minúsculo naco:
«Nenhuma mulher gosta do pau mole; exceptuadas dimensões aberrantes e as outras variáveis sendo equivalentes, o pau maior e vistoso é preferido. Evidente que o principal, principalíssimo, é quem é o proprietário do pau. Mas aí, se é pequeno, a mulher apenas deixa para lá, embora preferisse que fosse maiorzinho; é mais satisfatório, por alguma, ou várias, razões. Esta é que é a realidade, o resto, repito é onda e pensamento voluntarista. E nenhuma mulher sadia tem nojo do esperma, outra coisa que precisa bem esclarecida. Eu li não sei onde que alguns muçulmanos consideram ofensa suprema a mulher cuspir fora o esperma derramado em sua boca por seu homem. Eu concordo, é uma selvajaria, um sinal de baixa extracção, falta de formação, de classe, de cultura, de sofisticação. Cuspir o esperma só é admissível ou quando se quiser insultar um homem ou quando se quiser pô-lo em seu lugar: você pode ser bom para eu me distrair chupando seu pau, mas não é bom suficiente para eu engolir sua seiva, me recuso a devorá-lo, não dou às suas células essa intimidade com as minhas. Eu sou maluca.»
Há quem viva – escreve Truman Capote – de «esfolar mulheres de todas as idades e apetites – vaginas ricas com maridos que se estão nas tintas para quem as come desde que não tenham de ser eles próprios». Mas, atenção – adverte o autor –, isto «é mais duro do que vinte pretos a trabalhar durante um mês numa penitenciária.» Obviamente, fico com pena de Aces Nelson.