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É preciso avisar o pessoal do costume, sobretudo os pensam que só em Portugal é que os aficionados saem à rua embrulhados em bandeiras nacionais e buzinando alarvemente, que o centro de Madrid paralisou após o jogo que deu a Espanha o título de campeão europeu de futebol. Em todas as cidades, das Astúrias à Catalunha, da Andaluzia à Galiza a fiesta foi de arromba. Pela parte que me coube, não quis perder a festa. Com amigos, fui jantar a Ayamonte. Ali, nas margens do Guadiana, mal o árbitro soprou o apito final, o silêncio explodiu e a turba tomou conta da cidade. À laia de desabafo acrescento que a Espanha ganhou à Alemanha por duas razões: a primeira, porque jogou com um guarda-redes na baliza e Portugal jogou com Ricardo; a segunda, porque no banco a Espanha não tinha Scolari.
Anteontem, em Portimão, durante um jantar do PS-Algarve, com a presença de José Sócrates na qualidade de secretário-geral do PS, alguém disparou sete tiros sobre o pavilhão onde se realizava o jantar. O primeiro-ministro já não se encontrava no local, mas isso não diminui a gravidade do acontecimento. Pelos indícios recolhidos (momento escolhido, distância dos disparos, etc.) a Polícia Judiciária concluiu, para já, que se tratou de um acto premeditado com a intenção de intimidar. Há poucos meses, um bando de energúmenos anónimos tentou impedir uma reunião do PS, no Largo do Rato, como em outras ocasiões se tem assistido à utilização da arruaça e da intimidação como prática política. É necessário encontrar o autor dos disparos para se avaliar até que ponto, em Portugal, alguém acha que chegou o momento de seguir o caminho das FARC.
As duas primeiras notícias do Púbico online, neste momento, são as declarações de Jerónimo de Sousa sobre o projecto do Código do Trabalho, em Portugal, e as declarações de Mugabe sobre a sua vitória «eleitoral», no Zimbabwe. Sabendo que o dirigente comunista é um amigo político – envergonhado, mas amigo – do ditador Mugabe, relacionar as declarações de um e outro confere-lhes um irónico enquadramento.
O Avante de ontem, pela pena de Anabela Fino, queixa-se amargamente da «manipulação histórica» do Ministério da Educação. Então não é que na Prova de História A, do 12º ano, «os infantes eram solicitados a identificar, a partir de textos escolhidos a preceito, «três das práticas políticas do estalinismo», podendo para o efeito escolher entre «controlo do aparelho partidário», «campanhas de depuração/purgas», «trabalhos forçados», «repressão policial» e «deportações». Afinal de que se queixa o Avante? A resposta era demasiado fácil: qualquer que fosse a escolha feita pelos alunos, acertavam sempre. Será que o Avante teme que os jovens pioneiros errem a resposta a este tipo de perguntas porque lhes contaram que o estalinismo foi a «democracia mais avançada do mundo»? «Isto» está pior que no tempo do fascismo: «é que nem o fascismo se atreveu a ir tão longe na manipulação da História como o faz este Governo dito socialista». É lindo! Que saudades que os comunistas têm desse tempo. Até Anabela Fino ainda sabe o hino da Mocidade Portuguesa de cor.
Nuno Ramos de Almeida descreve uma pequena história dramática. Romanceada, mas vulgar. Implacável, mas coisa do dia a dia. Há quem defenda que a morte do mercado do arrendamento para habitação, em Portugal, foi obra da «primeira República». Outros dizem que se deve ao congelamento das rendas imposto pelo «Estado Novo». Seja como for, fazer de todos os portugueses proprietários da sua habitação é uma teia em que quase todos se enleiam. Pelo menos, há 30 anos. Em muitos casos, um conto de fadas feito prisão. Do emprego e do desemprego. Do medo e do silêncio. Em vez de «o trabalho liberta», pode-se inscrever a «propriedade liberta».
O Eurobarómetro da Primavera, divulgado pela Comissão Europeia, revela que os portugueses são os cidadãos europeus mais pessimistas quanto ao futuro. Só 15% acreditam que a sua vida vai melhorar nos próximos 12 meses, quando a média europeia se situou nos 32% de optimistas. Mais significativo, ainda, é o facto de há 6 meses, no mesmo inquérito, no Outono de 2007, 35% mostravam confiança na melhoria da sua vida nos próximos 12 meses. Ou seja, decorridos 6 meses, operou-se uma queda abrupta das expectativas. O que está por saber é até que ponto a frustração e o descontentamento aqui revelados se traduzem nas próximas eleições, sobretudo nas legislativas. Pelo andar da carruagem, não há ventos de mudança porque o quadro partidário está imóvel. Todos conhecem do que é capaz Manuela Ferreira Leite, Paulo Portas, Jerónimo de Sousa e Francisco Louça. Aliás, a própria oposição (as oposições, à direita e à «esquerda») sabe isso, contentando-se em retirar a maioria absoluta ao PS. O que não é nenhuma vitória. É, apenas, uma consequência natural.
O direito ao anonimato, José Vítor Malheiros, Público, 22.06.2008 (sublinhados meus).
«Houve uma altura em que se falava do anonimato da grande cidade, das pessoas perdidas no meio das multidões urbanas. (…) Mas passar despercebido no meio da multidão foi uma expectativa que a tecnologia dos últimos anos frustrou de forma radical.
Na era electrónica pós-11 de Setembro, a multiplicação dos sistemas de vigilância, dos controlos de identidade, dos cruzamentos de documentos tornaram o anonimato impossível. Quase tudo o que fazemos está registado. Quantas câmaras de videovigilância filmam os nossos gestos?
Há sistemas electrónicos a controlar as transacções comerciais, a informação clínica, os transportes, as telecomunicações, a água, o gás e electricidade. O nosso carro e o nosso telemóvel têm dispositivos de localização que permitem saber por onde andamos – e há poucas coisas mais pessoais que um carro ou um telemóvel. (…)
A maior parte das pessoas não se sente ameaçada por esse controlo – porque confia nos sistemas sociais que o enquadram. Outros dizem que não se importam de ser vigiados porque não têm nada a esconder. Mas todos temos. E temos o direito de esconder. Uma sociedade que se arroga o direito de tudo espreitar é uma sociedade totalitária. A possibilidade de anonimato é condição de liberdade. Não é por acaso que as democracias defendem o voto secreto.
Paradoxalmente ou não, o anonimato floresceu na Internet, último espaço onde se pode ser outro e explodir em heterónimos nas redes sociais que são os novos espaços de convívio global. O infeliz caso de Megan Meier e o julgamento de Lori Drew [Uma americana de 49 anos vai ser julgada no próximo mês, acusada de criar uma identidade falsa na Internet, fazendo-se passar por um rapaz de 16 anos. O caso seria banal, não fosse o facto de ter terminado com o suicídio de uma adolescente com quem o "rapaz" se relacionara on-line] arrisca--se a resultar numa redução dessa liberdade. Descobrimos que dar um nome falso ou mentir sobre a idade na Internet pode ser crime.
Os riscos destas imposturas – nomeadamente para os jovens – são reais, mas eles podem ser usados para pôr em causa aquilo que é hoje uma das últimas reservas da liberdade individual.»
Cumpri hoje um ritual de muitos anos. Saí de casa, a pé, pela noite morna, e fui até à Bica. Abanquei no Beco dos Arciprestes, como em todos os outros anos. Salvou-se o caldo-verde, já que é muito raro encontrar sardinhas tão más. A sangria, essa, não era mais do que uma mixórdia inqualificável. Mas, sabia ao que ia. É esta cidade genuína que me dá prazer. É esta liberdade de escolha que nenhuma polícia me pode tirar.
Alberto Barrera Tyszka, colunista do diário venezuelano El Nacional, escreve sobre futebol, a propósito da Copa América:
«Talvez, no fundo, o futebol nos devolva a experiência de uma vida sem política. Poder assistir a um espectáculo nacional sem contaminação ideológica, sem sentir o peso das grandes verdades patrióticas, das irrenunciáveis urgências históricas, sem a exigente obrigação de combater ou defender a revolução. Talvez o futebol nos faça lembrar que, provavelmente, necessitamos de mais prazer e menos Simón Bolívar».
Amanhã – dizem as estatísticas – a Espanha vai perder com a Itália. Até agora, os segundos classificados de cada grupo passaram à fase seguinte. Sem Portugal na competição, eu sou turco. Tal como Bagão Félix que, em artigo no Público, secundando Jerónimo de Sousa e Francisco Louçã, anunciou que era irlandês.
João Pinto Castro, sempre atento, fala de coisas que não se fala.
Esta noite sonhei que Scolari, como castigo, ia treinar o Chelsea. E sorri, mesmo a dormir. A presunção do russo, depois de despedir o treinador que levou pela primeira vez o Chelsea a uma final dos campeões europeus, merece também o castigo de ter Scolari como treinador. No Natal já estão, um e outro, a tirar a faca da liga.
Os turcos também castigaram a República Checa e a Croácia, usando apenas a «vontade de vencer», coisa que os portugueses desconhecem, tanto no futebol, como no resto. Gostamos mais de mini-saia e saltos altos. Nenhuma vedeta veste fato-macaco. E cada português é uma vedeta, ao ponto de exigir à empregada doméstica que o trate por «doutor».
Por falar em castigos, e sem querer sair do tema futebol, o ex-presidente do Sporting está a ser castigado em Guimarães. Manuela Ferreira Leite está a tirar o PSD do poço.
O Francisco, com a lucidez que o acompanha, no seu cantinho do hooligan, após o jogo com a Suiça, escreveu há dias que não atirava a primeira pedra. Ele sabia que, ao não a atirar, já a tinha atirado. Com este resultado, e com este jogo, onde estiveram a jogar por Portugal muitos dos jogadores mais bem pagos do mundo, só resta a satisfação de saber que Scolari segue daqui directamente para o Chelsea. Nós agradecemos. Ferguson, também.
Amanhã, dia 19 de Junho, no Jardim do Príncipe Real, às 18 horas, junto ao quiosque do Oliveira (uma pequena instituição de Lisboa) juntam-se os amigos e conhecidos do Vítor Wengorovius para trocar impressões sobre a sua a vida vísivel.
Caminhos da memória - um antídoto contra o esquecimento.