Extracto de
Hábitos velhos e relhos, de
José Pacheco Pereira, Público de 31.03.2007 (Sublinhados meus).
«Dêem-lhes um político severo, austero, sacrificado, falando contra a política e os políticos e esse político será popular entre as mesas de café, as cartas dos reformados ao Correio da Manhã contra os "ladrões", os ouvintes genuínos do Fórum da TSF, e as mil e uma expressões populares da demagogia entre "nós" (os trabalhadores esforçados que nunca meteram uma baixa fraudulenta, nunca beneficiaram duma cunha, nunca quiseram fazer uma marquise, nunca receberam qualquer dinheiro sem pagar factura por aqueles trabalhos na canalização, etc., etc.) e "eles" (os ladrões dos políticos). Não surpreende, por isso, que o espectáculo, qualquer que ele seja, seja o Big Brother ou Os Grandes Portugueses, atice os componentes demagógicos que existem um pouco por todo o lado, como forma dominante da iliteracia em política.»
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- Viste o cartaz xenófobo que o PNR colocou no Marquês?
- No Marquês? Não. Vi na capa do DN.
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Deutsches Historisches Museum de Berlim, até finais de Abril, mostra a exposição a «Arte e a propaganda” (Ver a 6ª, do DN). Mas não só nas artes plásticas a arte esteve ao serviço da propaganda política, sobretudo nos regimes totalitários. Também na literatura, na poesia, do designe e por aí fora. Também em Portugal durante o Estado Novo. E quem não conhece as história do poeta cubano Herberto Padilla? Hubert Lanzinger e Viktor I. Goworkow são os pintores acima reproduzidos a par do cartaz da exposição, a qual demonstra que a arte tanto serve para "fazer", como para "desfazer" o servilismo da arte à propaganda política.
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Mantenho desde há algum tempo uma cordial troca de «galhardetes» com
Vítor Dias (O tempo das cerejas). Umas vezes é sobre o papel das manifestações nos regimes democráticos; outras, sobre o significado da "vitória" de Oliveira Salazar num recente concurso de "misses"( sem ofensa...), no qual Álvaro Cunhal foi a primeira dama de honor. Nestas conversas, naturalmente, vem sempre à baila aquilo que é decisivamente importante: democracia versus ditadura. E, como não podia deixar de ser, foge-me sempre a argumentação para a natureza do regime da ex-União Soviética, o qual Vítor Dias sempre defendeu com unhas e dentes. Desta vez, o meu interlocutor (para além de me atribuir um defeito que, sinceramente, julgo não ter:
espírito superior), garantiu-me que: «
se por acaso ele (Tomás Vasques) fosse do PS, a mim jamais me passaria pela cabeça responsabilizá-lo a ele ou ao PS português pelos crimes das guerras coloniais da Argélia e da Indochina onde o PS francês tanto sujou as mãos de sangue.» Meu caro Vítor: primeiro, eu sou militante do PS; segundo (e aqui reside toda a diferença): ninguém me pode responsabilizar por crimes cometidos por partidos socialistas de outros países porque eu condeno em tempo oportuno tais crimes, da mesma forma que crítico actuações erradas (na minha perpectiva) do PS português, quer enquanto governo, quer enquanto oposição. Ora, quem defendeu a URSS como o «sol da terra» não pode agora sacudir a água do capote; não se pode deixar de assacar responsabilidades por tal defesa. É, sublinho, aqui que reside a diferença que me parece tão elementar com a respiração.
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Extracto de As botas de Salazar, de Jorge Almeida Fernandes, Público, 30.03.2007.
«O episódio da "vitória" de Salazar no concurso da RTP confronta a esquerda com a sua histórica dificuldade em pensar o salazarismo. (...) Falo da esquerda e daquela tradição, de matriz comunista ou republicana, que nos "treinou" a pensar o salazarismo não só como regime liberticida mas também, e talvez sobretudo, como autor de todas as pragas históricas e sociais - atraso, pobreza, analfabetismo -, por definição incapaz de mudança e produtor de um país fechado, rural, antimoderno. O retrato político de Salazar oscila entre a hagiografia dos fiéis e os estereótipos da oposição, a quem nunca interessou conhecer o inimigo - era tranquilizador vê-lo como medíocre -, o que lhe custou caro. (...) Uma anedota ilustra a dificuldade de pensar a relação entre regime e mudança. Num manifesto de Janeiro de 1959, "Aos Portugueses", que até era inovador em alguns aspectos, a oposição do Norte, de republicanos a filocomunistas, pedia desenvolvimento mas denunciava o II Plano de Fomento e "excentricidades como a da Ponte sobre o Tejo", exigindo a suspensão das "obras de fachada".Ao longo dos anos 1960, esta representação entra em crise. Portugal conheceu nessa época as maiores taxas de crescimento da sua História. Nascia uma nova classe operária e cresciam os serviços, irrompiam novos temas e formas de luta. Os costumes mudavam aceleradamente. O país rural esvaziava-se. (...)Nos anos 1930, Salazar manipulou e ampliou o papel de um PC débil e quase inerte. O PC servia-se desta propaganda gratuita para mascarar a sua impotência. Salazar escolheu o "papão" comunista não pelo seu potencial de ameaça interna, que era nulo, mas em nome do anticomunismo e do inimigo soviético, que eram reais e pagavam dividendos políticos. Quase até ao fim, o regime tentou apresentar toda a oposição como manipulada pelo PCP. Hoje, é o PCP que devolve o favor, restaurando "objectivamente" a figura de Salazar. A demonização redunda em propaganda do objecto diabolizado.»
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(
VALERY KOSORUKOV , Oil on Canvas, 24" x 30")
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- Sabes que o Salazar ganhou um prémio?
- Quem? O Abel?
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Passou ontem à noite, depois do telejornal, na RTP, o primeiro de sete documentários que constituem
Portugal, um retrato social, um estudo de António Barreto, realizado por Joana Pontes. As conclusões advinham-se à primeira: os portugueses vivem hoje, em todos os domínios, muito melhor do que há trinta, quarenta ou cinquenta.
E têm consciência dessa realidade. Ainda há trinta e poucos anos uma mulher contou que foi transportada de carroça na altura do parto. Estava a duas horas da assistência mais próxima. A criança nasceu no caminho e morreu antes de chegar ao destino. Um taxista, à conversa com António Barreto, resume a evolução (cito de memória): «Quando saía com o meu pai ia descalço. Os meus filhos são licenciados. Os meus netos calçam Nike e andam sempre de iPod pendurado nas orelhas» Não há «neo-salazarismo», nem »neo-realismo» que resistam.
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No rescaldo da «negra noite salazarista», no último Domingo, uma das frases mais apologéticas do papel de Oliveira Salazar na nossa história recente veio inesperadamente da esquerda pela boca de
Vítor Ramalho. Atente-se: «
Isto não é apenas um concurso nem deve ser desdramatizado. Pelo contrário, é um grito de protesto, de revolta. O povo português sente que a nossa grandeza de alma se tornou pequenina. Não temos conseguido forjar um projecto galvanizador de afirmação externa de Portugal.»
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Já alguma vez vos tocaram numa
ferida? Obviamente, reagem
assim!
(* Naturalmente, aqui trata-se de ideias. Nada tenho contra Vítor Dias. Senão, diria que chapéus há muitos).
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Depois da capa do Público (com a mesma fotografia de
El Mundo) fiquei a saber que, depois de
Figo,
Cristiano Ronaldo,
Durão Barroso e os
rapazes do Rugby que defrontaram os uruguaios no campo e numa discoteca, temos agora
Michelle de Brito, a nova Sharapova. Não é coisa pouca para um país de fado e vil tristeza. Que Deus nos conserve para dar «novos mundos ao mundo». Não há Salazar que nos mantenha «orgulhosamente sós»
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X Jornadas de Comunicação Social na Universidade do Minho, dias 27 e 28 de Março.
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