De Teerão a Santiago.
Estas coisas estão todas ligadas. Para mal dos nossos pecados, obviamente. Sobretudo porque ao quererem moldar a história – os factos históricos passados – aos seus desejos ou objectivos presentes, deitam pela borda fora um capital precioso: as lições das experiências passadas. E, pior ainda, fazemos tábua rasa do sofrimento de milhões de pessoas que foram os infelizes protagonistas desses acontecimentos. E numa altura em que ainda há testemunhas vivas. Vem esta lenga-lenga a propósito da “conferência de historiadores e investigadores” de 30 países que hoje e amanhã se reúnem em Teerão para “decidirem” se o holocausto existiu.
O rumo da dita “conferência” está marcado a avaliar pelas declarações do único português presente: “Completamente irreal”, é como Flávio Gonçalves classifica a possibilidade da Alemanha nazi ter procedido ao extermínio de seis milhões de judeus durante a II Guerra Mundial. Este estudante de história garante não pertencer a qualquer partido, define-se politicamente como sindicalista-revolucionário e eco-anarquista e considera que o Holocausto é “o álibi perfeito” para o Estado de Israel: “qualquer coisa que Israel faça de mal, tem sempre a desculpa do Holocausto. Estão sempre a bater na mesma tecla”, afirmou ao Expresso antes de embarcar para Teerão o único participante luso na conferência ‘Revisão do Holocausto: uma Visão Global’.” (Expresso, Holocausto contestado, 8.12.06).
Em conclusão os senhores do Irão querem negar o Holocausto.
Mas vem esta lenga-lenga também a propósito da morte do ditador Augusto Pinochet. Uma direita que se pensa “moderna” também “decidiu” reabilitar o sanguinário ditador e corrupto chileno. Chamam “flagelações estatísticas” aos milhares de mortos, torturados e desaparecidos durante a ditadura, a qual denominam “regime autoritário que cometeu inúmeros atropelos, mas nunca degenerou numa solução totalitária.” À barbárie anti-constitucional de 11 de Setembro de 1973, designam por “golpe preventivo” e chegam ao desplante de escrever que “Pinochet elevou o Chile à categoria de economia avançada, com uma sociedade civil forte, interventora e responsável.”
Em conclusão a "direita moderna" quer negar a barbárie, da qual há muitas testemunhas vivas, incluindo a actual Presidente da República chilena.
Ideologicamente, são iguais: os “conferencistas de Teerão” que negam o Holocausto e a “direita moderna” que nega a barbárie da ditadura chilena. Mas o mais grave é que uns e outros têm consciência que estão a querer rever a história.
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Ironias.
A nossa "direita moderna" (tão "moderna" que se revê nos ditadores do século passado, quer tenham nascido em Santa Comba Dão ou em Valparaiso) não perde a oportunidade para tecer loas e branquear o ditador e corrupto mais sanguinário da América Latina, ontem falecido. Com este despudorado branqueamento ainda acabam, sem querer, por elevar Fidel Castro à categoria de Santo. A "direita moderna" tem todos os tiques dos comunistas: para ambos, os ditadores classificam-se em bons e maus.
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Leituras matinais.
«O relatório Baker-Hamilton veio afirmar o óbvio, que o próprio novo Secretário da Defesa norte-americano reconheceu: os EUA cometeram um erro estratégico de grande dimensão no Iraque e estão a perder a guerra. E aponta um conjunto de medidas para minimizar o desastre provocado no Iraque, na região e no mundo, especialmente se a situação descambar para o caos.» José Loureiro dos Santos, Público, 11.12.06.
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