Paninhos quentes?
Um anónimo escreveu num blogue provavelmente uns disparates sobre plágios, envolvendo Miguel Sousa Tavares. Este escreveu no Expresso uns disparates sobre os blogues e a blogosfera. Nada que me preocupe, à primeira vista, estão bem um para o outro.
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Memórias.
«Naquele Verão de 1958, e por hábito já arreigado, Oliveira Salazar encontra-se no Forte de Santo António do Estoril. (…) Portugal reconhece o novo governo do Iraque, saído de uma revolução sangrenta. (Tem importância este ponto. Lisboa desejava marcar vontade de boas relações com o Iraque, sem embargo da posição de ataque que este tomava contra Portugal na ONU. Razão fundamental: tinha origem nos petróleos do Iraque uma das principais fontes de rendimento da Fundação Caloustre Gulbenkian.) Franco Nogueira, "Salazar, 1958-1964". Sublinhado meu.)
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A Era do Vazio e o Aborto.
Li a recomendação da leitura da Era do Vazio, do filósofo francês Gilles Lipovetsky, aos partidários do sim no próximo referendo, feita por Jorge Ferreira e, sinceramente, fiquei banzado. Pela parte que me cabe li-o atentamente há 15 anos (como se pode ver pela imagem o meu exemplar, acima reproduzido, já resistiu a uma inundação ou a uma cerveja entornada) e numa altura em que ainda sublinhava os livros a caneta de feltro, escrevia notas à margem, e concordava com o autor com pontos de exclamação ou discordava com pontos de interrogação – um hábito que ainda transportava da adolescência. Tinha relido, num folhear ocioso, os sublinhados e as notas à margem duas ou três vezes durante os últimos quinze anos, como o tinha feito a outras obras do autor, nomeadamente o Império do Efémero. Mas, quando li a recomendação do Jorge Ferreira, interroguei-me: o que me terá escapado na leitura da Era do Vazio (e de Gilles Lipovetsky, em geral) que permite a sua recomendação aos partidários do sim no próximo referendo? Longe de casa, num hotel em Londres, com um teclado sem acentos adequados, e sem uma releitura do livro, contive uma reacção à flor da pele. Em primeiro lugar é necessário dizer que os textos reunidos no referido livro foram publicados em revistas entre os anos de 1979 e 1982, ou seja, há 25 anos. O próprio autor já disse, numa entrevista: “… tudo isto faz com que rejeite o conceito de pós-moderno. Esse conceito tinha um sentido cultural e não estrutural”. Mas passemos à frente. Em breves palavra, sintetizo: todo a obra (o pensamento) de Gilles Lipovetsky passa pela demonstração de que o tempo individual venceu o tempo colectivo, o que equivale a dizer que em termos político-ideógicos a democracia ocidental venceu a revolução marxista: “doravante o que se quer é viver já, aqui e agora, ser-se jovem em vez de forjar o homem novo” – escreve Gilles Lipovetsky na obra citada. A "luta de classes" cedeu o lugar "à busca da qualidade de vida, paixão da personalidade, sensibilidade extrema..." E o tempo individual, entre centenas de outras coisas e de outros comportamentos, desde a moda à arte, comporta o “dispor do corpo”. E Lipovetsky concretiza na obra citada, página 29: “No entanto, algo de mais fundamental se encontra em jogo: assim, através do combate pelo aborto livre e gratuito, é o direito à autonomia e à responsabilidade em matéria de procriação que se visa; trata-se de retirar a mulher do seu estatuto de passividade e de resignação relativamente ao carácter aleatório da procriação. Dispor de si, escolher, deixar para trás a máquina reprodutora e o destino biológico e social” (Sublinhado meu). Será que Jorge Ferreira não entendeu que a Era do Vazio corresponde à era do individuo por oposição à Era do Destino Marcado ocupada pelo pensamento marxista? Que a Era do Vazio é, para o autor, uma coisa boa e não uma coisa má. É caso para dizer: recomenda-se a leitura da Era do Vazio, de Gilles Lipovetsky, aos partidários do não no próximo referendo. Têm muito a apreender com a leitura deste livro e dos demais do autor.
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Pequenos prazeres (2).
A posição de Daniel Ortega e de Rafael Correa, candidatos de esquerda às eleições presidenciais na Nicarágua e no Equador, contra qualquer permissão legal do aborto nos seus países, significa apenas que o mundo não pode ser retratado a preto e branco, como é norma entre os fundamentalistas.
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A frase da semana ou melhor era impossível:
«Enquanto que o Brasil progride com Lula, Portugal retrocede décadas com Sócrates. A única coisa que continua em alta em Portugal é mesmo a corrupção.» (Comentário do autor de Rosas do Luxemburgo a um post de Puxa Palavra.)
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